TROVAS

Ao que canta, basta o canto,

para carpir sua dor,

para derramar seu pranto,

basta a trova ao trovador.

Na minha grande fraqueza,

num poço fundo, sem luz,

descobri a fortaleza,

da mão firme de Jesus.

Depois de tantas andanças,

ao velho restam seus ais,

voltar a velhas lembranças,

recordá-las, nada mais.

A trova não tem ciência:

carece de intuição,

um pouco de inteligência

e de muita inspiração.

O belo sol nascediço,

vem de luz encher meu quarto;

eu acordo, e me espreguiço,

e agradecido me farto.

Quem me dera um dedo só,

o menor da minha mão,

da paciência de Jô,

da fé que teve Abraão.

Não teriam mais sentido

meus sentidos sem você,

pois fico todo perdido

quando um deles não lhe vê.

Tem três fases na gaveta

da vida de um velho pai:

a de rei, a de careta,

e a de bom, quando ele vai.

A cor dos teus olhos faz

o que só fazem os vinhos:

Me embriaga e é bem capaz

de embriagar os vizinhos.

Se tenho amor nas entranhas,

e se cultivo o perdão,

as suas faltas tamanhas,

perdôo-as de coração.

Eu não consigo ocultar

a dor que aqui dentro sinto,

se a boca tenta negar,

meus olhos mostram que minto.

Deus excede a imensidão

dos campos, dos céus, dos mares,

mas cabe em teu coração

se humildemente O buscares.

Se meu presente é tão bom,

eu devo muito ao passado,

ele foi que deu meu tom,

e me manteve afinado.

Somente tenho singrado

em águas rasas, serenas,

eu sou barco sem calado

e tenho velas pequenas.

Há certo tipo de amor

que a gente nunca se esquece:

na lembrança – morta a flor –

seu perfume permanece.

Raymundo de Salles Brasil
Enviado por Raymundo de Salles Brasil em 25/06/2012
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