GÊNEROS LITERÁRIOS - O QUE É E QUAIS SÃO? - Parte I

Comecemos pela palavra “gênero”. Do latim generu, genere, significa nascimento, origem, classe, espécie, o que segundo SOARES (p. 7, 2007.), tem muito a ver “com o que se vem fazendo através dos tempos”, que é “filiar cada obra literária a uma classe ou espécie, ou ainda, mostrar como certo tempo de nascimento e certa origem geram uma nova modalidade literária”.

Assim, um primeiro tipo de sistematização dos gêneros foi feito por Platão (que atribuía à arte uma função moralizante) lá no século IV a.C., no livro III de sua obra República (de 394 a.C), dividindo a literatura (que na época era baseada na poesia) em 3 gêneros: épico, lírico e dramático. Usando como critério o seu conceito de imitação ou mimesis e o grau que cada uma delas estabelece com o real, ele postulou que: a) o gênero lírico se constrói pela exposição do poeta ou imitação da subjetividade dos homens; b) o gênero dramático (tragédia e comédia) se constrói pela imitação dos homens em ação; c) o gênero épico é a imitação que mistura os dois processos.

Mas foi Aristóteles, o discípulo de maior destaque de Platão, que apresentou uma nova percepção do conceito do mestre. Para ele da mesma forma que para Platão a literatura é imitação, porém deve guiar-se por preocupações de ordem estética, pois “a arte imita os caracteres, as emoções e as ações”.

Desse modo, classificou a literatura em três gêneros literários: o épico (quando existe um narrador ou poeta-observador que relata fatos históricos através de uma narrativa em versos), o lírico (quando um eu-lírico ou eu-poético centra-se em si mesmo, apresentando forte subjetivismo também em versos) e o dramático (quando atores apresentam através de palavras e gestos um acontecimento, retratando basicamente os conflitos inerentes às relações humanas, como o teatro, por exemplo), dependendo das coisas imitadas e da maneira de imitar, com base em seu conceito inacabado de mimesis.

Para fins de melhor compreensão vamos adotar uma divisão em quatro gêneros (separando do gênero épico o gênero narrativo ou ficção para enquadrar as narrativas em prosa), proposta por NICOLA (p. 34, 1998).

1. GÊNERO ÉPICO:

Esse gênero vem da palavra epopeia, que por sua vez vem do grego épos (verso) + poieô (faço). Se refere a um poema narrativo longo dividido em cantos e que tem como principal assunto fatos extraordinários, grandiosos, reais ou fabulosos sobre episódios ou feitos heroicos que fazem parte da história de um povo.

As ações são narradas por um narrador onisciente (em 3º pessoa) que fala do passado, apresentando elementos essenciais da narrativa: enredo, personagens, espaço e tempo reais ou imaginários. É comum a presença do componente maravilhoso, que é a intervenção de deuses ou criaturas sobrenaturais antecipando ou impedindo acontecimentos na narrativa.

Como exemplos de epopeia podemos citar: Ilíada e Odisseia (ambas teriam sido escritas por Homero), que falam sobre a guerra de Troia; Os Lusíadas (de Luís de Camões), que narra as aventuras de Vasco da Gama, quando saiu de Portugal para buscar um novo caminho marítimo para as Índias. Em quase todas as literaturas existem exemplos de poemas épicos: na literatura latina, temos a Eneida (de Vergílio, uma narrativa dos feitos romanos); na literatura inglesa o Paraíso Perdido (de Milton, uma narrativa de inspiração bíblica que trata da perdição do homem após ter comido o fruto proibido, tentado por Satanás); na literatura italiana o Orlando Furioso (de Ludovico Ariosto, uma narrativa de cavalaria), na literatura brasileira O Uraguai (de Basílio da Gama, uma narrativa da expedição mista de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul) e Caramuru (de Santa Rita Durão, uma narrativa sobre Diogo Álvares Correia, um náufrago português que passou a vida entre os índios na costa do Brasil, facilitando o contato entre os primeiros viajantes europeus e os povos nativos).

Trecho de Os Lusíadas:

Canto I

As Armas e os barões assinalados

Que, da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca de antes navegados,

Passaram ainda além da Taprobana,

Em perigos e guerras esforçados

Mais do que prometia a força humana.

E entre gente remota edificaram

Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas

Daqueles Reis que foram dilatando

A Fé (e) o Império, e as terras viciosas

Da África e de Ásia andaram devastando,

E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando:

Cantando espalharei por toda parte,

Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandro e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a Musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta.

Composto em 10 cantos, temos aqui as 3 primeiras estrofes, de um total de 108, do Primeiro Canto de Os Lusíadas. Elas narram o feito dos marinheiros especiais (os barões assinalados) e a memória dos reis que mandaram estes homens para o mar. Perceba que elas possuem 8 versos e todos os versos são decassílabos.

BIBLIOGRAFIA:

MOISÉS, M. A criação literária: poesia e prosa. 1 ed. São Paulo: Cultrix, 2015.

NICOLA, de J. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. 15 ed. São Paulo: Scipione, 1998.

OLIVEIRA, de B. C. Arte literária: Portugal – Brasil. 1 ed. São Paulo: Moderna, 1999.

SILVA e AGUIAR de MANUEL, V. Teoria da Literatura. 8 ed. Coimbra: Almedina, 2007.

SOARES, A. Gêneros literários. 7 ed. São Paulo: Ática, 2007. Série Princípios.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 22/03/2021
Código do texto: T7213231
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