As Cortes e a Justiça

Charles Ribeyrolles jornalista político francês, que também foi companheiro de exílio de Victor Hugo, escreveu o livro 'Le Brésil pittoresque '(Brasil Pitoresco) que foi publicado em fascículos na França em 1858.

Nessa obra há um capítulo inteiro dedicado a Joaquim José da Silva Xavier e a busca de libertação do Brasil. Ele nota que apenas em cinco décadas "os episódios que deram forma e o sacrifício de José Xavier tinham sido eficazmente subtraídos da memória popular pelas autoridades".

Em seu texto, Ribeyrolles comenta "a forma de agir dos tribunais da Corte, notadamente no caso de Joaquim José da Silva Xavier: o sangue dos homens não os satisfaziam. Eram-lhes necessários a dor supliciada, os sofrimentos desesperados, as agonias lentas, as profanações dos cadáveres e a infâmias póstumas."

Mas Ribeyrolles também nota "que os poderosos tribunais não ousaram executar todos aqueles que tinham o mesmo grau de culpabilidade diante das Cortes, como José Xavier". E nosso Joaquim José da Silva Xavier, de fato, entrou para a história do Brasil como aquele que recebeu a penas mais altas no considerado crime de lesa-majestade.

"No grande teatro montado para a repressão ao movimento de libertação, registrado no processo, conhecido como 'Autos da Devassa', o gênero da farsa falou mais alto: antes mesmo que fossem concluídos os interrogatórios, uma carta do Reino já 'sugeria' que Tiradentes fosse decapitado."

Charles Ribeyrolles escreve: "sucede quase sempre assim nos processos políticos: a distribuição das penas é detidamente estudada e previamente estabelecida. Certamente para preservar as cabeças que interessava preservar (como as da 'elite infiel') muito provavelmente para que haja maior controle sobre os desdobramentos."

O jornalista francês ainda estabelece uma inteligente comparação de atribuição de destinos: George Washington se tornou herói por romper , em 1776, o que ligava a colônia americana ao reino inglês. É certo que o projeto semelhante no Brasil não teve o mesmo êxito, mas Ribeyrolles, com perspicácia indaga na época "não seria o caso de considerar José Xavier, pelos mesmos motivos de Washington, também um herói?"

Mas a pergunta do jornalista não fazia eco, mesmo cinco décadas depois, num país em que Tiradentes era ainda visto com repulsa ou, então, simplesmente ignorado.

(cf. Daniel Vieira Helenne in "Rebeldes brasileiros: homens e mulheres que desafiaram o poder", F. 10, São Paulo:Casa Amarela.)