Sobre o brincar e cantar...

Por: Maria Dolores Fortes Alves

Brincar é ferramenta de criança. Brincar alimenta, reaviva a cor do sonho. Quando a criança, brinca exercita o adulto que um dia será. O brincar, o brinquedo são alimentos da alma, alimentos dos sonhos, da esperança. Criança que não brinca e como passarinho na gaiola. Perde o canto, perde o vôo, perde o sonho.
Quando brinca, voa, sonha, constrói e reconstrói mundos. Criança que brinca cria novas melodias e colore o mundo com sua alegria.
Hoje colocam crianças em gaiolas e lhes enfeitam de jóias, de jogos e brinquedos que brincam sozinhos. Robotizam-lhe a alma, congelam os pensamentos.
Sim, congelam os pensamentos. A natureza, o brincar livre oferece fluidez, instiga a criança a pensar, a escolher, não é pré-determinado. Na Natureza tudo é tão novo e tão vivo quanto a natureza da criança. Instiga o pensar, o refletir, o sentipensar, o criar. No brincar livre a criança encontra sua sintonia e entra na sinfonia da vida.
Crianças que não puderam brincar, foram como passarinhos engaiolados. Foram obrigadas a seguir este ou aquele modelo em nome das boas maneiras, dos bons modos, do não suje a roupa, não faça isto, aquilo; ou foram seduzidas e guiadas pela fantasia que não era sua, era da TV do jogo eletrônico, disto ou daquilo, tornam-se muitas vezes adultos frios, também congelados, mal amados.
Acho muito triste os pais trabalham dia e noite para comprarem grandes televisões, lindos sofás, enfeitarem as gaiolas com lindos e caros brinquedos eletrônicos e congelam as crianças para que não estraguem o lindo sofá, a linda cortina, o lindo brinquedo. Ou o brinquedo TV que congela o pensamento da criança...
Crianças não precisam do melhor brinquedo, do meu melhor apartamento ou casa, da melhor e mais enfeitada gaiola. Crianças precisam de sonho, de espaço para criação, de modelos humanos amorosos que lhes transmitam valores de paz, amor, não-violência, cooperação, coragem para não esmorecerem diante dos obstáculos.
Crianças precisam de modelos, exemplos, referenciais que lhes mostrem o valor de sonhar e acreditar que após a tempestade virá a calmaria, que no final do arco-íris ou atrás da montanha pode haver um barril e tesouros- tesouros da alma. Ou mesmo, se não houver, que aprendam a apreciar s flores e a relva do caminho, o sabor de um carinho, a força da gratidão, a luz do coração.
Valores se ensinam vivendo valores e somente pessoas com coerência interna podem transmitir verdadeiros valores porque são igualmente verdadeiras.
Objetos têm preço, seres humanos têm valor e somente damos aquilo que temos.
[1] Este texto é parte integrante do livro “ O voo da águia: uma autobiografia.” De Maria Dolores Fortes Alves, publicado pela Editora WAK.