O Cordão de bolinhas

Um cordão de bolinhas arrebentado e todas elas esparramadas pelo chão. Todas elas ali, naquele cômodo, mas sem o fio que as mantinha unidas.

Sim. Em algum momento o fio arrebentara.

Ela não tinha mais o seu cordão.

Agora a menina lembrava. Os passeios de bicicleta com pipoca na volta, os sucos de caju de madrugada, as músicas gravadas em fita para ela escutar, as que ele cantava para ela, ela dançando sobre seus pés. Ah, ele adorava pegá-la para dançar. Como se esquecera de todos esses momentos? No fundo, no fundo a menina sempre soube que o amava, porém ultimamente não sentia mais esse amor. Ela procurava dentro de si, mas por mais que se esforçasse não encontrava. Ela não queria que fosse assim, não pensou que fosse ser assim.

Ela se lembrava dele dizendo que a amava.

---Minha filha, papai te ama!

Ele dizia isso e suspirava um suspiro pesado e seus olhos se enchiam de lágrimas. Depois ele a apertava contra o peito, afagando-lhe os cabelos. Ela ouvia o seu coração bater.

Mas tanto amor se perdeu no tempo. Feito as bolinhas do cordão arrebentado. Como eu já disse, ela sempre soube que amava o pai, apenas não sentia esse amor e tinha consciência disso tudo. Mas ela agia como se não se importasse. Ela não gostava dele, não precisava dele e ponto final. Mas como eu também já disse, ela gostaria que fosse diferente.

Ele quase foi embora algumas vezes.

Ele quase foi embora de vez algumas vezes também.

E ela agia como se não se importasse.

Contudo, um dia, eu não saberia explicar como, a menina se deu conta desse amor. Ele estava muito vivo agora. Ele vivia em seu coração, em cada célula do seu corpo. Ela não podia negar. Nada havia mudado, ela apenas sentia o amor de novo e o sentia muito forte, como nunca sentira antes. Agora ela se lembrava daqueles dias felizes, daqueles dias de amor e diante do espelho, ela amarrava, com um nozinho, o seu cordão de bolinhas.

Schmetterling
Enviado por Schmetterling em 21/11/2007
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