A Leitura e a (Re)Construção do Real

Ainda motivada pela observação dos diferentes processos de leitura realizados pelas diversidade humana que costuma ler-me aqui,entendi como necessárias algumas elucidações de cunho menos emocional que aquele feito em A Recepção do Leitor e mais pedagógico.

Dessa maneira, inscrevo-me uma vez mais na área de Teoria Literária,para falar de assunto tão participante da minha vida de professora ao longo destes 27 anos de profissão.

O tema a que me proponho diz respeito aos dois universos principais em leitura,enquanto(re)construção:o texto e o real.

Num primeiro momento, ao depararmo-nos com um novo texto,precisamos fazer um movimento de pequenas aproximações,a fim de obtermos maior familiaridade com os termos e para que a mensagem nos conduza a uma reflexão.

A leitura de um texto envolve muitas outras leituras.A começar pela identificação do próprio leitor diante do que lê:

quem é a pessoa que lê?

o que costuma ler?

o que busca na leitura?

Ler não consiste num mero decifrar de sinais,letras e palavras,conforme é sabido.Vai muito além.

Ler um texto é fazer uma leitura do mundo,isto é atribuir significações,o que pressupõe uma re-construção.

Tal processo envolve um mecanismo de decodificação e ativação de todo um conjunto de informações.Todo leitor dispõe de um banco de experiências na memória e esse conhecimento prévio de mundo,somado à polifonia textual, o habilita a atribuir significados ao que lê e deles re-significar a sua própria circunstância.

É desse tipo de leitura que brota a construção da realidade,porque a leitura da palavra escrita pode conduzir a uma interpretação de mundo e,muitas vezes, faz proceder a uma reformulação de conceitos cristalizados.

Escrever ,bem como ler, são atos solitários.

Quem escreve, busca dizer.

Quem lê,busca aperceber-se.

Para ler, é necessária a vontade de um 'eu' e sua capacidade de posicionar-se diante do discurso do outro.

Ler,assim, é interatividade,na medida em que o leitor é cooperativo e produtivo:ele promove a reconstrução conceitual, pelas indicações do texto, refazendo o percurso do pensamento do autor como co-enunciador.

O leitor é,portanto, sujeito do processo de leitura e não mero objeto.

E o leitor competente e crítico não se satisfaz com a mensagem puramente denotativa das palavras, mas vai além.

Quem escreve,espera ser lido por gente capaz de depreender significados e reconstruí-los,revelando-se na sinfonia das palavras,no ritmo que elas estabelecem .

Todo escritor quer ser lido,entendido e compreendido por um leitor crítico.

O que se deseja é promover o conhecimento,o reconhecimento e a superação por meio da palavra escrita e lida.

E a leitura só atinge a sua finalidade maior,quando consegue ser ponte sustentada na razão e no sentimento,que nos conduza ao outro e a nós mesmos.

Agradeço aos sempre tão carinhosos leitores e a um leitor aniversariante em especial que, por sua delicada e atenta leitura ,instigou-me na produção deste esclarecimento.

Dessa forma,dedico a ele esta brevíssima finalização:

em leitura, nem sempre aquilo que se lê reflete a realidade cabal do que as palavras escritas dizem ,nem é o espelho da alma de um escritor.

Zully Oney Teijeiro Pontet
Enviado por Zully Oney Teijeiro Pontet em 09/01/2006
Reeditado em 09/01/2006
Código do texto: T96312