OS NUTRIENTES DAS PLANTAS (2) - O Fósforo (P)

Na publicação anterior "Os Nutrientes das plantas (1) , abordamos sobre o nitrogênio (N) e o potássio (K). São os chamados micronutrientes primários, os quais as plantas precisam em maior quantidade. São os componentes dos adubos NPK. Outros textos sobre nutrientes, análise do solo, acidez, calagem, adubação, fertilizantes, fórmulas, etc... são encontrados no blog (http:/agronomiacomgismonti.blogspot.com)

O FÓSFORO (P)

Dos três macronutrientes primários exigidos pelas plantas, o fósforo é absorvido em pequenas quantidades. Mas sua presença no solo é indispensável para o crescimento e produção de grãos e frutos. O fósforo é importante para a realização da fotossíntese.

O fósforo, na planta, apresenta uma grande mobilidade. Em casos de deficiência, o fósforo tem a propriedade de mover-se dos tecidos velhos para os mais novos.

A qualidade e o amadurecimento precoce de grãos e frutos estão relacionados com uma adequada nutrição de fósforo.

As plantas jovens absorvem o fósforo mais rapidamente o que permite um crescimento rápido e intenso das raízes em ambientes com níveis adequados do nutriente. Afirma-se que quando as plantas atingirem 25% da altura total, elas já armazenaram 78% de suas necessidades totais em fósforo.

Isto explica porque deve haver um suprimento adequado de fósforo no momento que as planats começam a germinar, particularmente em plantas de ciclo curto.

Os fertilizantes fosfatados sob a forma solúvel em água reagem, no solo, com o ferro, alumínio, argilas, matéria orgânica, formando compostos insolúveis não aproveitáveis pelas plantas. Por isto, uma cultura aproveita apenas 15 a 25% do fósfor aplicado como fertilizante.

Isto explica o porque das fórmulas de fertilizantes (NPK) apresentarem o teor relacionado ao fósforo em maior quantidade se as plantas exigem pequenas quantidades deste nutriente. Por exemplo: a fórmula 5-30-25 é um adubo NPK contendo 5% de nitrogênio (N), 30% de fósforo (P) e 15% de potássio (K). Nesta fórmula, o maior nutriente em quantidade é o fósforo (P=30).

Por que? Como vimos as plantas aproveitam de 15 a 25% do fósforo aplicado no solo. Portanto, a necessidade de se utilizar fórmulas com altas concentrações de fósforo para liberar aquela quantidade que a planta necessita para o seu desenvolvimento até a maturação. O restante do fósforo que foi fixado no solo será liberado com aplicações de calcário (calagem).

No solo, o fósforo é pouco móvel pois é firmemente retido não sofrendo com a percolação. Mesmo em campos irrigados, a água de drenagem apresenta valores de fósforo que não excedem a 1 mg/dm3. Sendo assim, as perdas de fósforo por percolação são desprezíveis. Entretanto, a erosão é a responsável pelas maiores perdas de fósforo. Na erosão, verifica-se perdas de matéria orgânica e partículas coloidais com fósforo.

Os fertilizantes fosfatados solúveis em água apresentam uma solubilidade alta. Isto se explica o conceito de que somente os fosfatados solúveis em água são aproveitados pelas plantas. Por causa desta solubilidade, o fósforo move-se a pequenas distâncias a partir do ponto de aplicação. Assim sendo, o volume de solo enriquecido com fósforo é pequeno. Isto tende a ser menor quando se faz uma aplicação nos sulcos do que quando se aplica em cobertura total.

No solo, o fósforo encontra-se fixado, imobilizado, adsorvido e disponível.

1. FIXADO – é aquela forma de fósforo mineral que se encontra combinada a outros elementos como cálcio, ferro e alumínio, formando compostos não assimiláveis pelas plantas. Esta fixação depende das condições inerentes a cada solo e pode ocorrer com maior ou menor intensidade.

2. IMOBILIZADO – é aquela forma de fósforo que se apresenta na fórmula orgânica não assimilável pelas plantas. Este fósforo torna-se disponível para a planta pela mineralização da matéria orgânica.

3. ADSORVIDO – é aquela fração de fósforo que se encontra preso ao complexo coloidal do solo tornando-se disponível através de trocas com as raízes.

4. ASSIMILÁVEL – é aquela parte de fósforo que se encontra diluído na solução do solo sendo facilmente absorvido pelas plantas.

FÓSFORO DISPONÍVEL = FÓSFORO ADSORVIDO + FÓSFORO

ASSIMILÁVEL

CICLO DOS FOSFATOS SOLÚVEIS

1. O fosfato solúvel em água em contato com a solução do solo, solubiliza-se tornando-se imediata e totalmente disponível. Parte deste fósforo fica diluido na solução do solo e parte fica adsorvido ao complexo coloidal (argilas), por troca iônicas com OH-;

2. Nossos solos sendo ácidos apresentam elevados teores de ferro, e alumínio e outras bases e, portanto, grande parte do fósforo disponível é fixada, formando compostos de ferro e alumínio insolúveis;

3. Parte do fósforo disponível é absorvida pelos vegetais e pelos microorganismos do solo para obterem a energia para viverem. Temos, então, o fósforo imobilizado;

4. O fósforo fixado poderá voltar a ser disponível pela ação dos ácidos orgânicos provenientes da mineralização da matéria orgânica e pela acidez livre do solo (H+), pelas secreções ácidas das raízes e pelo gás carbônico do ar do solo;

5. Com a morte dos microorganismos do solo e dos restos de culturas, o fósforo imobilizado pode tornar-se, novamente, disponível para as plantas pelo processo da mineralização da matéria orgânica.

O número de microorganismos no solo é grande. Apenas em 1 grama de solo encontramos de milhares a milhões de fungos, bactérias, algas e protozoários, etc...

Nesta ação de desdobramento da matéria orgânica do solo pelos microorganismos, resultam ácidos fracos ( acético, cítrico, fórmico e outros) os quais podem solubilizar as formas de fósforo fixado. Parte do fósforo é aproveitado pelos microorganismos e parte fica disponível na solução do solo para ser absorvida pelas plantas ou ser novamente fixada.

Existem fosfatos que são insolúveis em água mas que podem ser utilizados diretamente para aplicação no solo. São os fosfatos naturais que não sofrem nenhum tratamento químico ou térmico. Mas atenção: nem todo fosfato natural serve para aplicação direta no solo. Duas condições básicas devem ser satisfeitas para permitir o uso destes fosfatos como fonte de fósforo para as plantas:

1. Utilização de fosfatos brandos de origem orgânica e sedimentar (amorfos) – isto é, de grande reatividade agronômica. Não ocorrendo isto, a ação do fosfato natural será tão lenta e, praticamente nula.

2. Micropulverização destes fosfatos de forma a aumentar a área de superfície das partículas aumentando assim, ao máximo, o contato entre os ácidos do solo e o fosfato.

A solubilidadedo fósforo contido nos diversos fosfatos é avaliada por diversos extratores químicos tais como: ácido cítrico, citrato neutro de amônio + água, ácido fórmico. Estes processos apenas estimam a solubilidade do fósoro contido nos diversos fertilizantes do ponto de vista comercial pois no solo ocorrem processos de solubilização ainda desconhecidos. Segundo Macedo, em sua tese, não há relação entre a solubilidade avaliada por extratores químicos e a eficiência agronômica.

Os fosfatos naturais, apesar de serem insolúveis em água, sofrem no solo uma solubilização semelhante àquela que a indústria utiliza para transformá-los em fosfatos acidulados, solúveis em água. Os fosfatos naturais, no solo, reagem com os ácidos fracos do solo ou são solubilizados por substâncias ácidas secretadas na zona das raízes.

Além disto, o solo é um meio dinâmico que não serve apenas para segurar as plantas, mas é um meio vivo com propriedades bioquímicas aliadas às da planta.

A Legislação Brasileira determina que a garantia do fósforo deva ser avaliada nos seguintes extratores químicos:

• Fosfatos Acidulados e parcialmente Acidulados – Citrato neutro de amônio (CNA) + água, e os teores solúveis em água e total para os parcialmente acidulados quando comercializados isoladamente;

• Misturas que contenham fosfatos acidulados ou parcialmente acidulados – citrato neutro e amônio (CNA) + água e facultativo o teor solúvel em água;

• Fosfato Naturais, Fosfatos Naturais Reativos, Escórias, Termofosfatos e Farinha de Ossos – o teor total de fósforo e o teor solúvel em ácido cítrico a 2% relação 1:100; No caso dos Fosfatos Naturais Reativos pode ser indicada o teor de fósforo solúvel em ácido fórmico a 2% relação 1:100 desde que o teor de fósforo solúvel encontrado neste extrator (ácido fórmico) seja igual ou maior que 55%¨do fósforo total do produto.

• Misturas que contenham fosfato natural, fosfato natural reativo, escórias e farinha de ossos - teor total de fósforo somente em misturas de natureza física pó ou farelado; fósforo solúvel em ácido cítrico 2% na relação 1:100 e teor de fósforo solúvel em água ou informação de que o fósforo é insolúvel em água;

• Misturas que contenham termofosfatos – teor total somente quando em misturas de natureza física pó ou farelada; teor solúvel de fósforo em ácido cítrico a 2% relação 1:100 ou teor de fósforo solúvel em citrato neutro de amônio (CNA) + água.

O fósforo é na forma de P2O5. No caso do ácido cítrico a 2%, a relação 1:100, quer dizer 1 grama de produto para 100 ml de ácido.

Um avanço da Legislação de Fertilizantes foi permitir a indicação da solubilidade em ácido fórmico 2% 1:100 para os fosfatos naturais reativos. Isto era uma antiga aspiração dos que defendiam os fosfatos naturais reativos. O mercado comum europeu utiliza o ácido fórmico há anos pois dizem que é o único extrator para diferenciar os fosfatos naturais reativos dos fosfatos de baixa reatividade desde que 55% do seu fósforo total seja solúvel no ácido fórmico 2% 1:100. E estão corretos pois pesquisas realizadas no Brasil confirmam este fato, como vejamos:

P2O5 (%) P2O5(%) P2O5(%)

Total ác.cítrico 2% ác.fórmico 2%

1:100 1:100

Fosfato de Gafsa (Africa) 30 12 28,4

Fosfato da Flórida (EE.UU) 30 7 7,3

Fosfato de Olinda (BR) 28 6 5,7

Fosfato de Patos de Minas (BR) 25 5 4,8

Fosfato de Araxá (BR) 28 5 4,2

Fonte: Catani e Nascimento, e Alcarde

Dos fosfatos naturais acima, o único que poderia ser comercializado no Mercado Comum Europeu seria o fosfato natural de Gafsa – reativo. Os fosfatos naturais brasileiros são de baixa reatividade e não servem para aplicação direta na agricultura mas podem ser utilizados pelas indústrias onde sofrerão tratamentos químicos que os tornarão solúveis em água.

RETROGRADAÇÃO DO FÓSFORO:

Em solos com altos teores de cálcio (Ca) sob a forma livre de carbonato de cálcio, pela retrogradação, o fósforo do adubo é convertido em fosfato tricálcico que não é aproveitado pela planta. É uma forma semelhante à da rocha fosfatada. Entretanto na retrogradação o fósforo não fica perdido mas torna-se disponível lentamente para as plantas.

FIXAÇÃO DE FÓSFORO:

É um problema sério que ocorre nos solos ácidos. O fósforo é fixado pelo ferro e pelo alumínio. O fósforo torna-se indisponível para as plantas. A aplicação de calcário é uma maneira de melhorar esta indisponibilidade. Os íons (OH-) gerados pelo cálcario tomam o lugar dos íons de fósforo fixado liberando-os para a solução do solo. Este é um dos maiores benefícios indiretos da calagem.

A reação com as argilas, principalmente aquelas com relação 1:1 (1 sílica: 1 alumínio) – as caulinitas, é outra maneira de fixação do fósforo.

O oxigênio (aeração) é necessário para o crescimento das plantas e para a absorção dos nutrientes. Também é importante na decomposição da matéria orgânica do solo que é uma das fontes de fósforo. A compactação reduz a aeração e o espaço poroso das raízes. Isto reduz a absorção de fósforo e, consequentemente, afeta o crescimento das plantas. A compactação impede, também, as raízes de ocuparem uma maior área de solo pela penetração, limitando o acesso aos nutrientes.

O aumento da umidade até níveis ótimos faz com que o fósforo fique mais disponível. Entretanto, o excesso de umidade reduz a aeração.

Temperaturas adequadas facilitam a decomposição da matéria orgânica. Mas quando elas são muito altas ou muito baixas, limitam a absorção de fósforo.

O fósforo é absorvido pelas plantas sob a forma de ânions H2PO4- e HPO4²-. A mais comum é a H2PO4-.

No "Os Nutrientes das Plantas" vamos tecer considerações sobre os macronutrientes secundários: cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S).

Gismonti - Eng°. Agrônomo

http://agronomiacomgismonti.blogspot.com