Preconceito e racismo contra a mulher!

Novembro é considerado como o mês da consciência negra!

Não poderia haver consciência o ano todo?

Seria este mais um tipo de preconceito embalado em pseudo fantasia em busca da dignidade inerente a todo os seres humanos independentes da cor ou raça?

De relance – sem a mínima pretensão em esgotar tão vasto e polêmico tema - veremos como parte do tema é abordado na Bíblia desde os tempos do rei Salomão e rei Assuero, quatrocentos anos a. C.

Desde os tempos Bíblicos a situação de discriminação contra mulher campeia a céu aberto e pouco tem sido feito para minimizar tal preconceito formando-se novo cenário. O que foi feito, resulta quase insignificante, tal é a calamidade que se observa no cenário histórico e atual com relação à situação da mulher em geral, não apenas a mulher negra no mundo.

Racismo e discriminação contra o elemento feminino, seja negra ou branca. Um problema tão antigo e sutil quanto a própria humanidade.

O jornalista Jorge Pinheiro, discorreu sobre o texto da Sulamita, "negra e bela", onde ressalta alguns pontos, os quais farão parte das reflexões à partir do trecho pinçado.

“Ainda segundo Durber, onde os cristãos africanos celebraram a cor

negra de Sabá, o cristianismo europeu marginalizou sua história. Na

rainha de Sabá, viu a história de uma mulher pagã, uma mulher estrangeira que tinha se rendido à verdadeira fé. Em sua rendição,

aparentemente, Sabá perdeu também a cor negra de sua pele”.

Nesta linha reflexiva, dois textos trazem à lume a mulher “bela, formosa” exaltada em detrimento de todas as demais cujos padrões de beleza sejam diferentes daquele muitas vezes desejado pelo perverso público masculino, situação descrita no livro de Cântico dos Cânticos.

Esse livro é uma exceção entre os livros da Bíblia – a Biblioteca Universal – que trata de todos os temas. Ele livro descreve o amor sem falar uma única vez em Deus, aquele que oferece o verdadeiro amor incondicional.

Se analisado como peça literária, apresenta vários personagens: o esposo -rei-, a esposa – a sulamita-, as filhas de jerusalém -amigas da esposa -, e o próprio poeta.

De forma superlativa e poética seu escrseoe narra as nuances do relacionamento entre um rei e uma mulher – descrita como bela - que em suas diferenças se completam, sem deixar claro se, só fisicamente, ou emocionalmente e espiritualmente também.

Nas entrelinhas das falas dos seus atores, descortina-se o cenário do cotidiano da época: a vinha, os rebanhos, o divã do rei, os perfumes caros, e muito romantismo.

Elemento muito sutil transparece para quem o queira perceber – o preconceito contra a pele negra!- “Sou morena, porém, bela!” No texto a Sulamita, tenta justificar-se por ser ou estar morena, como se tal fato fosse um crime. Cap.1, verso cinco. A mulher que se ama e se aceita não deve justificar-se por estar desta ou daquela forma, por não enquadrar-se ao gosto deste ou daquele homem.

No Brasil muitos recitam uma maldita frase meio antiga, porém, atual em seu conteúdo preconceituoso: “ É negra de coração branco”.

Frase que esconde o maldito preconceito: “É negra, mas, pelo menos, é bela”! Quem disse que para ser bela tem que ser branca?

A Sulamita era morena e possivelmente queimada de sol.

Autores como Stuart, citado em W. J. Cameron, explica a cor morena, como resultado do sol causticante na região desértica, ao qual ela ficara exposta ao cuidar das vinhas de seus irmãos irritados com ela. Como se houvesse necessidade de alguém justificar-se por ser desta ou daquela cor de pele. Provavelmente a Sulamita não usasse nenhum tipo de filtro e protetor solar.

Pode-se estabelecer o contraste entre esta história e a história da judia chamada Ester, ou Hadassa, que após enfrentar um grande concurso de beleza" daquela época, e vencê-lo foi viver no Palácio em Susã na companhia do rei Assuero, que em hebraico significa ('ªhashwêrôsh) - ou (Khshayarsha), nome do rei persa que teria vivido por volta do ano (486-465 A.C.), identificado por alguns estudiosos como sendo Xerxes.

Ester era uma moça judia, a qual - mantendo sigilo quanto à sua origem - agindo de forma sábia numa situação arriscadíssima, - instruída por seu tio Mardoqueu impediu o povo judeu sofresse um cruel massacre. Sobre essa moça o texto reforça: “judia, jovem, virgem e bela”, e órfã criada por seu tio Mardoqueu.

Qual ou quais os pontos de semelhanças entre ambas as histórias? Vários! No aspecto físico, no plano humano e espiritual.

Plano humano. Ambas eram jovens cuja beleza estonteante, provocou paixão no coração dos reis, o texto reforça: “JOVEM, BELA, VIRGEM! Capitulo 2.7. Traços físicos estavam acima de qualquer traço de caráter. Muito embora elas tivessem bom caráter. Quanto ao aspecto espiritual, percebe-se nas entrelinhas que Ester era temente a Deus. Quanto à Sunamita não se sabe.

O texto reforça que Ester: “era VIRGEM, FORMOSA, ESBELTA, e ÓRFÃ.

Uma típica Miss Universo.

Qualidade que pesariam na escolha da mulher que substituiria Vasti, a rainha deposta - por um motivo de machismo do rei, ou rebeldia da parte dela, cabe as duas interpretações -, por esta haver contrariado uma atitude de ostentação do rei Assuero, que desejava exibir sua beleza ao s príncipes presentes em um banquete, ao que ela não compareceu.

Tal atitude custou-lhe a coroa. Porém, Vasti também era bela, porém: óbvio, não era mais virgem, nem tão jovem, já havia caído na rotina dos desejos do rei.

Ocorreu nesta época o que eu chamaria de 1º Concurso de Miss Beleza Palaciana, para elevar Ester ao pódio. Uma injustiça contra a esmagadora maioria das demais jovens ali presentes, que se perpétua na atualidade através dos malditos concursos de beleza física feminina. Na atualidade o item “virgindade” não é critério para tornar alguém eleita. Se, assim o fizessem, achar-se-ia mulheres virgens e belas?

Desde os anos 400 a.C., o homem é um ser visual, como bem o coloca vários autores contemporâneos ao referirem sobre comportamento masculino. O homem apaixona-se pelo visual, beleza da “embalagem”, é conduzido pelo instinto, pelos olhos, olfato – perfumes caros como elementos essenciais para satisfazer suas fantasias sexuais. A mulher é vista como um objeto para satisfação. Raramente como um ser humano com necessidades que também precisam ser satisfeitas.

Desde muito a mulher é vista como simples adereço para enfeitar o ambiente masculino, vista como objeto para sua satisfação sexual. Uma espécie de “troféu” , de preferência jovem e branco, para ser exibido a seus concorrentes ou companheiros de lutas e conquistas.

Hoje não é diferente. Triste é que muitas mulheres jovens colaboram para perpetuação destes vilipêndios no cotidiano feminino. Mulheres “temporariamente escolhidas”, não titubeiam em construir sua fama e até fortuna em cima da desdita das não “escolhidas”.

Quantos homens lutam ao lado de uma mulher até seus cinquenta e poucos anos, quando então partem em busca de outra com metade de sua idade para com ela aparecerem em público, seja num shopping center, em reuniões no palácio da República, nas grandes empresas, ou televisão. Tais homens esquecem-se de que também são velhos. Sentem vergonha de aparecer em público com a companheira de todas as lutas do passado que querem esconder.

Porém, não sentem vergonha em humilhá-las com tamanha discriminação por haverem envelhecido. Situação da qual nenhuma mulher tem culpa, nem pode escapar. Um problema discriminatório tão antigo quanto a humanidade.

As “Vastis” na pós modernidade, são rejeitadas por não mais possuírem o hormônio da atração, o chamado feromônio. Por não mais possuírem o viço na pele, ou não mais gerarem filhos. São literalmente abandonadas como se fossem um “fusca velho”. Há se meu fusca falasse”!

Refletir: O Jornalista Jorge Pinheiro em sua abordagem ressalta que a mulher negra africana pode se alegrar ao afirmar:

“Por isso, as cristãs africanas e descendentes podem, conscientes de

sua raça e cor, dizer junto com a Sulamita: "Eu sou negra e bela, como as barracas do deserto, como as cortinas do palácio de Salomão".

Será que verdadeiramente as mulheres negras, sejam elas africanas ou ocidentais, tem de que se orgulhar ao ler ou pronunciar esta frase? Não haveria embutido nesta sua firmação um preconceito racial quase embutido, disfarçado e encoberto?

A mulher tem outros motivos para alegrar-se. Por ser pessoa com os mesmos direitos que todos tem, muito embora tais direitos na prática não sejam reconhecidos nem postos em prática.

Por possuir capacidade intelectual idêntica a qualquer homem, e muitas vezes até maior capacidade.

Um homem teria dificuldade em vivenciar tantos papeis simultaneamente como a mulher consegue. Ser mãe, filha, esposa, dona de casa, empregada no serviço, secular, aluna numa faculdade, professora em casa e fora dela, entre outras muitas atividades. Sem falar no parto. Que homem passaria pela dor do parto sem "dar a luz" só de medo e dor psicológica?

Muitas formas de preconceito desvelado ocorrem na atualidade. É comum vermos homens negros, inclusive africanos se casarem com mulheres brancas. Não seria esta uma forma de preconceito camuflado?

Sendo esta uma prática discriminatória para com a própria tribo e raça. Na realidade o homem é bastante volúvel e visual. Em sua grande maioria só escolho corpo, a carcaça que lhe enche os olhos e pode ser mostrado como troféu as demais. Dificilente deseja, ou leva em consideração o conteúdo interior. Não olha caráter, virtudes ou bondade.

Essa forma de querer utilizar uma tradução de parte do texto ou contexto para ser utilizado como amenizador contra o racismo é balela! O racismo está presente em meio à humanidade desde os tempos bíblicos, sem solução, sem controle real.

Não basta escreverem-se pautas e mais pautas recriminando tais atitudes, porém, na prática do dia a dia, atitudes racistas e preconceituosas continuam sendo de uso normal aceito. são elemento de marketing elogiado nos programas de TV.

Os quais são os maiores modeladores de opinião, como ocorre a dezenas de anos através dos malfadados concursos de belezas, discriminatórios, que enaltecem meia dúzia de mulheres em detrimento da esmagadora maioria que fica no escanteio da realidade e ainda aplaudem tais concursos contra seu direito à igualdade e cidadania, por falta de espírito crítico e capacidade de análise sobre as informações recebidas.

O referido jornalista, ao que parece reforça: “Não há problema ser negra, porque ela é bela”! E se não fosse?

É tempo para todo e qualquer elemento feminino refletir e não aceitar mais este tipo de propaganda massificada, a empurrar-lhe goela abaixo que o modelo padrão de beleza é a mulher branca, sem emancha e jovem. As demais que se conformem com sua baixa estima, e lutem para esquecer as discriminações e preconceitos por não nascerem com o padrão de “beleza” cobiçado e desejado pelos homens desde os anos 400 a C.

A mulher tem outros motivos para alegrar-se. O rei Davi escreve nos Salmos, Jesus, e o apóstolo Paulo trazem enfoques bastante diferenciados para esta situação. Deles podemos aprender um pouco mais:

Nos Samos 121.1 “Alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor”.

Nada de alegrias por ser negra e bela! A beleza física, cedo ou tarde se acaba, seja para brancas ou para negras. A beleza interior é a única que permanece, sendo a melhor de todas. O apóstolo Paulo afirma em Filipenses 4.4 “Regozijai-vos sempre no Senhor, outra vês digo: Regozijai-vos”. No Senhor, em sua presença, em sua bondade. Ele não é perverso, nem preconceituoso como o é o homem.

Todos estes textos no trazem à lume a verdade, que o grande motivo para a alegria feminina deve ser resultante da presença divina em suas vidas e nunca, jamais por coisas transitórias e passageiras, como o é a beleza física, ou o frescor e alvura da pele, seja no Ocidente ou no Oriente.

“Já que, para o Ocidente, a história de uma mulher sábia não combinaria com a história de uma negra, tal leitura produziu uma terrível alienação na igreja cristã européia e norte-americana, que levou ao terror e ao medo do "outro de cor negra". Dessa maneira, o "outro de cor negra" foi seduzido, subjugado e domesticado. E a leitura que se fez do texto é que Sabá capitulou a Salomão e tornou-se culturalmente branca”.

A menção que no Ocidente a ideia de uma mulher sábia não combinaria com uma mulher negra, dá visibilidade ao fato de que existe preconceito também no Ocidente, (leia-se Brasil), inclusive nos meandros evangélicos.

Quantas mulheres negras tornaram-se lideres de renomes nas denominações evangélicas seja no Brasil?

Pelo contrário, as mulheres em destaque nas igrejas televisivas tingem seus cabelos de loiro.

Mesmo na América do Norte onde os negros do Brooklim não se misturaram com os brancos desde os tempo de Martin Luther King, para não dizer que ainda existe lá universidade e espaços bem específicos para cada grupo étnico.

Quantas mulheres negras ocupam ou já ocuparam cargos de destaque nas lideranças evangélicas?

Sem brasão? Sem projeção! Isto não denota discriminação?

Para que permitir que a mulher estude Teologia, se não lhe será dada a oportunidade a ser pastora?

Qual a razão disto? Onde a Bíblia enfatiza que ter um órgão masculino é critério para uma vocação, ou capacita alguém a ser mais eficaz no trabalho da prédica que outro sexo?

Se, no céu não se casam e não se dão em casamento. Qual a razão para na terra, a mulher não poder pregar a palavra no púlpito? Na segunda década do milênio, tal situação está se modificando lentamente.

No entanto, ainda parece ser mais cômodo escrever para que a mulher negra se alegre em ser bela, e as demais se contentem em “serem moderadas”.

Ou seja: “Calem a boca”.

nana caperuccita
Enviado por nana caperuccita em 26/10/2011
Reeditado em 27/09/2017
Código do texto: T3299031
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