1931-(I) TROVAS DOS PATRONOS (Cadeiras 34 a a 35 )DA ACADEMIA MINEIRA DE TROVAS–(Parte 20-I)-Entrevistada: Sílvia Araújo Motta

1931-(I) TROVAS DOS PATRONOS (Cadeiras 34 a a 35 )DA ACADEMIA MINEIRA DE TROVAS–(Parte 20-I)-Entrevistada: Sílvia Araújo Motta

CADEIRA*34-PATRONO NA

ACADEMIA MINEIRA DE TROVAS/BH/MG/BRASIL:

34-ODETE DONAH(Olímpia Duarte Caldas)

Pelo caminho da vida

de duras pedras, calçado,

vou deixando, adormecida,

a saudade do passado.

“Bruma Seca”, simbolizas

tanta coisa em minha vida:

-a fé, a crença e a ventura

e esta saudade dorida.

Contemplando a caminhada

que fiz e que atrás deixei,

debrucei-me sobre a vida,

e, de saudades, chorei.

A esperança, na leveza

de suas asas sutis,

tudo transforma em beleza,

em manhãs primaveris.

Não gosto de ver o adeus,

do sol num entardecer:

-Lembro-me dos sonhos meus,

um por um, que vi morrer.

Saudade, luz esfumada,

que, ao longe, vejo pairar,

creio que vens da balada

de uma noite de luar.

O sol, na sua beleza,

já domina o azul dos céus,

recriando a natureza,

dando ajuda à mão de Deus.

Quiesera ter o prazer

que todo troveiro tem,

de ver na boca do povo

as minhas trovas também.

A vida, o amor... tudo passa.

A glória passa também.

E, do que passa, só fica

a dor que disso nos vem.

Eu bendigo a mão de Deus,

essa mão divina e boa

que, do infinito dos céus,

guia o cisne na lagoa.

---***---

CADEIRA*35-PATRONO NA

ACADEMIA MINEIRA DE TROVAS/BH/MG/BRASIL:

35-ZILDA NOVAES

As suas mãos enrugadas

às minhas se entrelaçaram,

lembrando emoções passadas

que em nossas almas ficaram.

Ó mulher, bendita seja,

se trazes no ventre um filho,

é como a flor que viceja

doando à vda mais brilho.

Primavera é um poema

feito pela natureza,

sobre a terra um diadema

de encantadora beleza.

Em nossa vida cansada,

esperamos que desponte,

como o sol na madrugada,

a luz em nosso horizonte.

Neste teu olhar brejeiro

de meiguice misturado,

sou um feliz prisioneiro

em teu amor algemado.

Pálidas folhas caídas

quando do inverno ao rigor...

são quais ilusões perdidas

de quem não eteve um amor.

O verdadeiro poeta

com sua alma de cristal,

ao sentimento de esteta

torna-se sempre imortal.

Pobre escravo na senzala,

nos pés, pesados grilhões,

a dor em seu peito cala,

morrem nele as ilusões.

Revendo nosso passado,

no velho arquivo, encontrei,

aquele beijo roubado

e de saudades chorei.

Uma cantiga dolente

pela estrada vou cantando,

cantando pra mim somente,

meu coração escutando.

Vento agitando a cortina

da minha sala de estar,

faz-me lembrar a campina

em seu verdoso ondular.

Não há carícia mais bela

que nos fica na lembrança

e, talvez, a mais singela:

o sorrir de uma criança.

Numa síntese escorreita,

fala de mágoa e de amor

e faz a trova perfeita

o poeta trovador.

Linda tela coorida,

feita pelo Criador,

é a primavera querida

em seu sublime esplendor.

Em nosso saber profundo,

a realidade comprova,

não há ninguém neste mundo

que não goste de uma trova.

---***---

Silvia Araujo Motta
Enviado por Silvia Araujo Motta em 09/09/2008
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