O AÇÚCAR-PARTE II: POESIA SOCIAL

POESIA SOCIAL ou PARTICIPANTE - Em 1957, resultante de uma cisão com os concretistas, surge o Neoconcretismo e mais tarde o “dissidente” FERREIRA GULLAR propõe o retorno ao verso formal, linguagem discursiva, uma poesia de dimensão social, reagindo com os excessos formais do Concretismo, e alguns poetas o acompanharam nesta marcha - poesia mais comunicativa e voltada para a problemática social do país, o sofrimento do homem comum e a ausência de liberdade, em especial após 1964.

O AÇÚCAR, de FERREIRA GULART

“O branco açúcar que adoçará meu café (...)  com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.”

---33 versos ou linhas - brancos (sem rima), irregulares quanto às sílabas poéticas

---6 estrofes  ---  Primeira - açúcar não surge do nada, por milagre, dentro do açucareiro;  alguém trabalhou para ele ser consumido.  Quem?  ---  Segunda - “Eu /poeta/ não fiz este açúcar!” - quem o consome não o fez nem pensa em vidas sacrificadas.  ---Terceira - Trajeto - da mercearia da esquina para minha casa.  E antes?  Ah, sim do plantio até as mesas.  ---Quarta - Ah, veio de canaviais extensos não surgidos por acaso.  ---  Quinta - Veio de longe, lugar sem hospitais e escolas, onde analfabetos morrem jovens, anos e anos plantando e colhendo cana.  ===  Sexta - “...usinas escuras...” - DRUMMOND diria irônico:  “Eta vida amarga, meu Deus.”

Desigualdade entre as condições de produção e de consumo diferente das condições de vida da população brasileira.  Importância social do trabalho do  homem que planta e colhe a cana, da qual será  feito o açúcar - vida miserável que ele leva, sem correspondência entre o valor social de seu trabalho e sua remuneração e condições de vida.

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JOSÉ LINS DO REGO - Terminada a Faculdade de Direito (Recife, 1923), engajou-se mo movimento regionalista do Nordeste, liderado por Gilberto Freire.  Popular torcedor do Flamengo, foi homenageado com uma placa na parede da Confeitaria Colombo (Rio), junto à mesa onde habitualmente almoçava e trocava idéias com amigos sobre o clube.  Criticou o “francesismo” da linguagem literária dos romancistas de São Paulo, contra a radicalização  estética vanguardista do Sul, importação parisiense’.  Depois, preocupou-se com a renovação literária, obra de arte com expressões coloquiais da fala popular:  “camumbembe (origem africana, significa vadio)...leseira (idiotice).........”  Apelidado o “romancista da decadência”, romances retratando a decadência das regiões produtoras de cana-de-açúcar do Nordeste, após a Abolição dos escravos, transição entre o trabalho escravo e o assalariado:  elevada crítica à situação dos proletários rurais;  decadência da sociedade patriarcal - antigos “coronéis” fazendeiros ainda continuaram com força política e militar, unidos a polícia e cangaceiros para impor seu mando.

MODERNISMO/REGIONALISMO - 3 ciclos:

---Ciclo da cana-de-açúcar - senhores de engenho, coronéis, capangas e fanáticos - romances “Menino de engenho”, mistura de autobiografia com ficção, “Doidinho” e  “Banguê” - unidade:  narrativas centradas no personagem Carlos, narrador-protagonista - engenho, um quase *feudo, bem mais tarde cedendo lugar às usinas  //  “O moleque Ricardo”, “Usina” - expansões do núcleo inicial //  “Fogo morto” - documento memorialista  da evolução social, romance-síntese deste ciclo e da temática da decadência.

---Ciclo do cangaço, misticismo e seca - “Pedra Bonita” e continuação em “Cangaceiros”.

---Independência dos ciclos anteriores, “Pureza”, lirismo erótico, aproximação com “Água-mãe”, “Riacho Doce”, e “Eurídice”, embora “O moleque Ricardo” localize as lutas proletárias do Recife, negros abandonando a miséria nos engenhos, passando a proletários citadinos:  do meio rural,  engenho decadente, para  meio urbano, do clima patriarcal para uma sociedade industrializada - greve era prisão política no arquipélago de Fernando de Noronha;  memórias em “Meus verdes anos”.

*Função de feudo - patriarca senhor-de-engenho. concentração de poder, discriminatório, dirigia até a vida de seus ‘governados’, em termos de vida e morte;  a partir de 1927,  a usina terá força de desagregação, a aristocracia rural dos grandes proprietários substituída por uma ‘aristocracia’ agora capitalista.  ---  Sobre diferenças sociais, todos são companheiros nos folguedos de criança, brincando juntas nos engenhos, (ingênuas, sem preconceitos raciais e sociais), porém......... e a convivência na maturidade???  Lembremos a cruel desigualdade no canto do mineiro MILTON NASCIMENTO:     /”Morro velho”/

“...e seu velho camarada já não brinca, mas trabalha”.

Letra de fazer chorar!

 

 

LEIAM meu conto “Sinhozinho branco & amiguinho negro”.

 

FONTES:

Recortes de livros didáticos, sem identificação ---  “Tempos da literatura brasileira”, de Benjamin Abdalla Junior & Samira Youssef Campedelli -

F  I  M

 

 

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 30/12/2017
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