“Você alçou voo como as águias selvagens que voam muito alto. É uma colcha de retalhos, preciosa, repleta de coragem, fé e proteção divina” (p.15)


Sim, o voo é alto demais. Os sonhos são altos demais. E a torre, metafórica ou não, muito mais alta do que possa imaginar qualquer leitor (desavisado ou prevenido!).
E estas não foram as primeiras, nem as segundas, nem as centésimas impressões que eu tive ao ler este livro. Em verdade, não consigo dizer o momento exato sobre minhas impressões. Tenho resquícios de lembranças de um telefonema num final de manhã chuvosa. Uma voz feminina me perguntava se seria possível que eu avaliasse uma obra que acabara de ser escrita por ela. Uma voz agradável, que me parecia sorrir enquanto falava. E se expressava com desenvoltura, numa intimidade de anos que nunca, até então, havíamos tido. Gostei do tom da voz. Gostei do “sorriso do barulho” que a voz me ressoava... E gostei, sobretudo, do desembaraço delicado com as palavras (ditas!). Um telefonema que, normalmente, demoraria dez minutos (tempo exato para eu lhe passar o valor do meu trabalho, entre outros dados relevantes). E pronto. Tudo seria muito de forma objetiva.
Seu mundo? Em primeira instância, o que me foi dito – o da Medicina.
O meu, o Educacional – ligado principalmente ao mundo da Literatura e a projetos editoriais... Ou seja, o Mundo das Letras X Mundo das Ciências...
E ficamos ali, ao menos uma hora (sim! Sessenta minutos falando sobre livros, profissões, mercado editorial, vidas de escritor, vidas de médicos, de professores. Falamos ainda sobre filhos... educação, viagens, filmes... Ouso dizer que falamos até de receitas de variados tipos de alimentos mundo afora! Não sei explicar o que houve. E creio que nem ela saberia. Mas ali, através de um telefonema, tornamo-nos amigas para todo o sempre.
Depois, veio a obra para que eu lesse, analisasse, passasse minhas impressões, revisasse, enfim... um trabalho praticamente completo. Porém, essa demanda coincidiu com outros trabalhos que eu estava exercendo, e eu não pude atender por total, naquele momento, o que aquela voz do telefonema me pedira. E isso me angustiou. Não era mais a questão do trabalho em si e da responsabilidade. Mas... de poder ter mais tempo para me encontrar com a autora, conhecer seu mundo, suas inspirações e, mais ainda, entender o motivo pelo qual aquela obra estava tão cheia de histórias e reviravoltas. E, só a partir de então, dar meus “pitacos”...
Além do quê: uma médica escrevendo romances? Tenho vários exemplos a mencionar, mas me centrei em Moacyr Scliar. E foi exatamente dele que me lembrei em primeiro lugar quando fiquei rememorando a leitura que eu fizera com os tantos assuntos sobre os quais a autora me disse...
Pois bem. Eu precisava dizer a ela que aquilo daria um livro de milhares de milhares de outros contos. Ou vários livros, cada um sobre uma das personagens.
Sim, caro leitor. Eu terminei a leitura e percebi que a autora havia escrito uma saga. Meio tumultuada, é fato. Mas uma saga. Aquilo me prendeu a atenção, instigou-me e aguçou-me a curiosidade. Falei-lhe ao telefone sobre isso, mas ela, para minha surpresa, muito reticente... sobre expor seus escritos...
E aquilo me angustiou mais ainda. Definitivamente, aquela mulher não poderia deixar de colocar seu filho na vida... para o mundo. Porém, antes disso, eu precisava lhe falar – pessoalmente.
Tivemos, então, nossa tarde de cafés, literaturas e muito bate-papo. Tudo muito agradabilíssimo. Tão agradável que a vontade era a de não nos desgrudarmos mais. Quanta coisa ela tinha a me dizer, quanta coisa eu tinha a aprender com ela. E eu queria. Mas o tempo... esse ingrato!
Ainda assim, não me desgrudei dos escritos de minha mais nova amiga e escritora favorita. Pedia-lhe sempre que publicasse, ainda que fossem frases soltas, mas publicasse via blogs, redes sociais, tudo aquilo que estava em seu coração.
E eis que um belo dia recebo um convite: para curtir uma página recém-criada da “escritora Lícia Costa Pinto”. Fiquei emocionada. Mais emocionada ainda com as palavras que ela dedicara a mim, após presentear-me com um livro de Chico Buarque (um livro que eu mencionara e ela guardara em sua mente).
Algum tempo se passou... e, quando eu pensava que a escritora havia se aquietado, foi aí que ela surgiu de fato. Com mais propriedade! Minha querida Lícia – a médica que me ligou um dia para falar de um romance que pensava em publicar – resolvera colocá-lo (seu livro/filho) no mundo, agora já revisado por um amigo que eu lhe indicara.
Mas a publicação veio de forma online. Com pseudônimo. Confesso que não gostei muito de ver ali um pseudônimo. Gostaria de ver estampado o nome completo da autora, sem maquiagens e subterfúgios. Entretanto, não precisei me esforçar... o tempo (que também é sábio!), fez com que a própria autora fosse percebendo a necessidade de se fazer presente em todos os meios literários.
E foi assim que “A TORRE OS SONHOS” apareceu novamente em minha vida. Agora, em plenitude!
Porque, numa bela tarde de sábado, a autora me pediu para escrever o prefácio daquilo que ela passaria a chamar de “livro 2”.
- “Agora, ele será impresso – ela disse –. Já está revisado, logo enviarei à editora, mas gostaria de que você escrevesse o prefácio. Você aceita? ”
Claro que minha resposta foi orgulhosamente positiva! Mas eu me atrevi a lhe dizer mais do que um sim. Avisei-lhe que, em minha concepção, ele (este livro impresso) sempre foi e sempre será o seu livro número 1. A autora, enfim, chegou até aqui, ao objetivo primeiro: “sou escritora a partir de sempre, ainda que somente a partir deste instante eu tenha assumido para o mundo esta minha condição!
E o que o leitor vai encontrar nas páginas seguintes? A história de uma menina – Maria – uma jovem, uma mulher, uma estudante, uma filha, uma ‘enamorada’, uma amiga... Ou seja, uma pessoa de muita fé, perseverança, obstinação, que tenta, em muitos momentos, fugir dos caminhos já traçados por outros. Não! Ela tem seus próprios sonhos (e sua própria torre!). Seus próprios desejos. E quer que suas escolhas sejam respeitadas, ouvidas, entendidas. E enquanto ela luta (muitas vezes consigo mesma) para alçar seus voos, ela vai vivenciando suas experiências, conhecendo mundos, viajando literalmente ou através de livros. É uma personagem ávida por leituras e novas maneiras culturais de vida. Apaixonada por gente, por saberes, por vivências. E isso tudo sem perder, por um segundo, as lembranças e os valores de suas raízes. E tudo fica muito evidente nas recorrentes citações sobre sua avó Biba.
Creio que este livro não deva ser lido numa só “tragada”. Minha dica é a de que ele seja lido em capítulos, tal qual como se apresenta. Ou que a leitura seja feita em “pílulas”: a cada citação literária, histórica, política, uma parada. Uma pausa. Para reflexão, respiração, inspiração, pesquisas... (por que não? Afinal, há muita coisa a ser extraída de várias passagens e registros!)
É um livro não somente para ser lido. Mas degustado, esmiuçado... aos poucos. E, de preferência, muitas vezes, ao longo da vida (do leitor!). Porque a vida de Maria, de Benjamin, de Pedro e dos demais personagens já são eternas...
Aqui, ficam infinitamente registrados meus agradecimentos à autora, à sua filha, ao seu marido e a toda sua família. Mas, principalmente, meu agradecimento, aos personagens desta torre de sonhos. Tenham a certeza de que vocês me ajudaram, com suas passagens, em muitas de minhas vivências.
Acredito, sim, que seja muito importante que as “Torres” existam. Porém, mais intensos e imensos (e infinitos) são os sonhos. Estes, sim são concretos e nos impulsionam... em todo tempo, lugar, a qualquer espaço e dimensão.
Salve, Maria! Salvem seus sonhos! E toda sua trajetória! Você é grandiosa! E a mim, valeu muito a pena conhecê-la.
Um superbeijo

Adriana Luz
(Escritora, Educadora, Professora de Língua portuguesa e Especialista em Literatura)
Licia CostaPinto
Enviado por Licia CostaPinto em 25/06/2015
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