O Pastor de Nuvens
Altas fortalezas no firmamento,
brancas tal qual puro marfim
Superiores em seu elemento
Ou curtas e compridas, tortuosas como o alecrim
De várias formas elas se apresentam
na atmosfera existem assim
Embora de aparência poderosa, há quem as guiam
pelos ocultos caminhos da abóbada celeste
Ele que ferramentas tem, e as encantam
Reinante, no céu és inconteste
Senhor dos ventos, sua fúria tempestade
Sua voz trovão. Uma história se conta deste
Que na juventude do mundo tinha amizade
com a primeira montanha, mais alta não existiu
sobre ela pairava, um com outro achavam-se à vontade
Com o passar das eras, do convívio o amor surgiu
Sentimento recíproco, houve então união
Juntos sempre estariam, isso se decidiu
E muito ocorreu dessa ligação:
do calor desse amor, as nuvens caíam
E chuva nasceu, a primeira criação
Que ao descerem do cume, leitos formaram
A cada momento mais extensos, profundos
E pela primeira vez rios fluíram
Esse deles o filho segundo
Baixou à terra água por muitos séculos
Até realizar-se um oceano no mundo
Outros rebentos provieram do vínculo
O solo, as plantas, os animais
inúmeras entidades, incontáveis espetáculos
Mas a montanha, desgastada estava por demais
Um dia do pastor se despediu
E adormeceu para não acordar mais
O senhor das nuvens desse amor nunca se desiludiu
por vezes explode em ira desvairada,
em grandes tempestades, vendaval sombrio.