PALAVRAS

Penso cá com meus botões

Nos primórdios das palavras,

Pouca gente em seus grotões

Garimpando o “PI” em lavras.

Que tristeza da pesada

Sem palavras, sem falar,

Com a sua bem amada

Só calor em seu olhar.

Pras moçoilas de então

Lá no peito uma dor:

Sem palavra, sem canção,

Que cantasse o seu amor.

Na mais triste solidão

Da conversa inexistente,

Ao cair da tarde então...

Nó no peito, ao sol poente.

Penso sim que o pensamento

Alojado na memória

Filho é do casamento

Da palavra com essa história.

Com a palavra a gente brinca

De mostrar e de esconder,

Disfarçando a nossa trinca

Só mostrando o bom de ver.

Com a história a gente chora

O deixado por fazer

Num passado que foi embora

Carregando o acontecer.

As palavras já fizeram

Inimigos figadais

Que na vida se perderam

A viver como rivais.

E as palavras não se emprestam

Nem se alugam pra ninguém,

São palavras que nos restam

Não restando mais vintém.

Quando livre dessas tretas

Eu me entrego à inspiração,

Busco rima em minhas letras

Que me sopra o coração.

Quanto aos tempos já passados

Digo apenas o seguinte:

Nossa herança são legados

Construídos com requinte.

A palavra então presente

Virou sim conto de fada:

Uma dama reluzente

Numa noite enluarada.