SURREALISMO - TEORIA

SURREALISMO, busca de um nível de consciência que conjugue sonho e realidade - ANDRÉ BRETON.

Do Romantismo (sonho) e do Barroco (dualidade) provém as tensões surrealistas. O nome 'super-realismo' corresponde ao momento em que a consciência humana percebe a possibilidade de alçar-se a uma plataforma superior, identificando-se com a dimensão ali reinante. Já RIMBAUD pretendia alcançar a vidência - também este o tema do Romantismo alemão: "Todo artista, poeta verdadeiro, é vidente ou visionário" - BAUDER. ----- Como no Romantismo, o centro da atividade surrealista é o sonho; acoplado à realidade, teremos a superrealdade. O SURREALISMO seria, pois, um exagerado estilo de Romantismo: tons sombrios, atitudes carregadas de sadismo fustigante, sensualismo freudiano (fenômeno onírico), ultraje à moral burguesa, tom de pesadelo com caráter onírico luciferino - sentido anticristão no conteúdo espiritual do Surrealismo. Nada para ele é digno de atenção, manifestando um espírito individualista, de término absoluto e negador, empreende o retorno ao primitivo e uma oposição às experiências religiosas. ----- SURREALISMO - esforço por encontrar uma linguagem diferenciada daquela de sempre, forjando uma anti-linguagem muitas vezes de difícil compreensão/comunicação. Pretende penetrar nos mistérios da alma, aspirando a conquista de uma consciência cósmica ou posições integradas numa síntese gloriosa. Primeira oposição: aborígene de um mundo individualista e enfocado num mundo de consciência coletiva; apogeu: entre as duas guerras mundiais, de 1919 a 1939, pensamento girando num mundo contíguo ou fenômeno do sonho, repressão se manifesta direta, sem censuras, como testemunha da existência em modelo simbólico. ----- CASO VÍTOR BRAUNER, tema do olho - acidente por engano em 1938, no olho esquerdo (alguém pretendia atingir OSCAR DOMINGUÉS com um vaso numa briga de bar) - antes, Brauner obsessivo com órgãos visuais: em 1931, auto-retrato com o olho direito extirpado onde aparece uma varinha enfeitada com a letra D, de Domingués: forças mágicas teriam "carregado" simbolicamente o olho de Brenner... coincidência entre psíquico (causa) e físico (efeito). Mistério, profecia e vidência? Auto-retrato - olho aberto à realidade objetiva; o perfurado simboliza a visão introspectiva da realidade subjetiva - ambos figuram uma situação de síntese entre as 2 realidades, equivalente a aspirada vidência. Em numerosas obras ele substitui os olhos humanos por cornos -- minotauro visual, um dos símbolos surrealistas, define de um lado a bárbara cegueira de nossos dias e de outro a ânsia de ruptura característica daquela época revolucionária entre guerras. ----- Tema "olho", obsessão surrealista: filme "O cão andaluz", de Salvador Dali e Luís Buñuel, Paris-1920, simbolizando os postulados essenciais do Surrealismo. Começa com uma cena traumatizante: lua brilhando no céu e ao mesmo tempo o olho de uma jovem de perfil - de repente, lua atravessada por afiada nuvenzinha, olho é seccionado cruelmente com uma navalha pelo companheiro; pessoas tinham ataques nervosos, gritos de horror, este o efeito pretendido pelos autores - a seguir, cenas ajustadas a essa realidade onírica, constituindo de certo modo o conteúdo psíquico do olho noturno que vazava. ----- "O cão andaluz", legítimo herdeiro do Romantismo. Caso Brauner - 1931, auto-retrato com olho vazado & 1938, acidente... Cadeia associativa - sonho /obra de arte/ intercalado entre passado /auto-retrato/ e futuro /acidente/. ----- Filme, olho feminino perfurado - efeito simbólico de desejo de ser conhecido, representado no perfil, isto é, metade do ser humano; a outra metade corresponde à situação ativa de ser conhecedor. Antiquíssima a dualidade homem-deus. Desejo supremo do Romantismo é desfazer esta dualidade, criando uma consciência equivalente em certo modo à divinização do ser humano - o Surrealismo segue esta decisão. ----- Brauner, homem vidente, "feito à imagem e semelhança" do movimento surrealista; "O cão andaluz" (lua/olho) seria a figura de Brauner, o hieróglifo traduzido. ----- Doutrinas surrealistas - presença marcante e operante da superrealidade; conciliação entre real-onírico, real-imaginário; também clama pelo mito e pela ficção carregada de energias simbólicas e mágicas que lhe permitem impor-se ao mundo. ----- Surrealismo como fenômeno histórico - nasceu e cresceu em Paris, capital artística do último período do ocidente. Matéria internacional com adeptos de vários países. Contradições correspondentes ao estado de decadência do ocidente, ou seja, antíteses e teses, presente e memória, aparência e essência, inconsciência e consciência, sujeito e objeto, antimito e poesia, trevas e luz, sonho e despertar, infância e maturidade, infrarrealidade e realidade, nacional e universal. -- Entre 1919 e 1939, ou seja, entre Europa (viejo mundo) e América (nuevo mundo). ----- SURREALISMO - Duas manifestações complementares: o material consciente ou realidade histórica (vida real e vontades ativas do ser humano) + o reprimido pelo primeiro ou atmosfera reprimida do sonho (subconsciente onde trabalha o polo contrário). O objetivo do Surrealismo é a união destas discordâncias - sonho/realidade. Poeta hispano americano RUBEN DARÍO, que viveu na França, acento poético da vidência: "O poeta tem a visão direta e introspectiva da vida e uma supervisão que vai mais além de que está sujeito às leis do conhecimento geral." ----- Função do poeta, desde tempo imemorial: vaticinar e criar metáforas e mitos, características da lírica; demais mortais fechados toda a vida em compartimentos históricos. ----- integração sonho/realidade - "O mundo se converte em sonho, o sonho se converte em mundo" - NOVALIS.

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LEIAM meu trabalho "Teorema" aqui complementado.

NOTAS DO AUTOR:

ANDRÉ BRETON (1896/1966) - escritor francês, poeta e teóricodo Surrealismo. / ARTHUR RIMBAUD (1854/1891) - poeta francês, época do Simbokismo - influenciado por Baudelaire, Verlaine, Victor Hugo - influenciou literatura, música e artes modernas. / NOVALIS, pseudônimo (1772/1801) - um dos mais importantes representantes do primeiro Romantismo alemão, final do século XVIII; criador da flor azul, um dos símbolos deste movimento. / RUBEN DARÍO (1867/1916) - poeta, jornalsta, diplomata e escritor nicaraguense. / VÍTOR BRAUNER (1903/1966) - escultor romeno e pintor surrealista.

FONTE:

"El surrealismo entre viejo y nuevo mundo", de JUAN LARREA - Ediciones Cuadernos Americanos (La Revista del Nuevo Mundo), México, 1944.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 27/07/2019
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