Sobre a corrupção na pesquisa médica

A medicina é, provavelmente, dentre as "ciências", a mais corrupta. Tal fato fica evidente ao se abrir uma revista médica, entranhada por inúmeras propagandas de remédios, financiada pelos laboratórios milionários ávidos por ampliar seus lucros exorbitantes.

Ponha-se no papel do editor de uma revista financiada por um laboratório milionário, bajulado por ele, presenteado por ele. Agora imagine-se tendo recebido dois artigos de mesmo peso, tão bom um quanto outro; iguais na argumentação, na habilidade dos executores, na engenhosidade dos projetos... mas com uma diferença fundamental: apresentando resultados antagônicos!

Suponha que um dos artigos comprove a eficiência de um remédio amplamente propagandeado nas páginas da revista. O outro, ao contrário, expõe a ineficácia da droga, a nulidade dos tratamentos baseados em seu uso. Suponha ainda que os dois artigos sejam equivalentes quanto a tudo o mais.

Imagine também que o editor deve escolher apenas um dos artigos propostos, ambos muito bem apresentados, mas só um deles, não havendo mais espaço.

Ora, o editor, humano, muito provavelmente se lembrará do simpático financiador de sua revista, o bondoso presenteador, sempre a lhe cobrir de elogios e incentivos, certamente disposto a lhe oferecer qualquer ajuda que necessite. Sabe que a publicação do artigo favorável ao remédio fabricado por seu laboratório lhe agradaria bastante, ao contrário da publicação do outro, negando seus efeitos...

Bem, o médico que testa tais medicamentos também sabe de tudo isso...

Deixemos ao leitor qualquer conclusão

Ah, se olharmos as páginas das revistas de outras áreas podemos encontrá-las quase igualmente infestadas de propaganda feita por interessados nos métodos de pesquisa, mas pode haver uma diferença entre elas.

Revistas de física, por exemplo, podem estar incrustadas de propagandas de aparelhos de medidas, alguns caríssimos, milionários O raciocínio anterior não deixa de valer para o caso, mas há uma diferença.

O uso, ou não, de determinado aparelho pode influenciar a direção das pesquisas, seus rumos, e até, indiretamente, seus resultados. Mas o uso de determinado aparelho não induz nenhuma tendência nos resultados da pesquisa. A tendenciosidade no estudo da eficácia de um medicamento pode interferir na receptividade do artigo, do produto final da pesquisa. O cientista sabe de antemão que resultado agradará o editor. O uso de determinado aparelho de medida, por outro lado, não tem influência direta nos resultados. Pode ser "agradável", "simpático" utilizar aparelhos encontrados entre a publicidade da revista, mas os resultados obtidos não serão destorcidos por essa prática. O resultado da análise de um remédio, no entanto, terá forte influência no humor dos patrocinadores, aquelas tao simpáticas criaturas.

Essa, entre outras razões, faz com que a área médica seja talvez a mais corrupta entre todas as atividades cientificas.