TROVINHAS DE AGOSTO A OUTUBRO

tropicalista

se tropeça mal tropica

na beirada da varanda

mas o tombo freud explica

na caminha mais desanda.

* * *

DESARVOREDO

desarvora no arvoredo

bem-te-vi numa enrascada

mudo canto, canto ledo

não ouvi na trovoada.

* * *

Trova no telhado

brota aqui mais uma trova

que não é nova nem é velha

é a poesia que comprova

que teu amor me dá na telha.

* * *

a cigarra, oh! coitadinha

canta cantos tão dolentes

quando esconde de noitinha

suas luas transparentes

* * *

vento bate na janela

bate nela uma saudade

a canção da minha goela

foi morar noutra cidade.

* * *

vão andando pela estrada

alteroso e alterosa

como quem não pensa em nada

não se dão dedo de prosa.

* * *

amplidão

amplidão é mar azul

que derrama horizontes

nos verdes campos do sul

com arco-iris nas fontes.

* * *

quando penso na cachopa

também viro português

não dou prego sem estopa

vira, uma a cada vez.

* * *

ternura

a ternura é muito forte

é a força da mulher

você vai faca de corte

perde o corte na colher.

* * *

SAUDADE

À saudade eu mostro o rosto

há no campo algum orvalho

só não sinto que é desgosto

caviar com tanto alho.

* * *

luar

no luar que me alua

é morena a pele dela

ai meu deus que vida crua

só olhar prá essa janela.

* * *

paixão é o que há de melhor

um nó cego, e uma chama

aconchego em sol maior

- a mulher que amo e me ama.