Escrever Como Conceito de Arte

O conceito artístico permeia a vida de uma forma generalizada. A arte está presente nos mínimos detalhes da vida àquele bom observador. Extrair das vinte e quatro horas de um dia um cabedal artístico realmente valoroso exige dedicação, mas é uma dedicação fácil de ser exercida. A arte já é presente na vida. Excluindo-se a forma têm-se a arte. Artista é aquele que, abstraindo-se do usual, deixa fluir o que ele chamaria de arte, posto que agrade ao ouvinte, ao apreciador visual e ao passante de forma única; então é arte. Começamos com o esforço mínimo, mas à mão, o que predispunha nossa ancestralidade; nunca deixaram nem deixarão de ser consideradas arte as pinturas, escritas e manifestações simbólicas que enfeitavam as cavernas. O deleite de antes e o de agora não difere em muita coisa, o que prova que a arte advém ao espírito; os meios podem ser variantes, porém as manifestações só variam dentro da profundidade de cada apreciador. A mesma arte que me encanta pode por ti passar sem que te toque o coração ou a alma.

Partindo deste ponto de vista conceitual, qualquer um já possui, em potencialidade, o dom artístico. Se a arte está presente, está dentro de mim e eu dentro dela. Vou, a partir de hoje, moldá-la ao meu estilo, para que minhas ações, minhas palavras e minha visão de vida se tornem belas. Se eu encontrar um padrão de beleza em que me apoie e com ele criar algo como meio de vida e passar, assim, a viver na sua dependência material, corro o risco de anuviá-lo com minhas intenções impuras. Isto acontece em todos os campos artísticos. Ganhar dinheiro com a arte é muito válido e chega a ser necessário, mas que não deixe isto interferir no fluir contínuo do potencial artístico; é por isso que, junto à inspiração, precisa partir de dentro de mim a ação artística isenta do interesse. Depois de estar purificado e embasado no conceito de arte elevado, sentir-me-ei seguro em passá-la adiante com o canal livre para as vantagens que o meu agir correto proporcionou.

Penso que deveria ser esta a postura correta de todo artista. Sua influência sobre o mundo que, num futuro, vai refletir a ação das pessoas, é incomensuravelmente determinante. As ações do artista que não condizem com o padrão de arte que ele está acostumado a passar acabam por influir de maneira decisiva na qualidade dos seus trabalhos. Aliás, o próprio trabalho, ao partir de uma mente em sintonia com o bem do mundo, mas cujo desconserto da própria vida anda presente e influente, não será capaz de produzir arte de valor acima da própria personalidade, o que seria facilmente conseguido se o pretenso artista acertasse primeiramente os passos consigo mesmo. A arte pura brota da pureza da alma. Imagina aqueles que deleitaram o mundo com sua arte, o que não teriam sido capazes de realizar em seu campo artístico se tivessem superado suas desavenças internas, melhorando ainda mais sua autoestima, limpando e desobstruindo por completo todos os canais da verdadeira criatividade artística?

O mundo nos impõe limites e parece que toda arte é limitada; seus mais profundos ênfases e significados ainda estão longe de se nos mostrar evidentes; assim é a vida. Sendo a arte Divina, divino precisaria ser o homem e parece que estamos ainda há alguns séculos ou, quem sabe, milênios dessa perfeição. Então, contentemo-nos com o que somos capazes de produzir e apreciar; sim, apreciar. Pois, o esforço da apreciação não é menor do que o que produziu a arte. Os semelhantes se atraem; dar-te-ei em deleite artístico o que me retornares em atenção e comunicabilidade. Assim seria o entrosamento, uma negociação justa e lateralmente benéfica.
Mas, o que isso tem a ver com a escrita? Diria que tudo. Senão vejamos. Quando passa a escrita do simples ato mecânico à intenção artística? É no momento em que o transmissor se decide a fazer, de um ato simples, uma manifestação artística. E, a partir de que momento a intenção artística se torna arte verdadeira? A partir do momento em que o futuro doador passa da intenção ao estudo e ao aprimoramento.

Sendo o ato de escrever o mais comum entre os seres humanos nada se iguala a ele enquanto agente difusor do conceito artístico.
A exceção dos iliteratos, que compõe a pequena minoria, todos têm, no ato da escrita, depois da fala, o apoio da comunicação interpessoal. Se todo ato do dia a dia pode ser transformado em arte, a depender da minha personalidade e da minha vontade de embelezar o mundo, por que não fazer do ato de escrever o ápice da minha manifestação artística? Por mais que avance a comodidade tecnológica, isto só tende a trazer evolução em todos os campos de difusão da arte. Macro exemplo desta opinião é o computador. Ele ampliou mundialmente o interesse e a exigência do aperfeiçoamento da escrita por imputação da própria tecnologia. Quem não fizer do seu simples meio de comunicação global, que é a escrita, um cartão de visita de todas as suas atividades paralelas, perde aí em credibilidade e pode cair na mesmice dos não diplomados que possuem todos os conhecimentos básicos superiores, exceto o principal: impressionar pela comunicação.

Escrever bem é diferente de, pura e simplesmente, rabiscar sem erros. A superação do trivial está ao alcance de quem faz uso da escrita, ou seja, todos. Querer melhorar, rebuscando formas de impressionar, aplicando, no lugar da fatuidade, a humildade da arte e a sinceridade da comunicação, já é o primeiro passo. Daí para frente se quiser transformar em verdadeira forma de arte tudo que escreve, a disciplina, a meta e a dedicação tomarão o lugar da rotina cansativa e obrigatória. O prêmio, ao final, virá em forma de auto apreciação, antessala da apreciação generalizada. O reconhecimento de quem faz da escrita uma arte compensa todos os esforços empregados. Não há prêmio sem acometimento. Da mesma forma que não há o bom e sincero apreciador sem o doador persistente e capaz. A arte comum do ato sobrecomum que pode fazer a diferença no mundo. Bons escritos!!!
Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 25/12/2012
Reeditado em 25/12/2012
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