O poeta e a saudade
Minha amiga, essa saudade,
que eu carrego no meu couro
faz brotar em mim o choro
pois são gotas da verdade.
São lembranças do passado
coisas bobas que eu vivi
são as bolas que eu enchi
e as águas do meu nado.
Foi o trampo que arrumei
bem garoto, no primário,
para mim então comprei
um relógio ordinário.
Que eu amava de paixão
via as horas, toda hora,
apesar de muito embora
não ter hora, nem razão.
E a pelada na estação
que eu jogava distraído
do jantar, que já servido,
requentava no fogão.
E as queimadas lá na rua
sob aquela luz mortiça
apagada pela lua
Oh! meu Deus, quanta preguiça!
E a primeira namorada
coração batendo a mil
não há quem nunca sentiu
essa louca disparada.
O viver é a minha cura
que me arde lá no peito
que me faz sentir direito
o prazer dessa loucura.
Meu poema é um remédio
que me livra da mesmice
apesar da esquisitice
moro longe do meu tédio.
Trovador com muito gosto
só não gosto de tristeza
quando triste, eu lavo o rosto,
e me embrenho na leveza.
É uma bênção escrever
nesse mundo do concreto
ter o falo sempre ereto
com tesão sempre viver.