Condenada.

Alma sombria que pelo mundo vaga

a procura de abrigo, afeto, ternura

quiçá sejam as lagrimas tua paga

pela dor que semeaste em amargura.

Nao te é lícito o encontro do perdão

fostes motivo de muita dor, outrora,

muitas vidas tombaram por tuas mãos

pelo suplício delas que sofres agora.

Ó alma que claudicante se arrasta

rumo ao destino que tu mesmo selas-te

e assim de ti toda ventura se afasta

por obra tua do amor que negas-te.

Recorda dos gritos dos vencidos

dos mutilados que tu aviltastes

silencia pois, teus proprios gemidos

em tributo do mal que causas-tes.

Segue trôpega pelo peso do castigo

que assomas-te em teu próprio mister

tu traís-te teu único amigo

e hoje és a sombra que nao pode viver.

Descem de teus olhos duas lagrimas frias

como as lapides tantas que fizeste plantar

sao de ti o réquiem cujas palavras terias

se um tumulo tivesses para te abrigar.

Fostes maldita por teu próprio escrutínio

vagas pela terra em profundo pesar

alma doente em perene declinio

que te seja liçao esse imenso penar.

Venha breve para ti o cair dos véus

que te mantem presa de tua ilusao

possam teus olhos mirarem os céus

e em tua alma habitar de novo um coração.