Crítica do filme: "O filme da minha vida".
Ambientado e todo rodado no interior do Rio Grande do Sul, na exuberante Serra Gaúcha, o novo filme do diretor/roteirista/ator Selton Melo usa e abusa das belezas naturais e arquitetônicas da região, constituindo-se numa obra de extrema beleza fotográfica, com um conjunto de planos e enquadramentos de intensa acuidade visual, trabalhando de maneira bastente interessante a dicotomia luz/sombras, ressaltando o clima nostálgico e um tanto melancólico da obra.
A narrativa tem um quê da poesia e do lirismo de sua obra anterior, 'O Palhaço" (2011), podendo-se dizer que os dois filmes dialogam na sensibilidade e na ternura da obra como um todo, assim como de alguns personagens. Será que poderíamos afirmar que o diretor tem um estilo próprio, que replica em cada obra sua, caracterizando seu cinema como um "cinema de autor"?
Entretanto tal narrativa sensível e delicada vai dando lugar, na medida em que o filme avança para seu final, à um melodrama que não deve nada às telenovelas mexicanas, reprisadas pela enésima vez pelo SBT, transformando, por exemplo, abruptamente o personagem de Selton Melo de uma figura paterna e amiga do personagem central - que tinha sido abandonado pelo pai - Em uma espécie de vilão, cujo destino é meio colocado de lado pelo roteiro, como quê em busca de uma solução rápida para a trama.
Apesar desse deslize narrativo, em momento nenhum o filne abandona a poesia, o lirismo, a sensibilidade e a geografia privilegiada da Serra Gaúcha. De fato, é um dos mais belos filmes brasileiros da nova safra do cinema nacional. Vale muito à pena!