A RELIGIÃO, A CIÊNCIA E DEUS

O avanço da ciência contribuiu para um mundo mais secularizado em que Deus não é mais necessário. Uma das marcas do saber cientifico, é o rigoroso ateísmo metodológico, Karl Rahner um dos grandes teólogos do século passado disse “que o mundo contemporâneo estaria vivendo um ateísmo mundial, um fenômeno social reconhecido em todo lugar como legítimo” (Mondin, 1997).

A ciência não precisa de Deus para suas respectivas explicações. Mesmo assim, a religião não desapareceu e permaneceu se exibido com um novo rótulo e seus hermeneutas com novos cenários. Mas de fato o que é religião? Por que os homens fazem religião? Talvez nenhuma outra pergunta tenha obtido tantas respostas, variadas e as vezes contraditórias. Na verdade, não se tem noticia de cultura alguma que não tenha produzido religião, de uma forma ou de outra. A gênese da religião esta atrelada ao homem, este é chamado a ser o HOMO RELIGIOSUS. O ser humano embora se predisponha de uma programação biológica á semelhança dos animais, distancia-se destes, porque faz seu corpo, inventa o mundo; enquanto ser de desejo cria a cultura, compreendida como atividade de suprimento da sobrevivência e do supérfluo. Enquanto os desejos dos homens não se realizam devido aos obstáculos, catástrofes, contradições e limites, resta, pois então cantá-lo, celebrá-lo. Por isso, a cultura transformou-se em um universo simbólico, que precisa do sagrado.

Nesse sentido, que surge a religião, isto é, “uma teia de símbolos, uma rede de desejos, confissão de espera, horizonte dos horizontes, a mais fantástica e pretensiosa tentativa de transubstanciar a natureza” (Alves, 2003). O sagrado não é uma eficácia inerente às coisas, mas é o próprio homem que atribui através da linguagem os nomes e valores místicos às coisas. O sagrado na acepção própria é aquilo que se opõe ao profano, isto é, o objeto enquanto força fascinante, maravilhosa ou terrificante pelo aspecto de referencia ou submissão relativa a quaisquer entes, daí nasce a sua transcendentalidade. O mesmo sujeito do profano é o sujeito do sagrado, isto é, o homem. No entanto a resposta aprimorada, a homogenia ao sagrado, ocorre pela religião, pois esta se chama religation ou religare que significa unir, ligar, ponte, escada que tem a capacidade de ligar o imanente ao transcendente, unido a natureza junto à graça divina. O ambiente do homem se transforma em uma hireofania (manifestação do sagrado); porque a essência da religião não é um objeto, mas uma relação. Em vista disso, o fenômeno religioso tem referencia aos fundamentos últimos do homem, “o problema religioso toca o homem na sua raiz ontológica, não se trata de fenômeno superficial, mas implica a pessoa como um todo” (Zilles, 1991). Quando o homem descobre o sagrado se transforma por que a sua linguagem se transforma em coisas invisíveis, coisas para além dos nossos sentidos comuns que, segundo a explicação, somente os olhos da fé podem contemplar. O zen-budismo chega a dizer que a experiência da vida religiosa, “satóri”, é um terceiro olho que se abre para as coisas que os outros dois não conseguem ver. A consciência religiosa em resumo, é uma expressão da imaginação, não que a religião seja apenas imaginação, mas que esta estabelece sua filiação reconhecendo a fraternidade que uni o homem ao sagrado e a si mesmo. Houve um tempo em que a religião tudo explicava através da teologia, os descrentes escondiam-se como se estivessem contagiados por uma espécie de peste contagiosa. Esse período foi obscuro na história, chamado de idade das trevas. Com o humanismo e renascimento, a chamada era das luzes, fez-se surgir o ilumunismo opondo-se a esse quadro sinistro da história. Então, Deus passou a ser empurrado para fora do mundo, fora da história; para que o homen domine a terra é necessário que Deus esteja confinado aos céus. Mas nem por isso Deus deixou de existir, vestiu uma nova roupagem, uma espécie de teologia, seja da prosperidade, seja da libertação, no qual a riqueza é sinal de favor divino, como também os pobres são os prediletos de Deus, tanto os operários quanto burgueses possuem almas e por isso precisam da força fascinante a fim de suportar as tristezas da terra. Portanto, o sagrado sobreviveu como religião dos oprimidos, mas também é base para a formação da religião dos capitalistas. Rubens Alves faz uma síntese da concepção de religião segundo Durkheim e Marx. Na concepção de Durkheim a religião é um fato social, e a sua essência não é uma idéia, mas uma força. O sagrado não é um circulo do saber, mas um círculo do poder; e a consciência para o sagrado só aparece em virtude da capacidade humana para imaginar, para pensar um mundo ideal; a religião pode se transformar, mas nunca desaparecerá. Já para Marx o paraíso perdido não existe, porque acredita não ter, o homem é que faz a religião, a religião não faz o homem, ela é uma felicidade ilusória do povo e sustento do capitalismo, ela só existe no mundo marcado pela alienação. Na perspectiva de Ludwig Feuerbach a religião não passa de uma projeção humana, o homem com medo da morte e do nada, projetou Deus como escape da realidade. Eu na minha experiência junto às comunidades eclesiais de base fico com a profecia que vivencia um novo tipo de religião, de natureza ética-profetica e política, e que entende que as relações dos homens com Deus tem que passar pelas relaçoes humanas. Esta religião se posiciona a serviço da vida. Acredito e respeito o credo de outras denominações religiosas, mas acredito profundamente que Jesus Cristo nos mostrou uma das melhores formas de viver o sagrado junto ao humano. Sendo assim, Jesus de Nazaré no seu anuncio querimatico sobre o reino de Deus, trouxe um reino no qual todos possam viver como gente, onde todos possam se gentilizar, vivenciar a dignidade humana, esse reino começa aqui no meio de NÓS e se realiza de forma definitiva na escatologia cristã. Assim sendo, Jesus Cristo se tornou humano para que a humanidade possa se fazer divina. Nunca existiu uma pessoa tão humana como JESUS CRISTO, a grandeza de todos os grandes dominantes era de se tornarem deuses, mas nosso Deus Jesus Cristo fez o contrario, pois se esvaziou ou se desprivilegiou (kenose) da condição divina para se tornar um verdadeiro homem, assumindo a condição humana, fazendo sua tenda no meio de nós.

A proposta de Jesus é uma proposta universal, pois, é de um amor que deve amar até o inimigo, não fere as culturas em sua alteridade. Pena o cristianismo, de modo especifico a cristandade ter deturpado o anuncio de Jesus Cristo, ter se fechado em um eclesiocentrismo, onde Roma se torna uma multinacional da fé, com um único código e um único catecismo que fere a alteridade das culturas autóctones. Como diz Luisy que Jesus pregou o reino e no lugar do reino veio a Igreja. Hoje, o catolicismo se expande em uma forma de igreja ôntico-cultual que sufoca uma igreja ético-profetico. A igreja peca por não escuta os sinais dos tempos.

O papel da religião é falar sobre o sentido da vida. Parece paradoxal, mas a preocupação principal da religião não é a vida em si, mas a morte. Quem é profundamente religioso não tem medo da morte, mas tem a capacidade de assim como Francisco de Assis chamar a morte de irmã. A religião nos faz perceber que não somos seres deste mundo, estamos apenas de passagem, somos como dizia santo Agostinho ao descobrir a grandeza de crer em Deus, “somos seres para Deus”, quem não descobrir isso, faz como dizia um velho Franciscano “nasce pobre, vive pobre e morre miserável”. Desculpe-me os ateus mas, isso é exclusivamente para os que tem fé.

Ademais, pessoas como Sócrates, Jesus, Gandhi, Zumbi e Che-guevara sonharam, imaginaram e lutaram por um mundo melhor, mais humano. Nesse sentido, a religião nasce contra este mundo que pode ser descrito e esplicado pela ciência. A religião é uma voz de uma consciência que não pode encontrar descanso no mundo tal como ele é, e que tem como seus projetos utópicos transcendem-lo; como disse Dalailama a Leonardo Boff “a melhor religião é aquela que faz o homem compassivo”.

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 27/08/2010
Reeditado em 01/11/2012
Código do texto: T2463414
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