MOACIR DE ALMEIDA - apontamentos lítero-biográficos

Patrono da cadeira nº 40 da Academia Belo-Horizontina de Letras, segundo Júlio Pinto Gualberto em seu "O Gênio Poético de Moacir de Almeida", nasceu Moacir de Almeida no dia 22 de abril de 1902, tendo falecido em 30 de abril de 1925, muito jovem, como se pode notar. Gênio de qualidade singular teve pelo poeta parnasiano Alberto de Oliveira incluso um soneto seu em “Os cem melhores sonetos brasileiros”, tendo constada sua lira em muitas outras antologias. Louvado foi de Agripino Grieco à Catulo da Paixão Cearense, que lhe dedicou versos à beira do túmulo. Assim descreveu-o Agripino Grieco, que privou do contato íntimo com o poeta:

“Pensando em Moacir de Almeida, revejo-o qual tantos anos o vi, com seu ar de eterno convalescente. Talvez houvesse nêle certa inaptidão para a felicidade. Recitando, tinha a voz meio rouca, mas a beleza das cousas que ele celebrava conseguia embelezá-lo, e êle que era magro, comprido, deselegante, sem saúde, sem graça pessoal, sem eloqüência na conversação, transfigurava e prendia quem quer que o ouvisse. Sua face lanhada, torturada, de zigomas salientes, como que se iluminava à irradiação verbal de seu sonho. Ele que, palestrando, pouco entusiasmo patenteava pela vida e às vêzes confessava ter mêdo de tudo e ver tudo envolto na luz de um dia de eclipse, enriquecia-se, ao dizer versos, de mil tesouros ignorados.”

Diz Pádua de Almeida em Algumas Palavras da edição "Poesias Completas de Moacir de Almeida", sem data, editora Zélio Valverde, “Moacir está para a amplitude poética naquilo que Augusto dos Anjos está para a profundidade”. Eis os dois sonetos que selecionamos para o querido leitor, mostrando as nuances entre os dois universos em que poeta gravitava: a dor e o sonho.

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IX

ESTRÊLA PERDIDA

Em meu olhar, meu coração maldito

Olhava-a; muda e ardente, triste e ardente,

A estrêla de ouro, dolorosamente,

Estendia-me os braços do Infinito.

Mas o sol abatia-me o vôo no poente,

Eu – o amante da estrêla – ávido e aflito,

Erguia os olhos para o azul bendito,

Erguendo os braços para o azul fulgente.

Mas, ai! Nas sombras, a adorada estrêla

Perdeu-se... E nunca mais tornei a vê-la

No coração da noite, a lampejar.

Hoje, torno a encontrá-la – quem diria! –

A iluminar minha aflição doentia

Dentro da noite azul do teu olhar...

In Soluços do Deserto

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XVIII

NÔMADE

Triste e exhausto, arrastei-me por sombrias

Terras de angústia, aos astros a às tormentas,

Tendo nos olhos as visões violentas

De crucificações e de agonias.

Vales da morte, solidões nevoentas

Do tédio, abismos de paixões doentias,

Enchi de sangue; e fiz, das pedras frias,

Britar estrêlas em caudais sangrentas...

Nômade das paixões desesperadas,

Enchi de sonho todas as estradas

E o amor que todos têm – visão serena,

Que a vida de outros faz florir em chama, –

Só pude ouví-lo em bocas de gangrena,

Só pude tê-lo em corações de lama...

In Gritos Bárbaros

Organizado por Vitor Silva