O HIPOCONDRÍACO

Devaneios, arrepios,

estranhas sensações;

comichões, tremedeiras,

constantes palpitações;

pinicadas faciais,

tiques até na fala;

escoriações mentais

atravessam o corpo assaz;

dores agudas cansadas

localizados sinais;

vista embaçada, insônia,

olhos empapuçados,

-histórico devastador

da vida de um sofredor

arquivado e afixado

nas clínicas e hospitais.

Vertigens imaginárias,

pensamentos anormais,

toma tudo o que se diz

mas isso não satisfaz;

ingerindo comprimidos,

gotas, supositórios;

remédios homeopáticos

e outras ervas naturais;

toma o que o médico receita

e até o que lê nos jornais;

não analisa os sintomas

do que no organismo cai;

qualquer doença dos outros

assume logo e ainda mais

o mal que o companheiro,

do outro companheiro traz.

Vai ao médico, ao pai de santo,

ao dentista, ao rezador;

vai também à cartomante,

igualmente, ao visionário

E novamente ao doutor;

nem se quer pode escutar

O que diz o gozador...

se na piada há doença,

mais doente se tornou;

vai depressa ao farmacêutico

medicar a nova dor.

De todos os males do mundo

é um armazenador.

Neste cisca permanente

Acumulando vigor,

muita gente boa já foi

e o hipocondríaco ficou.

Zecar
Enviado por Zecar em 01/05/2005
Reeditado em 13/10/2007
Código do texto: T14198