MACÁRIO E O ENCONTRO COM SATÃ

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Estudos Literários

 

Álvares de Azevedo (1831 – 1852) fazia parte de um grupo de poetas aparentados por traços de individualismo, na melancolia, no desespero, no "mal do século", no delírio desesperante, nas exacerbações do sentimento e da paixão. Azevedo teve uma vida desenfreada e de orgias, incompreendido na sua morbidez e originalidade. Seus modelos literários foram Byron e Musset. Foi poeta de grande repercussão popular, precocemente amadurecido e morto prematuramente.

Macário, uma de suas obras em prosa, foi publicada postumamente no ano de 1885 em dois volumes. Quanto ao gênero, a classificação é uma indefinição reivindicada pelo próprio autor: "Quanto ao nome chamem-no drama, comédia, dialogismo; não importa. Não o fiz para o teatro; é um filho pálido dessas fantasias que se apoderam do crânio e inspiram [...]" (Álvares de Azevedo, p. 22). Argumentam os críticos que Macário tem a aparência de uma obra inacabada, comum aos textos irônicos e que é uma obra feita mais para a leitura do que para a representação.

Não é tarefa árdua reconhecer na obra do estudante paulista um aplicado aluno da "escola byroniana" e as influências deixadas pela leitura das novelas mórbidas do século XIX.

A narrativa estrutura-se em dois episódios, divididos em sete capítulos. No primeiro episódio Macário entra numa estalagem para passar a noite e começa a conversar com um estranho que se revela, mais tarde, ser Satã. Macário não se espanta, pois há dez anos procura por Satã e afirma que "a melhor desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles". Com ele mantêm uma longa conversa, a princípio, acerca da vida, da poesia (Macário critica a vulgaridade da poesia de sua época), da filosofia e do homem. Em seguida, é convidado a adormecer e iniciar uma viagem a uma cidade não totalmente identificada, mas que tem todas as referências de ser São Paulo (que Azevedo não perde oportunidade para criticar), carregada de névoas e sombras, devassa e povoada por prostitutas, onde Macário tem uma alucinação envolvendo sua mãe.

Macário adormece em cima de um túmulo em meio a um cemitério sombrio e gélido. A descrição de seu sonho é feita através de imagens terríveis, horripilantes, cheias de sangue e cadáveres, imagens heréticas e blasfemas. Na escuridão vê uma mulher muito pálida que abraçava e beijava cadáveres. Satã o acorda; Macário escuta gemidos. Satã explica que é sua mãe que agoniza. Irado e horrorizado Macário expulsa Satã e acorda acreditando que nada realmente aconteceu, que foi tudo um sonho, que nem mesmo conversou com alguém em sua chegada. Mas há indícios concretos de que tudo era verdade e enfim percebe que esteve na companhia do diabo, pois vê pegadas de pés de cabra queimadas no chão.

A ação desta primeira parte decorre toda à noite, salvo a breve cena final. É organizada em cinco cenas (embora o Autor só especifique quatro).

No segundo episódio o cenário é a Itália, num lugar ermo. Macário encontra uma mulher que embala o filho morto, além de encontrar um novo personagem: Penseroso. Macário fala da própria morte e Penseroso sobre o amor. Seu amigo Penseroso acaba matando-se por amor enquanto Macário está bêbado. Satã noticia o suicídio de Penseroso. A peça acaba com Macário sendo levado por Satã a uma orgia em um bar, algo remanescente de Noite na Taverna. ®Sérgio.

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Obras Consultadas: BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 3ªed., São Paulo, Cultrix. / VERÍSSIMO, José – História da Literatura Brasileira, Rio de Janeiro, Record, 1998. / BANDEIRA, Manuel – Seleta de Prosa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997.

Se você encontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me. Só enriquecerá o texto.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 24/07/2012
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