FAÇA-ME UM FAVOR.
Quando eu for morrer,
quero um presente seu,
deixe-me ver a lua cheia.
Deixe eu ouvir o silencio,
que a noite guarda no colo,
rodeada de estrelas vivas.
Antes de meu coração descansar,
faça-me uma poesia bucólica,
para que eu vislumbre o paraíso.
Abrace-me mesmo moribundo,
para que o calor de seus braços,
espante o frio da temida morte.
No meu velório sirva bolo de fubá,
amo a simplicidade da coisas,
o simples faz a vida se tornar bela.
Faça piada para a noite passar,
o silencio e a tristeza são cruéis,
faça do momento um ato de reflexão.
Mas peço um favor imenso,
não me atribua qualidades
que sei que não tenho.
Deve ser um horror ouvir
as inverdades não vividas,
com os ouvidos da alma.
Quando o cortejo seguir pausado,
ladeira acima, não verta lágrimas,
guarde-as para as alegrias futuras.
O corpo que segue inerte,
sob colares de rosas amarelas,
nada é sem a energia da alma.
Na lápide tumular, pedra fria,
grafe em letras salientes,
o corpo jaz, a alma não.