HARPEJOS * Cantares... (16)

Soletro, em cada verso, harpejos de inocência,

na pálida cadência

do vago anoitecer...

*

E vou, de verso em verso, ousando o meu poema,

silvestre, de alfazema,

num vago conceber...

*

Os ritmos são de acaso, arfando ou suspirando,

assim, sem onde ou quando,

num vago acontecer...

*

As rimas, sem matiz, são vãs sonoridades,

num manto de ansiedades

de vago entretecer...

*

Escrevo devagar. De dia ou a desoras.

Meu tempo tem por horas

um vago discorrer...

*

Na folha de papel, que branca me seduz,

revérberos de luz

num vago entontecer...

*

Meus olhos semicerro à luz que me encandeia.

No verso que tacteia,

um vago debater...

*

No peito, o coração, aos poucos, esmorece

e o verso desfalece,

num vago adormecer...

*

O verso derradeiro, o verbo imperecível,

extingue-se, impossível,

num vago emudecer...

*

*

José-Augusto de Carvalho

Viana * Évora * Portugal

Do livro a publicar: Harpejos crepusculares

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 23/01/2014
Reeditado em 09/08/2018
Código do texto: T4661589
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