Análise da Metafísica de Fernando Pessoa, II

“O Universo não é uma idéia minha.

A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.

A noite não anoitece pelos meus olhos,

A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos,

Fora de pensar e de haver quaisquer pensamentos

A noite anoitece concretamente

E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.”

(Alberto Caeiro – Poemas Inconjuntos)

Neste poema, Fernando Pessoa mostra que entende a distorção que fazemos, transformando o ‘mundo’ em ‘nosso mundo’.

Pode soar estranho para quem nunca pensou nisso, mas é uma verdade: nossas convicções em relação ao Universo são resultado das conclusões que tiramos através das evidências que chegam aos nossos sentidos.

Se alguém nunca viu estrelas, por exemplo, para ele não existem estrelas (independente do que ele acredite ou diga), porque o único sentido que traz informações sobre estrelas é a visão. Então, se ela não foi utilizada para tal, estrelas não fazem parte da idéia de Universo que a pessoa tem, não indicando que não fazem parte do Universo de verdade.

Eis outros exemplos, mais simples. Olhando um objeto sem tocá-lo, não temos toda a certeza do tamanho do objeto, nem da temperatura e textura. Julgamos que sabemos – e isto é automático – o quão distante estamos de algo, mas, na realidade, apenas “chutamos”. Também intitulamos, por nosso modo, as cores que vemos, tal como sons que ouvimos (e neste caso há ainda mais erros, tendo em vista o comprimento das ondas sonoras que recebemos, o que depende da distância).

A questão é que nos sentimos satisfeitos – e até bastante certos e tranqüilos – com a maioria das coisas que percebemos ao nosso redor, só que não nos damos conta de que estamos sempre sujeitos a errar, e, de fato, erramos.

Este conceito é muito interessante e importante. Sua idéia, inclusive, assemelha-se a uma do filósofo Immanuel Kant, que diz “nosso conhecimento sobre os objetos reais é fruto do que somos capazes de pensar sobre eles“ (no livro Crítica da Razão Pura) e a uma do psiquiatra Augusto Cury, que diz “A consciência existencial é virtual, pois é só um reflexo da percepção da realidade” (no livro Inteligência Multifocal).

Se mal podemos estar plenamente conscientes de algo natural, pior ainda é querer levantar alguma certeza racional sobre algo dito sobrenatural.

Cláudio Theron
Enviado por Cláudio Theron em 22/02/2008
Reeditado em 22/02/2008
Código do texto: T871067
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