Balada do Emigrante Luso - Quadras

De: Silvino Potêncio >...  Balada do Emigrante Luso...

Pelas ruas da amargura,
Eu passeei o meu coração.
Vi todos de alma pura,
A caminho da emigração!
 
De longe... lá do fim do mundo,
Aonde a saudade é remota.
Eu desci ao poço sem fundo,
Quando eu voltei à minha porta.
 
Nesta minha volta a casa,
Encontrei tudo tão mudado.
Como pássaro que não tem asa,
Eu me tornei um "Retornado"!
 
Vivi triste e sem destino,
Passeio na rua acabrunhado.
De volta ao meu caminho,
Eu orei ao Senhor Roubado!... 
 
Mas foi tudo tão de repente,
Num apíce os anos se foram...
As chagas desta corrente,
Na flor da vida 'inda moram!
 
Trovas que me trazem à Alma,
A dor desta grande ilusão.
No cair ninguém dá a palma,
E o outono sucede ao verão!
 
As glórias de tais insucessos,
São lembranças esmaiecidas.
Nos passeios há tropeços,
E nas casas almas vencidas! 
 
É, pois... com tanta candura,
Que eu passeei o meu coração.
Nas ruas desta amargura,...
Desta minha saudosa condição.  
 
Os frutos do meu paraíso,
Não me chegam a tais lonjuras.
Penso neles com sorriso,
Na sombra de noites escuras!
 
Fico à espera da Primavera,
Onde a esperança ainda mora,
Nem sou sonho nem quimera,
Eu apenas me vou embora!
 
Vou descendo lentamente,
Como a neblina incessante.
Cobrindo na minha frente,
O meu caminho emigrante!
 
Lá no fundo em recondito, 
Lugar de extrema esperança, 
Já se me solta um grito!...
Vou me embora, vou p'ra França! 
 
E um dia quando eu voltar, 
De novo à minha terra natal, 
Terei que parar de emigrar,
Porque voltei a ti Portugal!...
 
Nas Ruas da Minha Aldeia,
Aonde eu corria em pequenininho.
Hoje só trago na ideia,
De lá voltar a andar devagarinho!...
 
Devagar se vai ao longe,
E não adianta o mundo correr,
Emigrante, Leigo ou Monge,
Um dia todos vamos morrer!  
  
(in: “POESIAS SOLTAS”)
Autor : Silvino Potêncio - Janeiro/2008
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil
 
Nota do Autor – Este meu poema -  revisado em Abril/2017, foi incialmente dedicado à Memória do Meu Irmão Zé Bico (Falecido em Novembro de 2008), e publicado no meu Blog: http://zebico.blog.com  o qual se encontra bloqueado sem nenhuma justificativa por parte de quem o bloqueou!
O Portal "portugalmail.pt" foi o responsável pelas publicações "blog.com" mas nunca me respondeu às minhas muitas solicitações feitas directamente por email desde Maio de 2016!  

Por isso e depois de ter desistido em reavivar os meus 3 Blogs: "ZEBICO" + "OSGAMBUZINOS" + "OS NÏZCAROS"  eu tenho  publicado aqui na minha Página Literária uma pequena parte dessa minha produção literária. Este em especial  é dedicado agora  também “IN MEMORIUM”   depois da morte da Minha Irmã,  Maria de Lourdes Potêncio,  que foi Emigrante em França durante muitos anos.
-  Nas últimas visitas que fiz à nossa Aldeia era ela que me acompanhava pelas Ruas de Caravelas,  para me ajudar a relembrar os nomes dos Parentes e Conterrâneos que ali ainda moravam.
Em Setembro de 2016 foi quando eu a vi pela ultima vez ainda viva... e tal como eu já divulguei em outros espaços virtuais, ela teve a Morte mais triste de que se tem memória lá na Aldeia. 
- Era Viúva, sem Filhos, mais de 74 anos de idade. Doente e sem forças para subir ao andar de cima para fazer "lume", nem uma malga de caldo lhe deram...
Morreu na Adega da Casa dela sózinha... era 03 de Fevereiro de 2017,  o dia de São Braz, Padroeiro da Aldeia de Caravelas no Concelho de Mirandela. 

Com estas quadras quero lembrar aqui também o dia que foi o meu primeiro dia de Emigrante,  na Primavera  de 1962 eu tinha ainda apenas 13 anos de idade e por isso Emigrante eu o serei até que Deus me leve!... para junto dela aonde estiver porque agora "já não trago na ideia de lá voltar à Aldeia para andar devagarinho!".
Fica em PAZ minha Irmã... Maria "Bica" de Caravelas de Mirandela, Adeus até quando Deus quiser!  

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 03/03/2013
Reeditado em 15/11/2019
Código do texto: T4169260
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