Edição de Imagens Fotográficas

EDIÇÃO DE IMAGENS FOTOGRÁFICAS

Editar significa selecionar do todo aquilo que será usado, ou seja, a parte; ou de estabelecer aquilo que é considerado como correto dentro de uma proposta pré-estabelecida, aqui neste caso, na proposta do trabalho fotográfico. A edição de imagens na fotografia também denota a ideia de manipulação, de alteração da “matriz” da imagem, podendo ainda, remeter a ideia de uma alteração da realidade, representada pela foto, acepção esta discutida exaustivamente por teóricos e pensadores da teoria semioticista, como Peirce, Barthes, Eco entre outros.

Difícil fugir também da dicotomia trazida pela prática da edição de imagens, ao compreender o seu uso como “certo” ou “errado” no dia-a-dia, por meio de softwares de edição ou manipulação de imagens. Até que momento podemos ou devemos considerar “ileso” o seu uso? Será que de alguma maneira a utilização freqüente da edição pode prejudicar o trabalho artístico e autoral do fotógrafo? A edição de imagens pode prejudicar a essência da informação fotográfica ao construir ou alterar uma notícia ou fato? A edição pode, de alguma maneira, ludibriar, enganar, persuadir de modo intencional um expectador daquela imagem? São muitas as dúvidas.

Uma outra conceituação pertinente que devemos abordar trata-se de compreender que, mesmo antes da tecnologia digital (ou seja, a substituição do suporte fílmico para o digital, por meio das placas de CCD) já existia uma edição, ou seja, o processo de edição de imagens já ocorria antes da consolidação de softwares como o Adobe Photoshop. No entanto, é verdade afirmar que, atualmente, pela facilidade do uso, e pela consolidação de tais softwares, a edição torna-se mais freqüente e usual.

O processo de edição de imagens ou tratamento de imagens é hoje muito freqüente e quase sempre acompanha a rotina do profissional em fotografia. O principal motivo da escolha do processo de edição se dá em valorizar ao máximo a imagem com retoques e ajustes, dando a ela um aspecto de perfeição no que diz respeito à luz e contraste de cores ou escalas de cinzas, para as fotos em PB. É possível também utilizá-lo na correção de falhas técnicas ou ainda na correção de erros do próprio fotógrafo ao utilizar o equipamento. Ou seja, torna-se tudo muito mais fácil, inclusive com a proposta de considerar recuperável um trabalho ora considerado perdido.

É indiscutível o benefício estético proporcionado pela edição de imagens. Ao compararmos a mesma imagem fotográfica em dois momentos distintos, primeiro ela imediatamente após o clique, ou seja, “original”, livre de qualquer alteração ou modificação; E depois, após simples retoques e ajustes por meio da manipulação do tratamento de imagem, com o uso de técnicas ou softwares de edição. É possível notar claramente que, após o uso do software pode-se reajustar toda a imagem, basta querer fazê-lo. O aspecto de melhoria seja nos contrastes de cores e luzes, na correção de qualquer imperfeição perceptível ou não no momento do clique, ou ainda, com a proposta de manipulação da imagem, como por exemplo, usar um fundo fotográfico diferente daquele originalmente produzido, para ilustrar uma campanha publicitária. Tudo é possível.

Existem inúmeros softwares de edição. Os mais tradicionais e profissionais exigem do fotógrafo um conhecimento mais apurado e amplo nas ferramentas, nos retoques, visto a gama de possibilidades e resultados conseguidos. No entanto, existem outros inúmeros softwares que simplificam o processo. Bastando apenas escolher – entre alguns modos pré-estabelecidos – aquele que melhor se encaixa na sua proposta. Todos eles com a única função de melhorar a imagem original. A edição está presente até nas redes sociais. A título de exemplo, o próprio Instagram, que se caracteriza em expressar ou se comunicar por meio de fotos os diferentes momentos dos usuários, permite antes da postagem da foto, modos pré-selecionados de retoques simples, como correção e ajustes de cores, podendo deixá-la em preto e branco, séphia, entre outras possibilidades visuais.

Por outro lado, toda essa euforia em “perfeição” na imagem fotográfica pode sugerir, ao menos, duas inquietações: a primeira relacionada ao aspecto de domínio por parte do fotógrafo da técnica fotográfica e sua linguagem com o objetivo de corrigir eventuais erros com o uso de softwares; e o segundo está diretamente ligado a ideia de plasticidade da imagem, tamanha é a intenção na busca pela perfeição imagética, uma linha bastante tênue com a artificialidade no resultado fotográfico.

A técnica fotográfica ou arte fotográfica se caracteriza em justamente proporcionar ao fotógrafo escolhas sutis que resultarão em diferentes resultados fotográficos. Por exemplo: diferentes tempos na exposição à luz do filme ou placa de CCD, diferentes aberturas na passagem da luz pelas lentes objetivas, diferentes sensibilidades do filme ou da placa de CCD, enfim, inúmeras possibilidades. O fotógrafo tem a opção no momento da produção da foto de conseguir aquilo que se espera enquanto resultado fotográfico. Ou seja, ele não necessita, obrigatoriamente, recorrer a ajustes na pós-produção e sim, durante a pré-produção de seu trabalho (ao definir o que e como será feito) e aplicar seu propósito durante a produção fotográfica, ajustando manualmente o equipamento e os demais elementos inerentes ao trabalho, como a própria iluminação.

Da mesma forma a busca pela “perfeição” da imagem. Fotografias cada vez mais plásticas estampam ou ilustram diferentes publicações. A plasticidade é tamanha que tornam as imagens cada vez mais, menos naturais. Retoques excessivos são freqüentes. É preciso lembrar que a fotografia representa a realidade e não a é. Assim como as inúmeras possibilidades na edição de imagens, há inúmeros casos de erros em seu uso. Um caso curioso aconteceu com a publicação de uma imagem da atriz Fernanda Vasconcellos. Nela, a atriz aparece sem o seu umbigo. A revista VEJA publicou em outubro de 2009 uma matéria sobre o uso indiscriminado de softwares de manipulação da imagem, trazendo a angustia dos Franceses em devolver o status utópico da realidade pela foto. A ideia era de alertar o leitor, por meio de um texto de identificação (como uma espécie de selo ou marca d’ água) de que determinada foto foi manipulada digitalmente, ou seja, alterada.

Conforme se percebe é preciso ficar atento na utilização de softwares de edição ou na manipulação de imagens. O fotógrafo pode e deve compreender a edição e manipulação de imagens como mais um recurso na prática e/ou arte fotográfica. É preciso, no entanto, utilizar com moderação e lembrar-se que, o exagero pode causar malefícios a imagem e a produção fotográfica e na divulgação desta, principalmente, se aplicada no fotojornalismo. Qualquer tipo de alteração na mensagem informativa da foto torna-se um grave erro. Mais uma vez devemos lembrar que, a fotografia deve representar a realidade, no campo jornalístico em especial, a fotografia é mais um elemento noticioso, informativo e, portanto, deve estar livre e isenta de qualquer tipo de parcialidade e manipulação tendenciosa.

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 15/07/2012
Código do texto: T3779531
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