À SACRA ÁRVORE

Amiga de todas as horas

Morava num palmo de terra

De vida tão silenciosa

Não tinha instinto de guerra.

Doava beleza gratuita...

Dos breves amanheceres

Às tardes todas descíduas

Um templo de agradeceres.

Em meio às tempestades

Em firme resiliência...

Mostrava que toda cidade

Sem ela é só decadência.

De grandes raízes profundas

Zelava seu palmo de terra

Jamais se sentiu moribunda

Saúde cedia à atmosfera.

Os pássaros seus inquilinos

Locados em todos seus galhos

Cedinho saiam dos ninhos

A lhe picotar meus abraços.

No inverno chovia suas folhas

Em cenário de felicidade

Suas mãos sempre acolhedoras

Arquitetavam a paisagem.

Em nuanças da primavera

Embora tão majestosa

Mantinha postura discreta

Naturalmente formosa.

Brilhava no meu lusco- fusco

Qual ouro polido em abraço

Dar fôlego era seu atributo

Ao ar...a sanar só pecados.

Um dia foi pega na lida

De grata sustentabilidade

Ceifada em seiva genuína

Tombou na insensibilidade.

Tentei lhe sanar o destino

Roguei às autoridades:

O tempo venceu meu sentido...

Tombou só deixando saudades.

Promessa que suas sementes

Seriam disseminadas...

No chão da cidade dormente

Morrida sob um céu de fumaça.

Em trovas no seu dia hoje

Lhe choro a minha homenagem:

Lamento nosso tolo engano:

Carbono à nossa insanidade.