Papa argentino adota nome de Francisco

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'Foram buscar um Papa quase no fim do mundo', disse Jorge Mario Bergoglio após ser anunciado Pontífice 

 

RIO – A eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio, um jesuíta latino-americano, como novo Papa, sob o nome Francisco, poderá significar um Pontificado mais “aberto ao mundo exterior” nos próximos anos, na avaliação do jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta, especialista em Vaticano.

- A característica dos integrantes da Companhia de Jesus é serem voltados para as “missões” (empreitadas religiosas destinadas a propagar o cristianismo). É uma concepção de Igreja “para fora”, voltada para os desafios do novo mundo. Ratzinger, por outro lado, foi muito voltado para a crise da Igreja Católica na Europa.
Segundo Horta, os dois últimos pontificados (João Paulo II e Bento XVI) foram marcados pela centralização das decisões no Vaticano - ao contrário do previsto no Concílio Vaticano II, que propõe maior participação dos bispos de todo o mundo nos processos decisórios.
- Por isso, o Papa Francisco deve tender a uma abertura maior que os seus antecessores. Ele e dom Odilo Scherer (cardeal brasileiro que estava na lista dos possíveis escolhidos) podem trabalhar juntos para dinamizar a Igreja - acredita o jornalista e acadêmico.
Ele explica que a idade afastou Bergoglio das listas de “papabiles” (candidatos mais cotados para serem eleitos) discutidas arduamente desde a renúncia de Josef Ratzinger ao papado.
- Imaginava-se então que o novo Papa seria alguém mais jovem, em termos de Vaticano, ou seja, de 67, 69 anos. Mas o que importa é que ele tem um conhecimento teológico profundo, à altura do demonstrado por Bento XVI.


Novo Papa foi acusado de participar da ditadura argentina

Defensores de Bergoglio dizem que não há provas contra ele

RIO — Quando ouviu o nome do novo Papa, a argentina Graciela Yorio sentiu que o mundo caia sobre sua cabeça. Para ela, Jorge Mario Bergoglio, desde hoje o Papa Francisco, é “autor intelectual do sequestro do sacerdote jesuíta Orlando Yorio”, seu irmão, que em 1976 esteve cinco meses detido na Escola de Mecânica da Marinha (Esma, na sigla em espanhol), um dos principais centros clandestinos de tortura da última ditadura argentina (1976-1983).
 
A história foi registrada no livro “O Silêncio”. As vítimas - Francisco Jalics e Orlando Yorio, que desapareceram por cinco meses - eram companheiros de Bergoglio na Companhia de Jesus, cuja congregação fazia trabalhos de ajuda social numa localidade do bairro de Bajo Flores. Os defensores de Bergoglio dizem que não há provas contra ele e que o Papa ajudou muitos a escapar das Forças Armadas durante os anos de chumbo.
 
Em entrevista ao GLOBO
 Estela de la Cuadra, que até hoje procura sua sobrinha, Ana, nascida na mesa de uma delegacia em junho de 1977, assegurou que “a Igreja Católica escolheu uma pessoa que para nós, familiares de vítimas da repressão exercida pelos militares, foi cúmplice de um governo genocida”.
A indignação de Graciela e Estele reflete, em grande medida, o clima que se viveu nesta quarta-feira em associações de defesa dos direitos humanos da Argentina. Nas sedes das Mães e Avós da Praça de Maio, entre outras ONGs locais, seus representantes receberam com surpresa e estupor o nome do novo Papa. Para este setor da sociedade argentina, acompanhado nas redes sociais por dirigentes esquerdistas, a escolha de Bergoglio foi difícil de digerir.
- Até hoje, a Igreja continua sem colaborar com as investigações da Justiça. Bergoglio nunca quis abrir os arquivos da Conferência Episcopal - lamentou Graciela.
 


Bergoglio aceitou falar com o jornalista durante a preparação do livro, mas negou que tenha colaborado com a ditadura. Segundo Bergoglio, ele agiu para tentar salvar os sacerdotes enquanto estavam presos na Escola de Mecânica da Armada, local de extermínio do regime militar.
Em 2010, o então cardeal publicou o livro “O jesuíta” em que defendia seu desempenho na Companhia de Jesus entre 1973 e 1979. No livro, Bergoglio diz que Yorio e Jalics estavam planejando a criação de uma uma congregação religiosa e entregaram o primeiro rascunho do documento a três monsenhores. O religioso também teria recebido uma cópia.
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As denúncias iniciais da participação do Papa na ditadura foram feitas por Emilio Mignone, em seu livro “Igreja e ditadura”, de 1986, quando Bergoglio não era conhecido fora do mundo eclesiástico. Mignone exemplificou a “sinistra cumplicidade” com os militares numa operação militar em que desapareceram quatro catequistas e dois de seus maridos. Segundo o livro do fundador do Centro de Estudos Legais e Sociais, sua filha, Mónica Candelaria Mignone, e a presidente das Mães da Praça de Maio, Martha Ocampo de Vázquez, nunca mais foram encontradas.
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Então...A Igreja encontra-se entre a cruz e a caldeirinha. 




 
 

 

 

 
elaenesuzete
Enviado por elaenesuzete em 14/03/2013
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