O REI DO SERTÃO (retalhos de uma vida)

José Ribeiro de Oliveira

Uma mulher bonita, faceira e dengosa,

Um cachorro trigueiro e um cavalo bom,

Um chapeu de couro, um laço e um gibão

Sou filho do agreste e o rei do Sertão.

Eu nasci ouvindo aboio,

Dos vaqueiros nas fazendas,

Que cantavam seus lamentos

Aventuras e contendas.

Aprendi toda a toada,

Andando nas vaquejadas,

Nos versos fazendo emendas...

Fui crescendo na peleja,

Dos rodeios nos currais,

Bem cedo já campeava,

Para ajudar meus pais.

Andava pela caatinga,

Já aprendendo a mandinga,

Que um boi mandingueiro faz...

Meu pai era um sertanejo,

Daquele que não se cansa,

Que levanta é madrugara,

E só volta na tarde mansa,

Trazendo toda a boiada,

Separando a bezerrada,

Para dar leite às crianças...

Minha mãe a flor da casa,

Prenda do lar e da lida.

Sem ter leitura dos livros,

Cabocla muito sabida.

Passava roupa e lavava,

Bordava e costurava,

E ainda fazia a comida...

Irmãos tive não sei quantos,

Todos fortes, bem nutridos.

Mas o destino da gente,

Traça logo o seu sentido.

Espalha todos no mundo,

E os filhos de seu Raimundo,

Tão aí distribuídos...

Namorei uma pequena,

Morena bela e faceira,

Pensei logo em casamento,

Naquela paixão primeira.

Meu pai me disse menio,

Vai cuidar do teu destino,

Deixa de fazer besteira...

Quando eu era menino,

Esperto vivo e ligeiro,

Queria por profissão,

Ser um famoso vaqueiro.

Ter um cavalo arriado,

Pra correr atrás do gado,

E ganhar muito dinheiro...

Mas meu destino foi outro,

Não sei se bom ou rasteiro,

Por causa dela mandaram,

Eu pro Rio de Janeiro.

Estudar pra ser doutor,

Pois então deixa que eu vou,

Mas não vou voltar ligeiro...

E depois de trinta anos,

Voltando já diplomado,

Parecia que foi ontem,

Que desmanchei meu noivado.

Tudo se refez na mente,

Mas tudo aqui no presente,

Está tão modificado...

E o tempo foi traiçoeiro,

Deixou meu pai combalido,

Roubou-lhe toda a saúde,

O prazer de prosar comigo.

Rou Lhe sua visão,

E também sua audição,

Me deixou tão deprimido...

E encurtou demais o tempo,

Deus veio logo e o levou,

Deixando imensa saudade,

De um tempo que não passou.

Do jeito que eu queria.

Para lhe ver todo dia,

Nas peripécias de avô...

Professor José Ribeiro de Oliveira
Enviado por Professor José Ribeiro de Oliveira em 10/05/2010
Reeditado em 14/01/2011
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