O ANDARILHO CONTOS REFLEXIVOS DUPLICIDADE DO DESTINO

O ser que vaga segue seu caminho sempre observando a tudo que esta em sua volta, o mundo segue, não espera nem vai a frente, ele se move em uma elasticidade volátil.

O entrelaçar de pensamentos tem sua freqüência sempre em sintonia, ninguém cruza nosso caminho por acaso, aqueles que entram e saem de nossa vida parece algo já prescrito e predeterminado pelas zonas de tempo.

Se alguém cruza seu caminho mais de uma vez e por que o instrumento cósmico esta desafinado e necessita da afinação para que as notas entrem em sintonia, e aqueles que vem e ficam e por estarem na mais perfeita sincronia existencial.

O andarilho sente que está indo por um caminho pré-determinado, pois as estradas se cruzam e o GPS mental vai lhe indicando o destino final, vire aqui desça ande mil metros e assim o caminho vai tomando forma em sua mente.

O caminhar e o passar das horas fazem com que o dia passe rápido, o caminhante nem percebeu, mas o dia esta se acabando e os últimos raios do sol vão se escondendo.

O abrigo se faz necessário para que se tenha uma noite segura, o caminhante passa por um setor de chácaras, tudo muito organizado, são belas mansões, por ali deve morar apenas quem tem dinheiro.

Passando diante de uma das chácaras um homem aparentando uns cinqüenta anos poda sua grama na entrada do imóvel, o caminhante passa lentamente pelo homem.

O homem fica observando aquela figura enigmática, o caminhante está barbudo, os seus pés estão protegidos por um calçado tão velho que e impossível identificar qual o tipo.

A calça e a camisa estão quase que em estado de decomposição, o saco nas costas do andarilho esta preto de sujeira, o aspecto não e nada bom, o andarilho ao passar pelo homem o cumprimenta.

E quando o andarilho esta alguns metros à frente o homem lhe chama, o andarilho se vira e da um sorriso.

O homem pergunta ao andarilho se ele precisa de algum tipo de ajuda.

O andarilho agradece e diz que não.

O homem insiste.

Meu caro viajante, aceite umas roupas usadas um banho e um pouco de comida.

A palavra comida soou doce aos ouvidos do ser que vaga pelos multiplanos da orbe, pois já faz mais de três dias que não se alimenta de algo realmente solido.

O andarilho aceita, eles entram em uma casa luxuosa.

O homem lhe aponta o banheiro e diz ao caminhante para tomar um banho e fazer a barba.

O andarilho banha se e faz a barba, depois veste umas roupas usadas quase novas que o homem lhe dá.

Em seguida vão ate a cozinha e o andarilho se depara com uma mesa farta de comida, e ali se sentam os três, a empregada o homem e o andarilho, e comem e conversam como se fossem antigos conhecidos.

O homem pergunta ao andarilho o porquê de vagar pelo mundo.

O andarilho lhe explica sua jornada em busca da compreensão da vida e do aprimoramento espiritual, o andarilho fala demoradamente das experiências vividas e do conhecimento acumulado tirado de sua jornada.

O homem se delicia dos contos do andarilho, e quer saber mais e mais daquela caminhada que transcende o próprio ser.

O trio nem se da conta e a conversa entra madrugada adentro, o homem fica espantado de tudo que houve, e sua curiosidade das múltiplas dimensões do próprio ser faz com que a conversa se estenda cada vez mais.

Já e alta madrugada e o andarilho recebe o convite de dormir na casa do novo amigo, o convite a uma cama macia em um quarto quente faz com que o andarilho se de ao luxo de passar aquela noite por ali.

O dia mal amanhece e a conversa se reinicia, o homem mal conseguiu dormir com tantas perguntas a serem feitas aquele estranho viajante que tem aparência de um mendigo e conhecimento da multiplicidade existencial que envolve o próprio ser.

Como pode um ser tão humilde saber mais que um cientista sobre o progresso cósmico que sujeita um ser a equalizar a diversidade de saberes acumulados de uma existência a outra.

As perguntas são muitas, e aquele homem altamente intelectualizado pouco sabe da partícula primordial da fonte da vida, as palavras que saem da boca do andarilho deixam o homem em êxtase.

Os dois seres se comunicam em uma faixa única que transcende a eles mesmos, como pode dois estranhos ser tão próximos tendo uma vida tão diferente.

O homem envolvido com tudo aquilo também vai contando ao andarilho como se deu o desenrolar de sua vida, e começa desde sua infância.

Olha caro caminhante multicosmico eu era ainda muito criança quando meus pais me abandonaram no meio da rua, tinha apenas três anos de idade, sentei no meio fio próximo a uma feira livre e comecei a chorar.

Quando apareceu um casal de meia idade e perguntou pelos meus pais, não soube lhes responder, eles então sentaram se do meu lado e esperaram a feira acabar.

E pouco a pouco o local foi ficando vazio ate não restar mais ninguém, ficou apenas a sujeira deixada pelos feirantes e alguns miseráveis que recolhiam as sobras deixadas.

O casal se comoveu com minha situação e acabou por chamar uma viatura da policia militar, o policial disse ao homem que pouco podia fazer, e que ia me levar ate um abrigo espírita que tinha nas proximidades e registrar uma ocorrência de abandono de incapaz.

O casal seguiu a viatura ate o local, me deram um banho roupas e me alimentaram, assim como fiz com você, quando te vi andarilho me vi em você, um ser maltrapilho e faminto que vaga sem destino.

O andarilho da um sorriso de alegria pela ajuda recebida, pois a fome estava fazendo com que seus pensamentos flutuassem em uma dimensão de desordem causada pela fome e o desgaste físico.

E o homem continua sua historia.

Como eu lhe dizia caro viajante, os policiais me deixaram no abrigo e aquele casal começou a ir me visitar nas tardes de domingo, eu ficava louco esperando a chegada deles.

E acabei me apegando a eles mais do que aos meus pais biológicos, sentia o mesmo afeto vindo deles, em menos de seis meses o desembargador acabou por me adotar.

Minha vida se transformou da água para o vinho, não senti mais fome nem dormi em caixas de papelão debaixo de marquise.

Os anos foram se passando e eles me tratando como a um filho legitimo, alem de ganhar um novo pai também ganhei duas irmãs, estudei nas melhores escolas e era tratado de filho.

Mas sabia meu lugar, acordava cedo cuidava das plantas, lavava o carro e juntava as folhas caídas das arvores, o casal e as filhas acordavam tarde e iam cuidar de sua vida, as meninas iam para natação, bale piano e outras atividades.

Eu percebia o olhar de orgulho do meu protetor, ele fazia de tudo para que eu tivesse uma vida tranqüila.

E assim fui crescendo e aproveitando o Maximo que podia daquela vida que não era minha vida de fato, era apenas um sonho real em um mundo que nunca me pertenceu.

Nos fins de tarde minhas irmãs tinham aulas com diversos instrumentos com um homem que parecia ser muito importante, e eu observava a tudo sem perder nem um detalhe.

E quando todos se iam eu corria para um violão e punha em pratica o que tinha observado e o que estava escrito no quadro.

O andarilho sorri e parece uma criança ouvindo uma historia de conto de fada, e assim o homem continua.

Ate que em uma tarde o professor chegou e eu nem percebi, e ele ficou observando eu tocar um violão, quando eu o vi larguei o instrumento e sai sorrateiramente, naquele dia fiquei apreensivo.

Ele deu aula normalmente às meninas e ao fim do dia ele entrou na casa e conversou com minha mãe adotiva, eu fiquei apenas observando de longe e sentindo que tinha feito algo de errado.

Os dias se passaram e quando o professor chegou para dar sua aula novamente as minhas irmãs adotivas eu não estava junto para a aula, mandaram me chamar, eu fui apreensivo.

Quando estava frente a frente com o professor que sabia minha história ele me abraçou e me disse.

Filho, vi você tocar aquele dia, e conversei com sua protetora, e em agradecimento a vida que o criador me proporcionou resolvi te dar um violão que e da minha estima um instrumento único, e não vou cobrar as aulas.

Ela insistiu em me pagar o instrumento e as aulas, mas eu quero dar minha ajuda pelo talento que nunca vi em outra pessoa, no dia em que te vi tocando me senti como se fosse eu em você.

Quando você tacava eu podia prever o próximo acorde e percebi que você tinha um jeito próprio de tirar o som do instrumento.

E assim caro andarilho eu aprendi a tocar o violão em menos de dois meses, e com o passar do tempo eu compunha minhas próprias musicas, aquilo impressionava a todos os amigos do desembargador.

E assim fui seguindo, sempre me requisitavam nos churrascos de família onde me tornei indispensável.

Ate que um dia quando acabara de completar dezessete anos um dos amigos do meu pai adotivo me chamou para fazer a abertura de um show de uma dupla famosa, de inicio não aceitei.

Mas acabaram me convencendo, e quando chegou o dia senti as pernas tremerem diante de um publico de milhares de pessoas, mas a presença do meu professor de violão me acalmou.

E quando comecei a cantar parecia que eu já tinha feito aquilo milhares de vezes, me acalmei e continuei, eram para ser apenas duas musicas, mas o destino atrasou os cantores e eu toquei mais de duas horas seguida.

Já sai do show com varias apresentações agendadas e um disco garantido, foi um momento único em minha vida, o sucesso veio e eu aproveitei cada momento, fiz da musica o sentido da minha existência.

Sempre fiz minhas próprias composições, parecia já saber o que escrever antes de começar, tudo parecia ser reprise de uma existência anterior, às vezes acordava no meio da noite com uma letra pronta.

Por vezes eu estava sentado no vaso e tinha que sair correndo atrás de uma caneta e terminava por escrever ate no papel higiênico, quando estava dirigindo tinha que parar no meio do transito e rascunhar.

E assim tudo foi acontecendo, e eu encarei com muita naturalidade, pois tudo saia de dentro de mim com uma espontaneidade que assombrava aqueles que conviviam comigo.

Eu era o ídolo da minha família, eles me acompanhavam o tempo todo, amava minhas irmãs com se fossem meu próprio sangue, minhas vitorias tinham o sabor do mel.

Com o passar dos anos comecei a sonhar com meus pais, era só deitar e fechar os olhos entrava em viagem astral, e meu espírito vagava em busca da completude existencial que me faltava.

Sempre soube que meus pais estavam por perto, sentia o cheiro do suor do meu pai, era tudo muito estranho, sabia da minha duplicidade de caminhos.

Quando o sucesso veio e minha historia caiu na mídia, contada pelo meu professor de musica, não tardou para que meus pais aparecessem, a campanha midiática movimentou domingos inteiros com programas de auditório.

Ao fim o encontro aconteceu frente às câmeras de televisão, quando os vi me assustei, pois sempre vi aquele casal por perto, foi ai que vim saber da verdadeira historia.

Que naquele dia que meus pais me abandonaram eles se esconderam próximo a mim e ficaram aguardando os acontecimentos, como o casal apareceu eles se foram.

No dia da verdade no programa televisivo minha mãe falou que meu pai caiu de um andaime em uma construção e quebrou o fêmur, e impossibilitado de trabalhar foram morar nas ruas, eu tinha mais quatro irmãs.

Não tínhamos onde morar nem o que comer, e eles não tiveram outra opção, mas nunca se afastaram de mim, estiveram sempre por perto me observando a distancia.

E quando eu fiz sucesso eles não se acharam dignos de se aproximarem de mim, mas não resistiram diante do apelo dramático dos apresentadores do programa que se interessou pela minha história.

E ao final tudo se encaixou em minha vida, e hoje sou um homem de sorte, pois tenho duas famílias as quais eu amo com toda força do meu coração, todos convivemos na mais perfeita harmonia.

Cuido dos meus pais e dos meus irmãos, alem dos sobrinhos, pois minhas irmãs se engravidaram muito novas e nem uma delas tem marido, mas não importo eles são minha alegria.

O andarilho olha para o homem e sorri.

Aquilo encabula o novo amigo, que acaba por lhe perguntar.

Do que ri andarilho.

O andarilho olha para o homem com um olhar de seriedade e lhe responde.

Meu caro você esta feliz com a reprise frequencial de uma existência outrora fatídica, que sempre buscou reparação, tudo isso começou há muito tempo, ainda na época da escravidão.

O homem pergunta ao andarilho.

Como assim.

O andarilho lhe responde.

Ainda na época da escravidão um rico fazendeiro dividiu uma família de escravos, foi um momento que deixou o multiplano cósmico em lagrimas, e esse fazendeiro foi você.

O homem sente uma lagrima cair e pergunta como assim.

O andarilho lhe responde.

Nas suas viagens astrais você estava em busca de reparação, para que se fizesse uma religação cósmica multiplanica, as engrenagens das orbes se moveram para que tudo se realinhasse no eixo do pluriverso.

Pois quando você fez a divisão familiar, você não fez por maldade, você comprou os escravos em um leilão em praça publica, separou os pais dos filhos pois vieram em lotes separados.

E como eles eram africanos não sabiam falar sua língua, a historia seguiu em frente, o grande arquiteto do universo se compadeceu dos acontecimentos e preparou seu momento de reparação.

Mandou-te novamente em outra vida, e em outro pais, onde você foi um grande compositor do passado e veio nesta vida com objetivo de reparar seu erro culposo causado por um incidente.

O homem sente que tudo aquilo pode ser verdade, pois quando viu o andarilho o reconheceu de um de seus sonhos, e sabia que aquele reencontro foi fruto de um desencontro, que fez com que as engrenagens multiplanicas se realinhassem.

O homem agora chora copiosamente e agradece ao andarilho por aquele esclarecimento tão necessário para o realinhamento de uma vida que passou por vaias reencarnações.

O andarilho diz ao homem que quando tudo aconteceu ele não podia fazer nada, pois a movimentação dos mundos necessita de uma harmonia consonante, o realinhar cósmico faz com que um acontecimentos reflitam em múltiplas vidas.

Pois nada funciona isoladamente, o que acontece nessa orbe faz com que seus reflexos alterem os portais atemporais da própria criação, a harmonia do multiverso depende da freqüência vibratória de múltiplos mundos.

O homem se curva diante do andarilho e lhe agradece novamente por todos os esclarecimentos que trouxeram novamente a felicidade dos afastados em uma dimensão atemporal multiplanica.

Ao final os dois se abraçam apos se reconhecerem, aquilo se fazia necessário à completude daquele ser.

O andarilho agradece a hospitalidade e mostra ao homem à necessidade de retornar ao seu caminho, o homem entende.

E ao se despedirem o novo amigo da uma mochila nova ao andarilho com algumas roupas e uma quantia para que o viajante multicosmico possa seguir seu caminho como espírito evoluído que e.

Apos se despedirem o viajante retoma seu caminho para um novo acontecimento que pode ser aqui ou ali, e se necessário La, em fim não importa a verdade esta no sentido e na missão.

Assim a vida segue, em verdade ou em sonho, o que importa e estar imantada na dualidade cíclica do multiverso.

Sempre agradecendo ao pai pela confiança na missão do porvir, que da sentido aos multimundos paralelos da razão do ser.

Diz amém.

AMÉM.

QUE ASSIM SEJA E QUE A JORNADA CONTINUE, ONDE TIVER QUE SER VAI SER.

AMÉM.

O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.

Paulo César de Castro Gomes.

Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária superior pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)

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