João Tinoco.

Encabulado, João Tinoco entornou.

Arregaçou as mangas e os bolsos,

Do bar fez tudo amigo. Embebedou.

A tinta riscava a comanda. A Lua, o céu.

Era tinta pouca, alegria pouca, e bebida muita.

Era julgado, por Deus e o Diabo, o Tinoco réu.

E João bebia, agora sem Tinoco, que era

Noutro corpo qualquer, um porco, uma mulher.

Era louco? Vivo? Era triste, sem demora, sem espera.

Ria alto da chaga cardíaca; pouco caso da doença.

Enfiada ali sabe-se lá como, sem besouro que o picasse,

Aquela pele espessa, endurecida pela descrença.

O risco virou corte e a escuridão partiu-se ao meio.

Subiu o sol na tela branca, inflamado pelo capeta.

Queimou os olhos do Tinoco e na loucura tacou freio.

A mão do copo foi pro bolso. João, duro como um toco:

“Olhe lá, meus companheiros, uni-vos níqueis ao do amigo!”

Nem um riso ou gargalhada, era João sem o Tinoco.

Pendeu logo no balcão, choramingando ao patrão.

Ali de cima, engomado, disse não. Chamou Alcides.

Rapaz forte, bateu João até a morte a pedido do patrão.

Subido foi, que não sabia, ao céu sem alegria.

E Deus, espantado: “Quer descer a escadaria?”

“Mas isto sim me agradaria!” – disse João com simpatia.

“Ora! Diga, qual o motivo de tamanha desejo?”

“Seu Deus, aqui não há alegria! Sem Tinoco, que será?”

“Que será? Não sei, mas há de ser ao Diabo pelego!”

E que tristeza o João tomou. Chorava que chovia.

Lembrava Tinoco, que era ele, e não era mais – agonia.

Voltava a infância, quando, o pai, jogava na igreja sua cria.

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 02/02/2012
Código do texto: T3477231
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