SAUDADES DA MINHA INFÃNCIA

Ah que saudades da minha infância...

Daquela menina a brincar de esconde-esconde

Ver o dia acabar e ninguém me encontrar

Brincar de médico ou mãe e filho, isso pouco importaria

Mas, no fazer de contas, tudo eu podia.

Ser professora a dar aula pra bonecas assustadas

Ah... Como eu gostaria!

Ah que saudades da minha infância...

Dos tombos de bicicleta

Dos carrinhos de rolimã

De ver a noite cair sem uma ponta de voz nos dias em que eu me punha a gritar.

Ah que saudades da minha infância...

Tentada pelas guloseimas preparadas por minha mãe

- Mas que menina magra! Quando é que vais encorpar?!

A coitada mais parecia a bruxa malvada querendo me jantar!

Ah que saudades da minha infância...

Das histórias de assombração que a mãezinha contava

Não faltava: Lobisomen, mula sem cabeça, mulher de branco ou sei lá...

E quem disse que eu dormia sem a cabeça tapar?...

Ah que saudades da minha infância...

Quando banho era castigo

Só doido, trocava a brincadeira por asseio...

Não incomodava o pescoço ornado com negros cordões de suor e poeira

Ah!... Talvez essa seja a tradução perfeita

Isso é ser uma criança verdadeira!

Ah! Que saudades da minha infância...

Dos passeios que fazíamos, sem luxo, sem riqueza

Aquilo sim era uma beleza

Pura liberdade de expressão!

Construir castelos na praia

Vê-los virar buracos quando a onda os lambia

E, ao fim do dia, a arte se misturava com a poesia.

Eu, menina vaidosa, toda prosa,

Pensava estar mais bela

Iludida com um bronzeador que comprara

Mas ao chegar em casa, que bronze, que nada!...

Após o banho vinha a constatação

Estava mais branca que vela de procissão!

E o tempo passava, numa mocinha eu me transformava

E a vaidade também crescia

A catar conchinhas na praia um belo colar eu fazia

Ao usá-lo uma sereia eu me sentia

Mas a criança ainda insistia em bagunçar

Ir à praia pegar jacaré ou boiar com bóia de borracha

Sem me importar em encher os fundilhos do maiô com a areia

Caçar tatuí na beira do mar e pedir à mãe pra fritar

Hoje, esse crustáceo quase não existe

Quiçá no futuro o iremos encontrar!

Mas quem na idade madura se atreveria revelar essas proezas?

Pois eu não me envergonho

Ao contrário, penso ser motivo de orgulho!

E por que não seria?

Não mais existe criança hoje em dia

Infância é algo em extinção.

Pequenos, querendo ser adultos,

Antecipando o seu tempo

Adultos, querendo parecer jovens

Linguagens, imagens, que não condizem com idade ou geração.

Esse mundo tá mesmo perdido!

Mas não desejo voltar no tempo

Do passado, guardo doces lembranças

Do meu tempo de criança

No presente, sou muito feliz

Planejo viver muitos anos

Afinal, o futuro me espera

Bem debaixo da minha janela

Bem debaixo do meu nariz!

Malu Harrison
Enviado por Malu Harrison em 28/08/2012
Reeditado em 28/08/2012
Código do texto: T3852769
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