18 CONTO… NOVELA… ROMANCE – De que se trata?

Nos últimos capítulos, falámos sobre a evolução do ROMANCE no século XX.

Todos sabemos que um ROMANCE é uma “história”.

Mas também verificamos que há: histórias muito LONGAS, e outras bastante BREVES. Então, hoje vamos observar mais de perto as histórias que lemos. Vamos observá-las quanto à sua extensão! Assim, temos...

... CONTO, NOVELA, ROMANCE... – são “histórias”. Em inglês, diríamos :

= Short story (para “conto”)

= Novella (para “novela”)

= Novel (para “romance”)

Estas designações apontam para realidades diferentes:

Para dar uma ideia concreta do que seja um CONTO, um ROMANCE, uma NOVELA, vou combinar a designação que aprendi na Faculdade, nos anos ’60 do século XX, quando era estudante e ainda não havia computadores, com as definições actuais.

A definição que aprendi nessa época já tão distante (!) dizia respeito à “estrutura” dos diferentes tipos de narrativas.

Actualmente, as definições que encontramos sobre este tema, em algumas páginas 'on line', baseiam-se num critério muito prático, ou seja, baseiam-se apenas na “contagem” das palavras de cada tipo de narrativa!

1- CONTO ("conto de autor"):

ESTRUTURA do conto (conto de autor):

Em geral, chamamos CONTO a todas as histórias que, dada a sua breve extensão, NÃO SÃO “romances”! Mas o conceito é mais amplo : CONTO é uma narrativa BREVE, com final inesperado.

EXTENSÃO:

Actualmente, diremos que o CONTO é uma narrativa que se define entre as

500 e as 7.500 palavras.

É de notar, no entanto, que será sempre bom termos presente essa característica que define o CONTO de forma tão específica: além de ser BREVE, “deverá” ter um FINAL INESPERADO.

É importante notar que neste capítulo, estamos a falar do CONTO DE AUTOR.

Não façamos confusão com o CONTO TRADICIONAL. Sobre este, já falámos nos capítulos 4, 4.1, e 4.2. O Conto Tradicional é estudado no âmbito da Antropologia; o Conto-deAutor é estudado no âmbito da Literatura.

2- ROMANCE

ESTRUTURA:

* ROMANCE é uma narrativa LONGA, em que se conta a história – bem detalhada, bem pormenorizada – de uma personagem – a PERSONAGEM PRINCIPAL.

* As outras personagens – as PERSONAGENS SECUNDÁRIAS – vão ser os ADJUVANTES e os OPONENTES em relação à personagem principal.

* Para nos dar uma ideia dos AMBIENTES naturais, ou sociais, e das características (psicológicas, físicas) das personagens, o romance alterna “narrativa”, “descrição”, e diálogos”!

*O ROMANCE pode ter diferentes tipos de NARRADOR – ou o Narrador tomou parte na história e conta-a segundo a sua perspectiva; ou não tomou e conta-a de uma forma... como diríamos... mais ...”independente”...

EXTENSÃO:

Actualmente, diremos que o ROMANCE é uma narrativa que vai para além de 40.000 palavras...

3- NOVELA

Então, e a NOVELA?

Recordemos que no contexto da Literatura, quando falamos de NOVELA, estamos a referir-nos à NOVELA LITERÁRIA – e não à “novela televisiva”.

ESTRUTURA

A NOVELA literária situa-se ENTRE o conto e o romance, isto é, a sua extensão é maior que a do conto, e menor que a do romance:

Digamos que a NOVELA é... um romance breve!...

Aqui, também se conta a história da PERSONAGEM PRINCIPAL. MAS... o Narrador não se detém com demasiados pormenores... apenas se prende aos episódios principais... Dá-nos os pormenores das personagens por breves indicações, e vai de episódio em episódio até ao resultado final da sua história.

EXTENSÃO

Actualmente, diríamos que a NOVELA tem entre umas 17.000 e umas 40.000 palavras.

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Vemos que a especificidade da NOVELA reside na sua ESTRUTURA. Em geral, no ponto de vista das Editoras, confunde-se “conto” com “novela”.

A este propósito, estou a lembrar-me neste momento, de um exame de Teoria da Literatura. O Professor perguntou:

– Como classifica a METAMORFOSE, de KAFKA? É “conto”, ou “novela”?

Alguém respondeu:

– É “conto”...

O Professor sorriu:

– Não, minha Senhora, é “novela”...

A aluna ficou confusa:

– ...Mas o livro que eu li dizia “Metamorfose e outros contos”...

Aí, sorriu outra vez o Professor, sorriram os outros elementos do júri... e ainda os vários alunos e alunas que assistiam à prova... Pela minha parte, nunca mais me esqueci: a METAMORFOSE é “novela”! O meu professor de Literatura francesa também insistia nesta particularidade, sobretudo quando estudámos “Le Horla”, do grande escritor francês GUY DE MAUPASSANT.

4- NOVELETTE

Actualmente, ainda se fala em NOVELETTE, dizendo-se que a NOVELETTE é intermediária entre a SHORT STORY e a NOVELA.

Assim, a NOVELETTE terá entre 7.500 e 17.500 palavras...

Vemos que esta definição se baseia apenas num critério de EXTENSÃO do texto...

5- NOVELA ou NOVELETTE?

Penso que não é necessário complicar:

Assim como há romances mais longos e outros mais breves, ou contos mais longos e outros mais breves, assim também teremos NOVELAS mais longas e outras mais breves.

Um bom exemplo disso são as novelas de EDITH WHARTON, a grande escritora estadunidense do início da século XX. Tenho aqui uma edição, em Português, que contém várias das suas novelas , algumas... breves, mas outras bem longas.

Além do mais, os leitores não dispõem, como é evidente, de meios para fazerem uma contagem das palavras... num livro já publicado! Nem isso interessa!

Conforme disse acima, o que importa, em Literatura, são as componentes que definem uma obra: a sua estrutura. E para além disso, o domínio da linguagem. E por fim, que são as NOVELAS senão pequeninos romances?!

É ainda muito interessante notar que, por vezes, a NOVELA apresenta, tal como o CONTO, um FINAL INESPERADO!

Por outro lado, os editores simplificam esta problemática, e a tudo - contos ou novelas - denominam de "contos"! Assim, considero que é mais importante a definição que se baseia na ESTRUTURA da narrativa, do que na contagem de palavras.

Na realidade, na prática, penso que ninguém estará a contar as palavras...

Digamos que ambas as definições - as que se baseiam na ESTRUTURA e as que se baseiam na EXTENSÃO -, se combinam muito bem, e são um guia, um guia útil para os Estudantes que precisam de apresentar os seus trabalhos com detalhe, bem fundamentados.

Assim, estas classificações são um GUIA, e são úteis quando se está a começar... sobretudo, talvez, quando se escrevem os primeiros contos...

6- ROMANCE não é NOVELA:

Actualmente, deparamo-nos muitas vezes com textos onde se fala de “novela” em vez de “romance”.

É lamentável.

É lamentável porque as diferentes Línguas europeias, possuidoras de uma cultura comum, por vezes dispõem de palavras com a mesma origem etimológica mas que, devido às suas diferentes Histórias, adquirem significados diferentes.

É impróprio, é inadequado, traduzir a palavra inglesa “novel” (que como sabemos, significa "romance") pela palavra portuguesa “novela”.

Saliento que não se trata de "purismo", ou seja, não se trata de intransigência minha quanto à "pureza" da Língua. As diferentes culturas vivem em intenso convívio, e há permeabilidade entre as Línguas. Neste caso concreto, trata-se apenas de evitar confusões entre conceitos que se referem a coisas diferentes.

Assim, temos as equivalências:

Conto –> short story

Romance –> novel

Novela –> novella

7- Actualmente, também falamos "sketch".

Este é um termo da língua inglesa que tem entrado no vocabulário português. Segundo o "Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], "um SKETCH é uma obra encenada de curta duração, geralmente cómica, representada em teatro, televisão, cinema, rádio, music-hall = RÁBULA".

7- A CONCLUIR

Como dirijo estes meus textos em primeiro lugar, a Estudantes, permito-me o seguinte apontamento:

O domínio da linguagem, que é tão determinante, varia de autor para autor. É no DOMÍNIO da LINGUAGEM que reside a Arte de cada escritor, no domínio do ENREDO, no dinamismo com que decorre uma história. Cada autor tem o seu segredo! - ou antes, o seu DOM!

Este domínio, consegue-se com trabalho, com persistência. Em meados do século XX, houve um jovem escritor português, dramaturgo, que foi tão ansioso pelo reconhecimento da Crítica e do Público que não aguentando esperar ... se recusou a viver... É um facto que recordo sempre com mágoa... O reconhecimento virá sempre, mais tarde ou mais cedo... Depende de muitos factores... desde os económicos/comerciais, aos ideológicos... misturando-se aqui, por vezes, os interesses políticos do país e da época em que vive o escritor... Quantos escritores só conseguiram ser reconhecidos depois de optarem pelo exílio e saírem dos seus países de origem...

Não vale a pena ficarmos angustiados, sem saber se os nossos textos são “isto” ou “aquilo”! Os nossos textos valem pela sua ESTRUTURA, pelo seu CONTEÚDO, pelo que nos mostram da ÉPOCA ou da PERSONAGEM ou personagens que pretendemos retratar! E valem, também, e muito, pela LINGUAGEM, pelo 'domínio' que o Escritor demonstra em relação à sua Língua! Quem domina a Língua, domina a fluidez da sua 'narrativa'.

Por outro lado, recordo um conselho dado pelo grande poeta português, do século XX - DAVID MOURÃO-FERREIRA - nos seus programas televisivos:

"É preciso escrever todos os dias! Eu escrevo todos os dias."

Também o grande poeta ORLANDO NEVES, meu querido e saudoso amigo, me dizia:

- Escreva todos os dias!

-Oh, mas eu às vezes venho tão cansada da Escola... Ainda tenho que tratar do jantar, ainda tenho que ver trabalhos dos alunos e preparar as aulas... Depois já não tenho fôlego para mais nada...

- Tem sim - insistia ele. - Escreva pouco, escreva só uma página... Mas tem que manter a mão! Só assim é que se faz um "escritor"... Todos os dias progredimos um pouco... Pode não se notar, mas o progresso acontece!

Ou seja:

Só se aprende a escrever... ESCREVENDO

Do mesmo modo que ...

Só se aprende a desenhar... DESENHANDO

Só se aprende a cozinhar... COZINHANDO

Só se aprende a tocar um instrumento... tocando, tocando, fazendo os exercícios para a destreza dos dedos

e

Só se vem a ser um bom desportista... TREINANDO

E

Assim como se ouve os conselhos do Treinador,

assim temos que usar a nossa AUTO-CRÍTICA, para nos aperfeiçoarmos!

Nós somos simultaneamente o APRENDIZ de FEITICEIRO, e o seu próprio Treinador!

Cada ramo das Artes tem a sua própria disciplina.

Essa necessidade de auto-disciplina está bem demonstrada no filme que nos dá a biografia do notável cantor ANDREA BOCELLI - ele nasceu com o DOM - mas precisava da TÉCNICA apropriada para alcançar o domínio da sua belíssima voz:

" The Life of Andrea Bocelli "

https://www.youtube.com/watch?v=BAEkwOF0nWI

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...

...

... Oh... Mais uma vez, ainda nos fica de fora falarmos do ROMANCE PICARESCO... Fica para uma próxima oportunidade.

Myriam

18 de Julho de 2022

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Texto actualizado em 5 de Abril de 2023

Myriam

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 18/07/2022
Reeditado em 05/04/2023
Código do texto: T7562394
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