012-João Wilton Alves-CARTA DE ALFORRIA

Número 012

CARTA DE ALFORRIA

O Órgão Oficial de divulgação do Sindicato e da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Minas Gerais de nº 32-Ano 3- Belo Horizonte-Janeiro 2005, o Jornal MAIS destacou em brilhante matéria assinada pelo seu Presidente Dr. Danilo dos Santos Pereira, que merece ser transcrita pela importância da homenagem e das colocações nela apostas, conforme em sua íntegra transcrita sob o título de CARTA DE ALFORRIA:

Escravo fugido não tinha vez. Aguardavam-no serpentes venenosas, doenças epidêmicas, fome, solidão e morte. O sofrimento era tanto que, às vezes, a captura se tornava um bom presságio. Nesse caso, se não morresse de apanhar, viveria cheio de cicatrizes para contar a proeza aos filhos ainda não vendidos.

Escravo alforriado era outra história. Trabalhava, mas recebia pelo trabalho. Salário parco, é verdade. Porém, como não havia inflação, ele podia conquistar uma vida digna com o que juntava.

Sempre foi assim com todos os escravos, de qualquer época, brancos, pretos e de outros matizes, pincelados pela mãe natureza.

Hoje, quando se falam em grilhões, não se fala de escravidão, propriamente dita, mas de liberdade, como, por exemplo, a de não ter a obrigação de sair de casa em direção à folha de ponto.

Os Policiais tiveram negado o seu legítimo direito à aposentadoria, previsto na Lei Complementar nº 51/85. A sordidez governamental foi tão descarada que nenhum dicionário possui adjetivos suficientemente para sua correta definição. Tudo isso em nome de interesses que passam ao largo da Justiça Social e da obrigação de cumprir a Lei, concorde-se ou não com ela. Tudo isso tão inconcebível, que é como se o trabalho policial não constasse dos estudos da OIT como a segunda profissão mais estressante do planeta (a primeira é a de controlador de vôo). Tão inimaginável como se fosse natural que o militar, com a sua tradicional aposentadoria aos 30 anos de serviço, pertencesse a uma casta privilegiada de policiais, enquanto nosotros formássemos a base dessa improvisada pirâmide social e tivéssemos de combater o crime até os umbrais de nossa sepultura.

Todo esse descalabro fundamentou-se em pseudopareceres de juristas de araque. Ocorre-me, neste momento, a lembrança das irônicas palavras de um Secretário de Segurança, em 1989, a respeito da isonomia salarial entre Promotores de Justiça, Delegados de Polícia, Defensores Públicos e Procuradores do Estado, contida na Carta Magna e acatada pela Carta Mineira: “O Governo só cumprirá o que lhe convier.” Pois bem, não nos iludamos. Vivemos sim, sob o império da Lei, mas não foi a fragilidade jurídica de pareceres de encomenda ou alguma imparcial decisão do Judiciário que nos proporcionou esse belíssimo presente de natal, denominado Emenda Constitucional nº 68. Foi uma soma de fatores, começando pelo Diretor de Relações Intersindicais do Sindepo-Minas, Dr. João Wilton Alves, passando pelo imensurável apoio do Deputado Sargento Rodrigues, que abraçou imediatamente a causa, até desaguar no Governador Aécio Neves. Quanto a este, cumpriu porque lhe foi conveniente. Apesar da atitude antipática, o Secretário estava certo.

Nossa história teve um final feliz e, por isso, é muito bom que não precisemos fugir. Ser alforriado é bem melhor.

---***---

joaowiltonalves
Enviado por joaowiltonalves em 06/09/2006
Reeditado em 06/09/2006
Código do texto: T233908