A REVOLUÇÃO DOS BICHOS, de George Orwell

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS, de George Orwell

INTRODUÇÃO

A partir das ideias do filósofo, educador e autor americano Mortimer Adler (1902-2001), conforme expressas em "Como Ler Livros" (1940, 1972), esta Análise de Obra oferece uma abordagem analítica e sintópica dos níveis de leitura para examinar "A Revolução dos Bichos" de George Orwell.

Neste contexto, a análise abordará 3 tópicos principais:

1) Visão Analítica sobre o AUTOR George Orwell: biografia e contribuição;

2) Visão Analítica sobre o CONTEÚDO de sua obra "A Revolução dos Bichos": um resumo geral, um resumo por capítulo e 3 ideias centrais extraídas de cada capítulo;

3) Visão Sintópica/COMPARAÇÃO entre liberdade e igualdade tratadas na obra de George Orwell com esses assuntos na obra de Norberto Bobbio (objeto de análise específica em outro artigo também publicado no Recanto das Letras, neste mesmo perfil).

Ao longo do texto, serão exploradas tanto as contribuições do autor para o campo do desenvolvimento humano quanto os principais conceitos e argumentos relevantes apresentados no livro, mas não substitui a leitura detalhada do livro, porém serve para despertar o leitor para que faça sua própria incursão e útil reflexão.

DESENVOLVIMENTO

1) O AUTOR DA OBRA: GEORGE ORWELL

1.1) BIOGRAFIA E CONTRIBUIÇÃO:

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, foi um renomado escritor, ensaísta, jornalista e crítico literário britânico do século XX. Nascido em 25/06/1903 na Índia britânica (Motihari), Orwell é amplamente reconhecido por suas obras literárias e sua contribuição para a literatura distópica e a crítica social.

Seus pais foram Richard Walmesley Blair, Ida Mabel Blair. Seus irmãos foram Marjorie Frances Blair e Avril Nora Blair. Seus cônjuges foram Eileen O'Shaughnessy (1935–1945, morte dela) e Sonia Brownell (1949–1950, morte dele). Teve um filho de nome Richard Blair.

Orwell teve uma vida marcada por experiências diversas que influenciaram sua escrita. Ele serviu na Polícia Imperial Indiana em Burma (atual Myanmar), vivência que o levou a questionar o imperialismo britânico. Posteriormente, viveu em condições de pobreza em Paris e Londres, experiências que retratou em seu livro semiautobiográfico "Na Pior em Paris e Londres" (1933).

Como escritor, Orwell se destacou por seu estilo direto, sua aguda observação social e sua defesa dos ideais democráticos e socialistas. Ele participou da Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos, experiência que relatou no livro "Lutando na Espanha" (1938) e que reforçou sua oposição aos regimes totalitários.

Suas obras mais famosas são "A Revolução dos Bichos" (1945) e "1984" (1949), as quais são alegorias políticas que exploram os perigos do totalitarismo, a manipulação da linguagem e a supressão da liberdade individual. Em "1984" Orwell apresenta uma sociedade distópica controlada pelo Estado, onde a vigilância constante, a manipulação da verdade e o controle do pensamento são instrumentos de dominação. Em "A Revolução dos Bichos" retrata uma fazenda onde os animais se rebelam contra os humanos, mas acabam criando um regime tão opressivo quanto o anterior.

Além de seus romances, Orwell foi um prolífico ensaísta, abordando temas como política, literatura e linguagem. Ensaios como "Politics and the English Language" (1946) e "Why I Write" (1946) refletem sua preocupação com a clareza da linguagem e a responsabilidade do escritor.

George Orwell faleceu em 21/01/1950, aos 46 anos, vítima de tuberculose, University College London Hospital, Londres, Reino Unido. Seu legado literário e intelectual permanece relevante, com suas obras sendo amplamente lidas e suas ideias influenciando discussões sobre política, liberdade e o papel da linguagem na sociedade. Termos como "orwelliano" e "Big Brother" se tornaram parte do vocabulário popular, demonstrando o impacto duradouro de sua visão e de suas obras.

2) O CONTEÚDO DA OBRA: A REVOLUÇÃO DOS BICHOS:

O objetivo desta seção é apresentar uma análise geral da obra e na sequência uma análise por capítulos, bem como identificar 3 ideias importantes expostas pelo autor em cada capítulo.

2.1) ANÁLISE GERAL DO LIVRO A REVOLUÇÃO DOS BICHOS:

"A Revolução dos Bichos" (1945), de George Orwell, é uma fábula política que retrata uma fazenda onde os animais se rebelam contra o fazendeiro opressor, apenas para verem sua revolução ser subvertida por um novo regime tirânico liderado pelos porcos. A obra é uma alegoria da Revolução Russa de 1917 e da traição dos ideais revolucionários pelo regime stalinista.

Orwell explora temas como poder, corrupção, manipulação da linguagem e traição dos ideais revolucionários. Ele critica a maneira como os líderes usam a retórica e a propaganda para controlar a população e consolidar seu poder. A obra também aborda a importância da educação e do conhecimento, a estratificação social e a formação de uma nova hierarquia opressiva.

Através de sua narrativa simples, porém poderosa, "A Revolução dos Bichos" oferece uma crítica contundente aos regimes totalitários e à corrupção do poder. A obra alerta para os perigos de se confiar cegamente em líderes e ideologias, destacando a importância da vigilância constante para preservar a liberdade e a igualdade. Sua relevância perdura como um lembrete atemporal dos perigos do autoritarismo.

2.2 ANÁLISE POR CAPÍTULO DO LIVRO A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Para melhor entender o conteúdo do livro sugerem-se títulos para cada capítulo, os quais não existem na obra original.

CAPÍTULO 1: O SONHO DE UMA REVOLUÇÃO:

Este capítulo introduz o sonho de Major, que inspira os animais a considerarem a possibilidade de uma vida sem a opressão dos humanos.

No capítulo 1 de "A Revolução dos bichos", George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Crítica à Opressão Humana: Major, o porco idoso, articula uma crítica contundente à maneira como os humanos exploram os animais, sugerindo que a raiz de todo o sofrimento dos animais é a dominação e exploração exercida pelos humanos. Ele argumenta que os animais trabalham incansavelmente e são descartados assim que perdem sua utilidade, sem nunca desfrutarem dos frutos de seu trabalho. Essa ideia central serve como um catalisador para o desejo de mudança entre os animais da fazenda.

2. Visão de uma Sociedade Igualitária: Através do sonho de Major, é apresentada a visão utópica de uma sociedade onde os animais poderiam viver livres da opressão humana, em igualdade e harmonia, sem a exploração de uns pelos outros. Essa visão serve como uma inspiração para os animais, alimentando a ideia de que uma revolução é possível e necessária para alcançar tal sociedade.

3. A Importância da União e da Consciência Coletiva: Major enfatiza a importância da união entre os animais para a realização da revolução. Ele instiga os animais a se rebelarem contra os humanos e os encoraja a adotar uma consciência coletiva, na qual a solidariedade e o esforço conjunto são fundamentais para o sucesso da revolta. A canção "Bichos da Inglaterra" simboliza essa união e se torna um hino que reforça a identidade coletiva e o objetivo comum entre os animais.

O capítulo 1 de "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, estabelece o cenário da Granja do Solar, propriedade do Sr. Jones, um fazendeiro negligente e alcoólatra. Neste capítulo, Major, um porco idoso e altamente respeitado, convoca uma reunião secreta com todos os animais da fazenda. Ele compartilha um sonho que teve, no qual os animais viviam livres da opressão dos humanos, inspirando-os com a ideia de uma revolução. Major argumenta que todos os males enfrentados pelos animais são causados pelos humanos e que a libertação somente poderia ser alcançada através da rebelião. Ele instiga os animais a se prepararem para este momento, sem saber quando ele ocorrerá, e ensina-lhes uma canção chamada "Bichos da Inglaterra", que se torna o hino da esperança de liberdade. Este capítulo estabelece os principais temas e conflitos do livro, introduzindo a ideia de revolução e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária, baseada na cooperação e no respeito mútuo entre os animais.

CAPÍTULO 2: A CHAMA DA REBELIÃO:

Os animais, inspirados pelo sonho de Major, conseguem expulsar os humanos da fazenda, iniciando a experiência de autogoverno.

No capítulo 2 de "A Revolução dos Bichos", George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Propagação das Ideias Revolucionárias: Após a reunião inicial convocada por Major, as ideias de revolta e liberdade começam a se espalhar entre os animais da Granja do Solar. Major morre, mas seu legado de insatisfação e sonho de liberdade continua a inspirar os outros animais. Os porcos, sendo os mais inteligentes entre os animais, assumem a liderança na organização da revolta, detalhando os princípios do Animalismo, que prega a igualdade entre os animais e a rejeição dos humanos.

2. A Revolta dos Animais: A revolta ocorre de maneira mais súbita e espontânea do que havia sido planejado, impulsionada pelo descuido e abuso dos humanos. Os animais, liderados pelos porcos, conseguem expulsar o Sr. Jones e seus funcionários da fazenda, tomando controle do seu próprio destino. Este momento é crucial, pois marca a transição do sonho para a realidade, com os animais assumindo o controle da fazenda, que é renomeada como "Granja dos Bichos".

3. Estabelecimento dos Sete Mandamentos: Após a revolta, os porcos pintam os Sete Mandamentos do Animalismo na parede do celeiro, estabelecendo as leis fundamentais que regeriam a nova sociedade que eles estão tentando construir. Esses mandamentos incluem preceitos como "Todos os animais são iguais" e "Nenhum animal matará outro animal", que visam garantir a igualdade e a justiça entre todos os animais da granja. Esses mandamentos são fundamentais para a nova ordem social que os animais procuram estabelecer, representando os ideais utópicos de sua revolução.

No capítulo 2 a fazenda começa a se agitar sob a influência das ideias revolucionárias plantadas por Major. Após a morte do porco idoso, os animais, liderados pelos porcos, especialmente Snowball e Napoleon, começam a organizar-se secretamente contra o opressivo Sr. Jones, inspirados pelos princípios do Animalismo. Este movimento culmina numa revolta espontânea quando os animais, famintos e maltratados, se rebelam e expulsam Jones e seus empregados da fazenda. Eles renomeiam a propriedade como "Granja dos Bichos" e estabelecem os Sete Mandamentos do Animalismo no celeiro, destacando a igualdade e a proibição da adoção de comportamentos humanos. Este capítulo marca o triunfante, embora ingênuo, início de uma nova era para os animais, que sonham com uma sociedade baseada na justiça, igualdade e liberdade, sem perceber as complexidades e desafios que essa nova ordem trará.

CAPÍTULO 3: A NOVA ORDEM:

Os animais começam a organizar a fazenda sob novos preceitos, estabelecendo os Sete Mandamentos do Animalismo.

No capítulo 3 de "A Revolução dos Bichos" de George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Trabalho e Produtividade: Após a revolução, os animais começam a trabalhar na colheita, que se torna a mais bem-sucedida até então, graças ao esforço coletivo e à ausência de exploração humana. Esse sucesso inicial ilustra o potencial da cooperação e do trabalho árduo sob a nova gestão animal, sugerindo que a utopia sonhada pode ser alcançável. A narrativa destaca a disposição e a capacidade dos animais em gerenciar suas tarefas e recursos, apesar das diferenças individuais de habilidade e inteligência.

2. Educação e Desigualdades: O capítulo aborda a questão da educação, com os porcos, especialmente Snowball, tomando a iniciativa de ensinar os animais a ler e escrever. Embora todos os animais tenham acesso à educação, torna-se evidente que existem diferenças significativas de capacidade entre eles, refletindo as desigualdades inerentes à nova sociedade. A educação é vista tanto como uma ferramenta de empoderamento quanto um meio de estabelecer hierarquias, já que os porcos começam a se posicionar como líderes intelectuais.

3. Surgimento de Uma Elite: Ainda que sutilmente, começa a surgir uma elite entre os animais, com os porcos assumindo papéis de liderança e tomando decisões importantes. Eles se apropriam do leite e das maçãs sob o pretexto de que precisam desses alimentos para pensar melhor pelo bem da granja. Esse ato marca o início da erosão dos princípios de igualdade que fundamentaram a revolução, indicando que mesmo na ausência de humanos, a tendência à formação de uma classe dominante e à justificação de privilégios para alguns em detrimento de outros persiste.

No capítulo 3 a Granja dos Bichos experimenta um período inicial de sucesso e prosperidade sob o governo dos animais. Eles trabalham juntos para colher a maior safra já vista, com cada animal contribuindo conforme sua capacidade. Sob a liderança dos porcos, iniciativas de educação são implementadas, mas as diferenças na capacidade de aprendizado começam a evidenciar desigualdades. Os porcos, alegando necessidades especiais, começam a se apropriar de recursos como o leite e as maçãs, justificando que isso é para o bem da fazenda. Este capítulo ilustra tanto o otimismo inicial pela autonomia e cooperação quanto as primeiras sementes de desigualdade e elitismo, prenunciando as complicações futuras na busca pela utopia animal.

CAPÍTULO 4: CONSTRUINDO O FUTURO:

Este capítulo foca nos esforços dos animais para construir o moinho de vento, um símbolo de progresso e cooperação.

No capítulo 4 de "A Revolução dos Bichos", George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Difusão da Revolução: A notícia da revolta dos animais na Granja dos Bichos se espalha pelas fazendas vizinhas, inspirando temor e admiração entre os animais e ressentimento e preocupação entre os humanos. Essa difusão de ideias revolucionárias destaca o potencial subversivo da revolução animal, sugestivamente apontando para o poder das ideias em transcender fronteiras físicas e inspirar mudanças sociais.

2. Conflito com os Humanos: Os humanos, liderados pelo Sr. Jones e apoiados por vizinhos de fazendas adjacentes, tentam retomar a Granja dos Bichos. Esse conflito culmina na Batalha do Celeiro de Feno, uma representação simbólica da luta pela autonomia e liberdade. A vitória dos animais não apenas reafirma sua independência, mas também fortalece seu senso de identidade coletiva e capacidade de autodefesa contra as forças opressoras.

3. Heroísmo e Suas Consequências: A batalha revela heróis entre os animais, como Boxer, o cavalo, cuja força e coragem se destacam. No entanto, a batalha também traz perdas, e a celebração da vitória é acompanhada por um luto pelas baixas. Esse aspecto do capítulo reflete sobre o custo do conflito e a natureza ambígua do heroísmo, que envolve tanto a glória quanto o sacrifício.

No capítulo 4 a fama da revolta dos animais se espalha para além da Granja dos Bichos, incitando medo e admiração nas fazendas vizinhas e levando os humanos a planejar uma contraofensiva para recuperar a fazenda. Sob a liderança do Sr. Jones e com o apoio de outros fazendeiros, eles atacam a Granja dos Bichos, desencadeando a Batalha do Celeiro de Feno. Os animais, unidos e estrategicamente preparados sob a orientação dos porcos, especialmente Snowball, defendem-se bravamente, conseguindo uma vitória significativa contra os humanos. Este episódio, marcado por atos de heroísmo, como os de Boxer, o cavalo, e a concessão de medalhas de honra, solidifica ainda mais o espírito revolucionário dos animais, ao mesmo tempo que destaca as realidades sombrias do conflito, incluindo a perda e o luto. A vitória reforça a autonomia da Granja dos Bichos, mas também prenuncia futuros desafios na manutenção de sua independência e nos princípios revolucionários.

CAPÍTULO 5: SEMENTES DA CORRUPÇÃO:

As primeiras rachaduras na utopia animal começam a aparecer, com sinais de corrupção e abuso de poder entre os porcos.

No capítulo 5 de "A Revolução dos Bichos", George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Divergência Ideológica e Política: O capítulo ilustra o crescente conflito ideológico entre Snowball e Napoleão, dois líderes porcos que representam visões distintas para o futuro da Granja dos Bichos. Snowball é entusiasta de projetos ambiciosos que promovem o bem-estar e a eficiência na fazenda, como a construção de um moinho de vento, enquanto Napoleão é mais cauteloso e focado no poder e controle imediatos. Essa divergência reflete debates políticos mais amplos sobre a direção e os métodos da revolução, destacando as fissuras dentro do movimento revolucionário.

2. Manipulação e Controle: Napoleão recorre à manipulação e ao uso da força para consolidar seu poder, exemplificado pela expulsão súbita de Snowball da fazenda por cães adestrados. Esse ato de força não apenas elimina seu rival político, mas também sinaliza uma mudança na governança da Granja dos Bichos, de um sistema coletivo para um regime mais autoritário. A manipulação se estende à retórica usada para convencer os animais da necessidade dessa mudança, mostrando como a linguagem e a propaganda são usadas para controlar a percepção e manter o poder.

3. Revisão da História e Propaganda: Após a expulsão de Snowball, Napoleão e seus seguidores começam a revisar a história da revolução e o papel de Snowball nela, pintando-o como um traidor e vilão. Essa revisão da história, junto com a propagação de propaganda, serve para consolidar o controle de Napoleão, reforçando sua posição de liderança incontestável e desencorajando o questionamento e a dissidência. A manipulação da verdade e a criação de um inimigo comum são táticas usadas para unificar os animais sob o novo regime autoritário.

No capítulo 5 a disputa de poder culmina com Napoleão expulsando Snowball da fazenda usando cães treinados, assumindo controle absoluto. Sob sua liderança, a fazenda vê uma transição de um governo coletivo para um regime autoritário, com a história sendo reescrita para consolidar o poder de Napoleão e desacreditar Snowball. Este momento sinaliza a deterioração da utopia revolucionária em uma ditadura.

CAPÍTULO 6: O DECLÍNIO DA UTOPIA:

O trabalho árduo e as condições de vida dos animais pioram, enquanto os porcos continuam a usufruir de privilégios.

No capítulo 6 George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Intensificação do Trabalho e Sacrifícios: Os animais, sob a direção de Napoleão, trabalham mais arduamente do que nunca para construir o moinho de vento, que representa o progresso tecnológico e econômico prometido pela liderança. Esse trabalho árduo e os sacrifícios exigidos, incluindo a redução das rações, são justificados pela promessa de uma vida melhor no futuro. Contudo, essa situação também reflete a crescente exploração dos animais, que se assemelha à opressão que eles buscavam eliminar com a revolução.

2. Quebra dos Princípios Originais da Revolução: Durante este capítulo, observa-se uma erosão gradual dos princípios originais da revolução animalista. As regras estabelecidas no início, destinadas a garantir a igualdade e a justiça para todos os animais, começam a ser alteradas para beneficiar os porcos, que assumem posições de privilégio. A liderança começa a negociar com humanos, contrariando um dos mandamentos fundamentais da revolução, que proibia tal interação, evidenciando uma aproximação com as práticas que os animais inicialmente buscavam abolir.

3. Consolidação do Poder por Napoleão e a Elite: Napoleão e os porcos consolidam ainda mais seu poder, distanciando-se dos outros animais e começando a adotar comportamentos e privilégios humanos, como dormir em camas. Isso não apenas demonstra a hipocrisia da liderança, mas também a transformação dos porcos em figuras indistinguíveis dos opressores humanos originais. A manipulação das regras e a reinterpretação dos princípios da revolução servem para manter seu status e controlar a narrativa dentro da fazenda.

No capítulo 6 os animais se esforçam na reconstrução do moinho sob promessas de um futuro melhor, enquanto os porcos, liderados por Napoleão, começam a violar os princípios revolucionários, negociando com humanos e adotando privilégios. Essas ações marcam a erosão dos ideais de igualdade e a ascensão de uma nova elite, evidenciando a corrupção do poder e a distância crescente entre os líderes e os demais animais, refletindo a traição dos valores fundamentais da revolução.

CAPÍTULO 7: TRAIÇÕES E CONSEQUÊNCIAS:

As tensões aumentam com a traição de Snowball e a consolidação do poder por Napoleon, levando a mudanças drásticas na governança da fazenda.

No capítulo 7 George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Escassez e Sofrimento: O capítulo retrata um período de intensa escassez e fome entre os animais da fazenda. Apesar de seus esforços árduos, os animais enfrentam dificuldades crescentes, com racionamento severo de comida. Esta situação é agravada pela propaganda dos porcos, que tentam mascarar a gravidade da situação, mantendo a imagem de sucesso e prosperidade da revolução para o exterior. A discrepância entre a realidade vivida pelos animais e a narrativa apresentada pelos porcos destaca as manipulações e mentiras que sustentam o regime de Napoleão.

2. Traição e Repressão: O capítulo é marcado por uma atmosfera de medo e traição, onde Napoleão e os porcos acusam diversos animais de conspirarem contra a Granja dos Bichos sob a influência de Snowball, o porco exilado e agora inimigo declarado. As confissões forçadas e as execuções sumárias que se seguem revelam a consolidação de um regime totalitário na fazenda, onde a lealdade é imposta pelo terror, e qualquer dissidência é brutalmente eliminada. A justiça e a igualdade prometidas pela revolução dão lugar a um sistema de opressão e medo.

3. Distorção dos Ideais Revolucionários: A manipulação das Sete Leis do Animalismo para justificar as ações autoritárias dos porcos demonstra uma distorção flagrante dos ideais originais da revolução. As mudanças sutis nas leis, que inicialmente promoviam igualdade e fraternidade entre os animais, refletem a adaptação dos princípios revolucionários aos interesses da elite governante. A gradual erosão dos fundamentos da revolução ilustra como o poder e a corrupção podem distorcer ideais nobres, transformando-os em ferramentas de dominação e controle.

No capítulo 7 a fazenda sofre com fome e frio extremos, enquanto Napoleão intensifica seu domínio autoritário, promovendo uma onda de terror com acusações falsas de traição, levando à execução de animais considerados conspiradores. Paralelamente, os porcos manipulam as Leis do Animalismo para justificar suas ações e reforçar seu controle, distorcendo completamente os ideais revolucionários originais. Este capítulo evidencia a transformação da revolução em tirania, com a corrupção e o poder absoluto corrompendo completamente os princípios que inicialmente motivaram a luta dos animais.

CAPÍTULO 8: A ERA DE NAPOLEON:

O controle autoritário de Napoleon está bem estabelecido, com a manipulação da história e a repressão dos animais.

No capítulo 8 de George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Consolidação do Poder dos Porcos: Neste capítulo, observa-se a continuação da consolidação do poder nas mãos de Napoleão e dos outros porcos, que agora vivem com luxos cada vez maiores, distanciando-se ainda mais dos outros animais. Eles começam a adotar práticas humanas, como beber álcool, o que viola as leis originais do Animalismo. A alteração da Lei do Animalismo para permitir o consumo de álcool pelos porcos simboliza a hipocrisia e a traição dos ideais revolucionários.

2. Relações com os Humanos: A interação entre os porcos e os humanos se intensifica, com negociações e comércios sendo estabelecidos entre a Granja dos Bichos e as fazendas vizinhas. Essa aproximação culmina na venda de madeira para Frederick, um fazendeiro humano, que engana Napoleão, pagando com notas falsas. Apesar da traição, a disposição dos porcos para negociar com humanos, criaturas que antes eram consideradas inimigas mortais, ilustra a erosão dos princípios Animalistas e a crescente semelhança entre os porcos e os opressores humanos.

3. Revisão da História e Propaganda: A manipulação da história e o uso da propaganda são intensificados para manter o controle sobre os outros animais. A figura de Snowball é continuamente vilipendida, e ele é acusado de ter sido um traidor desde o início, apesar de suas contribuições para a revolução. Ao mesmo tempo, os feitos de Napoleão são exaltados, e os fracassos são atribuídos a traidores ou a influências externas. Essa revisão da história serve para reforçar o poder dos porcos e justificar suas ações, mantendo a lealdade dos animais através da desinformação.

No capítulo 8 a corrupção dos porcos se aprofunda com eles adotando hábitos humanos e alterando as regras do Animalismo para justificar seus privilégios. As relações comerciais com humanos contradizem os ideais revolucionários, e a traição de Frederick evidencia a vulnerabilidade da fazenda. A manipulação da história e a propaganda fortalecem o controle de Napoleão, distorcendo a verdade para manter o poder. Este capítulo destaca a completa degeneração dos princípios da revolução, com os porcos se tornando tão opressores quanto os humanos que eles haviam deposto.

CAPÍTULO 9: O MOINHO E A QUEDA:

A batalha pelo moinho de vento e as suas consequências devastadoras marcam o início do fim da utopia animal.

No capítulo 9 George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Declínio da Qualidade de Vida dos Animais: Enquanto os porcos e os cães desfrutam de privilégios crescentes, a qualidade de vida dos demais animais piora significativamente. Os racionamentos de comida se tornam mais severos para todos, exceto para os porcos e os cães. O trabalho árduo e as condições de vida precárias são justificados pela liderança como sacrifícios necessários para o bem da fazenda, mas claramente servem apenas para manter o luxo da elite governante. A promessa de aposentadoria para os animais mais velhos, como o cavalo Boxer, é revelada como uma falsa esperança, demonstrando a exploração até o último suspiro de sua utilidade.

2. A Traição de Boxer: A história de Boxer, o cavalo trabalhador e leal, simboliza a traição final dos ideais revolucionários. Após se lesionar, em vez de ser cuidado na aposentadoria prometida, Boxer é vendido a um abatedouro por Napoleão para comprar mais whisky. A liderança engana os outros animais sobre o destino de Boxer, alegando que ele morreu em um hospital humano, mostrando a completa falta de escrúpulos dos porcos e como eles manipulam a narrativa para manter o controle.

3. Aprofundamento da Assimilação com os Humanos: O capítulo também mostra a continuação da assimilação dos porcos com os humanos, evidenciada ainda mais pela planejada construção de um moinho de vento para gerar eletricidade, não para aliviar o trabalho dos animais, mas para fornecer luz e aquecimento às acomodações dos porcos. A distância entre os ideais originais da revolução e a realidade atual se amplia, com os porcos cada vez mais distantes dos outros animais, não apenas em privilégios, mas também em comportamento e aparência.

No capítulo 9 destacam-se o agravamento das condições de vida dos animais não privilegiados, a traição e exploração de Boxer, que é vendido para um abatedouro em vez de receber os cuidados prometidos, e a crescente assimilação dos porcos com os humanos, evidenciada pelo luxo em que vivem e pelo planejamento de projetos que beneficiam apenas a eles. Este capítulo sublinha a completa degeneração dos ideais revolucionários, com a liderança porcina manipulando e explorando os demais animais, solidificando um regime tão opressor quanto o que pretendiam substituir.

CAPÍTULO 10:

O capítulo final revela a completa transformação da fazenda, onde os ideais iniciais foram completamente abandonados, e a indistinguível diferença entre porcos e humanos simboliza a corrupção total da revolução.

No capítulo 10 George Orwell apresenta 3 IDEIAS CENTRAIS:

1. Indistinguibilidade entre Porcos e Humanos: A cena final, onde porcos e humanos jogam cartas juntos, simboliza a completa erosão das diferenças entre os opressores e os oprimidos. Os animais, observando através da janela, não conseguem mais distinguir entre os porcos e os humanos, ilustrando a transformação dos porcos em tudo o que eles inicialmente se propuseram a combater. Esta ideia ressalta a ironia e a crítica de Orwell ao autoritarismo e à corrupção do poder, mostrando como os líderes revolucionários podem se tornar tão corruptos quanto aqueles que eles derrubaram.

2. Traição dos Ideais Revolucionários: Ao longo do livro, os Sete Mandamentos do Animalismo são gradualmente alterados para justificar as ações dos porcos. No final, o único mandamento remanescente é alterado para "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros", encapsulando a completa traição aos ideais de igualdade e justiça que motivaram a revolução. Essa mudança reflete a consolidação de uma nova elite dominante que explora os outros animais, assim como os humanos faziam.

3. Ciclo de Opressão: O capítulo final também sugere um ciclo vicioso de opressão e revolta, indicando que a substituição de um regime opressor por outro não resolve as questões subjacentes de poder e corrupção. A granja prospera, mas apenas para o benefício dos porcos e dos humanos com quem agora se aliam, enquanto a maioria dos animais continua a sofrer sob o jugo da exploração. Isso sugere uma crítica mais ampla às revoluções que falham em mudar as estruturas fundamentais de poder, resultando em uma mudança superficial que não beneficia aqueles por quem a revolução foi supostamente realizada.

O último capítulo de "A Revolução dos Bichos" mostra a completa degeneração dos ideais revolucionários na Granja do Solar. Os porcos, liderados por Napoleão, tornam-se tão corruptos e opressores quanto os humanos que substituíram, culminando em uma reunião com humanos onde as diferenças entre ambos são indistinguíveis. O famoso mandamento alterado para "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros" simboliza a traição final aos princípios de igualdade e liberdade. Este desenlace destaca a crítica de Orwell ao ciclo vicioso de poder e corrupção.

3) VISÃO SINTÓPICA: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS DE LIBERDADE E IGUALDADE NA OBRA DE GEORGE ORWELL E DE NORBERTO BOBBIO

"A Revolução dos Bichos", de George Orwell, e "Igualdade e Liberdade", de Norberto Bobbio, são obras que abordam os temas de liberdade e igualdade, embora por perspectivas e em contextos distintos. Ambas as obras exploram a complexidade e as tensões entre esses dois ideais fundamentais, mas o fazem de maneiras que refletem suas respectivas disciplinas literária e filosófica.

3.1) Semelhanças:

1. Crítica às Disparidades Sociais: Tanto Orwell quanto Bobbio criticam as estruturas de poder que perpetuam desigualdades. Orwell faz isso através de uma fábula que mostra a degeneração de uma revolução, onde os líderes se tornam tão opressores quanto aqueles a quem substituíram. Bobbio, por sua vez, aborda de maneira mais teórica, discutindo como as desigualdades sociais e econômicas comprometem a liberdade.

2. Ideal de uma Sociedade Justa: Ambas as obras aspiram a uma sociedade onde liberdade e igualdade coexistam harmoniosamente. Essa visão utópica serve de crítica às realidades contemporâneas dos autores, apontando para a necessidade de reformas sociais e políticas.

3.2) Diferenças:

1. Abordagem e Gênero: "A Revolução dos Bichos" é uma obra de ficção, uma sátira política que utiliza animais para explorar a corrupção do poder humano e a traição dos ideais revolucionários. "Igualdade e Liberdade" é um trabalho de filosofia política, uma coletânea de ensaios que examina conceitualmente as tensões e interações entre liberdade e igualdade.

2. Foco na Solução: Orwell foca mais na crítica das falhas humanas e na inevitabilidade da corrupção dentro dos sistemas políticos, sem oferecer uma solução clara ou um caminho a seguir. Bobbio, embora também crítico, procura explorar as condições sob as quais liberdade e igualdade podem ser reconciliadas e sustentadas, oferecendo uma análise mais esperançosa e propositiva sobre como equilibrar esses ideais na prática.

3. Contexto Histórico e Influências: Orwell escreveu em um contexto de ascensão do fascismo e do comunismo na Europa, o que influenciou sua visão cínica sobre as revoluções e a política. Bobbio, vivendo em um período posterior, foi influenciado pelo desenvolvimento do pensamento democrático e dos direitos humanos no pós-guerra, o que lhe permitiu uma abordagem mais otimista e analítica sobre a possibilidade de conciliar liberdade e igualdade.

Em resumo, enquanto "A Revolução dos Bichos" oferece uma narrativa alegórica sobre a falha das utopias políticas e a corrupção do poder, "Igualdade e Liberdade" se aprofunda na análise teórica dos princípios que poderiam sustentar uma sociedade justa, equilibrada e democrática. Ambas as obras são complementares em sua exploração dos temas de liberdade e igualdade, oferecendo insights valiosos sobre os desafios de construir e manter uma sociedade que honre ambos os ideais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

"A Revolução dos Bichos" de George Orwell narra a ascensão e queda de uma revolução animal, destacando a corrupção inevitável do poder e a traição dos ideais de igualdade. A obra inicia com promessas de uma sociedade justa, livre da opressão humana, mas evolui para a tirania dos porcos, que se tornam indistinguíveis dos antigos opressores. A transformação dos ideais revolucionários em autoritarismo reflete a crítica de Orwell ao ciclo vicioso de poder e corrupção, alertando sobre os perigos do absolutismo e da manipulação ideológica. A história conclui com uma poderosa mensagem sobre a universalidade da opressão e a dificuldade de manter princípios puros em face da ambição e do desejo de controle.

REFERÊNCIAS:

Oscar Francisco Alves Junior
Enviado por Oscar Francisco Alves Junior em 14/04/2024
Reeditado em 15/04/2024
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