ALQUIMIA DAS FLORES

Veio flor só por acaso...

Num jardim de intempéries

Às vezes tomada a laço!

Num buquê desses em séries.

Pela terra tão sofrida

Não lhe havia lugar

Que pudesse resolvida

Seu direito desfrutar .

Conheceu todas as flores

Da mais meiga à mais sisuda!

Respirou todos os odores

Deslizou os pingos das chuvas...

Percebeu tanta vaidade

À esbarrar sua natureza

Almejou sinceridade

Só sem flor...sem realeza!

"Antes fosse margarida"

Por um dia desejou

Não ser tão desprotegida

Por quem nunca lhe cuidou.

Teve sonho de ser rosa

Prontamente desistiu...

Não seria tão cheirosa

Nobre flor de cores mil...

E assim ia crescendo...

Qual criança distraída

Em ser flor sorte havendo

Só seguia agradecida.

Certo dia adolesceu...

Nem espelho ali havia

Num jardim que sem ser seu

Só espinhos lhe trazia.

Nunca vira a sua face

Era flor...disso sabia

Precisava dum realce

E cumprir a sua sina.

Ali fez laços bem soltos

Percebeu-se sem raiz

Não fincava o solo roto

Parecia uma aprendiz...

Quando um dia veio o vento

E tão logo lhe tocou

Entendeu-se com alento:

Numa sépala que soltou.

Foi assim que decidiu:

Teria que rebrotar!

Certa noite então partiu

Decidida a não voltar.

Na manhã de alvorada

O sol manso iluminou

Ela toda, já florada!

Em Orquídea se aprumou.

Quando a tarde então caía,

Bem cansada de florar

Fez sua grande alquimia

Já sabia encantar...

Caminhou no bosque verde

Até à lua enfeitiçar...

Descansou qual belo enfeite

No braço dum Resedá.