TRANSIÇÃO DO DESENHO INDUSTRIAL PARA O DESIGNER

TRANSIÇÃO DO DESENHO INDUSTRIAL PARA O DESIGN

Telma Bonifacio dos Santos Reinaldo

Em meados do século XVI, objetos decorativos começaram a ter um valor de status atribuídos a eles. A monarquia e a nobreza começaram a se interessar por esses adereços, tapeçarias, porcelanas, e artefatos de decoração, foram transformados em objetos de desejo e luxo, através da aplicação de ouro em livros e porcelanas, que demonstrava prestígio e posição social.

Surgiu então, a primeira indústria de manufatura de artes decorativas, comandada por Charles Le Brun que supervisionava as atividades manufaturadoras da Gobelins , onde assinava os desenhos que iam nas tapeçarias. Na Alemanha também se iniciou a manufatura de peças valiosas de porcelana para a burguesia. Todo esse surgimento levou à necessidade de que artistas se dedicassem ao desenho de peças exclusivas, agregando mais valor a esses produtos. Os artistas começaram a assinar como diretores de criação, sendo que a produção mecânica do produto era feita por trabalhadores manuais.

Essa situação levou os artistas a terem uma situação social privilegiada em relação aos que manufaturavam os produtos. O advento desse novo tipo de desenho leva a uma nova preocupação estética no começo de séc. XVIII: o desenho de livros e materiais impressos. Surge então, um novo mercado para artistas, que se dedicam à criação de livros, estudos de diagramação, tipografia, espaçamento, margens e formas das letras que são realizados, com o objetivo de se criar modelos de obras mais elaboradas e com maior legibilidade.

Graças a esse novo movimento do design foi criado um mercado que abrangia mais do que somente artistas, abriram-se espaço para tipógrafos, diagramadores, ilustradores e outros profissionais da área; e com isso o livro se tornou um objeto mais acessível. Esse período foi muito importante para a evolução das artes gráficas, pois daí surgiu o sistema de fontes utilizado até hoje, influenciando designers dos dias atuais.

No Movimento da reforma estética para as máquinas, Frank Lloyd Wright faz apologia à máquina e tem a preocupação com o dinamismo, que pouparia o tempo de produção, e daria ênfase à expansão do mercado consumidor. Desta forma, o aumento do lucro e da produção estava crescendo e com isso o apoio do governo era mais forte.No FORDISMO a produção era feita de forma racionalizada. Foi criada a linha de montagem nas fábricas. Não haviam conceitos ligados ao social, causando o esvaziamento do sentido do objeto. Havia uma relação totalmente OBJETIVA, tendo como principais características a: conformidade, repetição, padronização, uniformização e extremo controle.

O objetivo do TAYLORISMO era a redução de custos de trabalho e aumento da produtividade. Foi um período de tensão para o design, criando um abalo na concepção da profissão e alicerces da ideologia do romantismo. Só a utilização ou mesmo só a função não supriam o desejo pelos objetos e nem interferiam na cultura trazendo novas visões e criatividade.

Ruskin abriu uma discussão sobre o papel do design na sociedade, e defendia que o design recuperasse o aspecto artístico, pois naquela época, devido à Revolução Industrial ocorria uma intensa massificação dos produtos. Ruskin via o design como um conjunto que abrangia a estética, a forma, o social, a função e a política. Influenciado por Ruskin, Morris tinha interesse em integrar teoria e prática. Suas idéias eram baseadas no Socialismo, e ele via no Design um modo de integrar arte com reforma social. Morris também era contra a massificação, e achava que o design deveria fazer parte de um processo criativo, unindo-se à arte, alcançando a categoria de arte útil.

A espiritualização deveria fazer parte do design, ou seja, a criação de um objeto deveria vir de um criador, originar-se de uma idéia criativa, e não se moldar à idéia de reprodução em massa, o que traria um progresso vazio e alienante. O artista tem então, um papel fundamental para o design, segundo a escola de Morris . Morris, que foi o criador do “Movimento da Manufatura e Artes” (Arts and Crafts), defendia que o artista com uma consciência social poderia direcionar seus esforços de maneira mais interessante sendo um mero artesão, dessa forma servindo a sociedade de objetos que tivessem alem de sua função, um cuidado com a forma e estética, e proporcionasse prazer a quem os observasse.

Vários designers foram influenciados por esse modo de pensar de Morris, como por exemplo o designer Arthur Mackmurdo, que se inspirava na História da Arte para a criação de suas peças, e defendia a abolição da distinção entre Belas Artes e Artes Aplicadas. Devido a tudo isso, naquela época o design era muito influenciado pela arte, principalmente porque haviam muitas questões ideológicas envolvidas, que defendiam que arte e design deveriam se unir.

Como visto anteriormente, a arte decorativa pensava e produzia peças exclusivas para os integrantes da aristocracia. Destacaram-se com seu design de detalhes, materiais nobres e de maior qualidade. O ouro foi muito utilizado. Sua forma de expressão focava principalmente o status. No séc. XIX, na Inglaterra, surgiu o DESIGN DA REFORMA. Não havia uma preocupação tão grande com os detalhes das peças, mas sua função é pensada, agregando valores à sociedade com a preocupação de organizá-la, inserindo a sua cultura melhores condições de vida.

Os móveis não tinham nenhuma intenção de uso e praticidade, as peças são elaboradas com conceito e funcionalidade. Exemplo: ESCRIVANINHA, trouxe maior organização ao ambiente de trabalho, causando até um rendimento maior nos escritórios onde eram utilizadas. MESA DE JANTAR: seu conceito foca o VALOR MORAL. Aproximando as pessoas na hora do jantar, fazendo com que elas compartilhassem seus desejos e ideais. Logicamente a REFORMA surgiu de um interesse comercial e também pelo contexto histórico, diante da evasão do campo para a cidade, com grandes concentrações de pessoas em busca de trabalho, causando grandes diferenças sociais e a reurbanização.

Além disso, essa nova forma de pensar causou polêmica entre alguns artistas, que se incomodaram definindo como “rebaixamento do design”.

No entanto houve uma modificação na cultura e hábitos da sociedade. As peças dos designers se tornaram COMMODITIES, mercadorias de valor agregado, diferente do que acontecia na arte decorativa. O acesso aos objetos aumentou cada vez mais e a população passou a ter aquilo que antes só pertencia aos “escolhidos”, a aristocracia.

Com a Revolução Industrial e avanço da tecnologia, houve boa aceitação da sociedade causando um aumento excessivo da produtividade. Assim, o padrão de vida dos artistas e também dos seus consumidores aumentou, modificando as relações sócio-econômicas e estabelecendo a função do design para a sociedade.

REFERENCIAS

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