Reflexões sobre o Universo

Uma criança está deitada no chão gelado ao lado da piscina. Ela observa o céu noturno e começa a contar as estrelas. Então ela percebe que as estrelas constroem certos percursos, caminhos que formam desenhos. A imaginação corre pela mente dessa criança, que começa a desenhar o que quer com as estrelas. Então, algo estranho acontece. Uma dessas estrelas parece, simplesmente, se cansar de sua posição, de seu status, e então se joga do céu, cortando o firmamento e indo em direção ao horizonte. A criança fica fascinada com isso e decide ir pesquisar nos livros e no meio mais rápido de pesquisa mundial: a internet. Por mais que a explicação seja um tanto quanto simples, a criança acha tudo esplêndido e decide continuar a pesquisar, só que dessa vez indo um pouco mais além...

O mundo atualmente conta com um pouco mais de sete bilhões de pessoas. Aproximadamente cento e seis bilhões de pessoas já passaram pela Terra, o que é um número bem maior do que a própria idade do Universo. Uma coisa comum entre todas essas pessoas, além de terem morrido, é que elas sempre buscaram, de uma maneira ou de outra, explicações para questões envolvendo o mundo natural. Estou generalizando, pois acredito que poucos não se questionam, pelo menos uma vez, sobre suas origens. Até mesmo quando observamos um álbum antigo de família, vendo fotos de parentes que nem chegaram a nos conhecer, estamos, no íntimo, buscando uma origem.

Se formos retroceder no passado de nossas origens, veremos algo interessante sobre a quantidade de gente que forma nossa família. Todos nós temos dois pais (salvo gente como eu, que é adotado), quatro avós, oito bisavós... Se continuarmos realizando esses cálculos, envolvendo potências, veremos que em um século encontramos para cada um de nós seis ancestrais. Em dois séculos, teremos trinta ancestrais. Recuando mil anos, obteremos 2.097.150 ancestrais. Recuando mais dois mil anos no passado, teremos uma quantidade de ancestrais que possui treze algarismos. Esse número de ancestrais é maior do que a quantidade de pessoas que pisaram na Terra. O que há de errado com nosso cálculo?

Como apontou Carl Sagan em seu brilhante livro “Bilhões e Bilhões”, esse resultado se torna grotesco se supusermos que cada um de nós possui parentes diferentes. Na realidade, se pararmos para pensar bem, todos nós somos primos.

Mas isso não satisfaz por completo nossa busca por origens. A biologia mostra que todos nós descendemos da mesma mulher, da mesma mãe, mas não do mesmo pai (todos somos filhos de Eva, mas não de Adão). Mas a questão da origem ainda permanece desconfortável. De onde surgiu nossos primeiros ancestrais? Talvez um ser que não habite nesse mundo chegou até aqui e deu início ao complexo processo da vida, desencadeando a evolução. Mas pode ser, também, que um ser bem mais poderoso tenha nos criado. Tenha criado nosso mundo e todo o nosso universo. Um ser tão poderoso assim não precisaria viver em nosso universo, até porque não poderia, mas estaria isolado numa espécie de outro universo e observa, de uma maneira direta ou não, a evolução do cosmos. Mas, no fundo, ainda não aceitamos por definitivo essa ideia. Então fazemos a pergunta chave: quem criou o criador?

Bom, talvez o criador não precise ser criado. Ele sempre existiu. Porém, em busca dessa resposta, nós simplesmente “encontramos” (pois na verdade criamos uma visão) inúmeros criadores diferentes, de modo que alguns são incompatíveis com outros. Qual visão se aproxima mais perto da realidade?

Nossa busca por um criador nos levou a crer que trovões são causados pelo bater de um poderoso martelo nas nuvens. Que gigantes foram criados do gelo derretido. Acreditávamos que o arco-íris nada mais era do que uma aliança entre um ser poderoso e suas criações. Fomos levados a acreditar que éramos o centro do vasto cosmos, e que tudo girava em torno de nós. Uma espécie de egocentrismo ampliado à um antropocentrismo.

Mas, e se por um lado nossa visão de mundo estivesse totalmente errada? E se, buscando respostas para nossas origens, encontrássemos outras explicações, mais favoráveis ao que observamos?

Uma resposta diferente à nossa impertinente questão foi conquistada, uma resposta que ainda não é totalmente completa (mas estamos no caminho certo), observando o céu. Encontramos explicações mais confiáveis para questões envolvendo trovões e arco-íris, questões que não necessitam de um ser superpoderoso que controla tudo (pelo menos não diretamente).

Nosso Sol é a estrela central de nosso sistema solar. Planetas, cometas, meteoritos e poeira giram em torno do Sol. Antepassados adoravam sua figura, pois acreditavam que o deus Sol era o responsável por estarmos aqui. De certo modo, eles estavam certos. Nosso planeta é o único que abriga vida em nosso sistema, pelo menos o único que temos total certeza. Nos outros planetas, as condições não são tão propícias para que a vida se desenvolva como na Terra. Nosso planeta está a cerca de 150 milhões de quilômetros do Sol, distância suficiente para manter as coisas num relativo equilíbrio por aqui. O princípio antrópico diz que, se as coisas fossem um pouco diferentes, então muito provavelmente não estaríamos aqui pensando sobre essas coisas. Da mesma maneira, se não existisse o Sol, a vida não teria se desenvolvido.

A cerca de cinco bilhões de anos atrás, nosso Sol, juntamente com todo o sistema solar, simplesmente não existia. Em seu lugar havia um enorme disco de poeira cósmica em rotação, com inúmeras partículas. O centro desse disco, mais denso, começou a atrair matéria de maneira que o mesmo começou a ficar cada vez mais compacto, acelerando sua rotação. Pense numa bailarina que está girando e então ela fecha os seus braços, de maneira que ela comece a girar cada vez mais rápido. É mais ou menos isso que ocorreu na dança cósmica que originou nosso sistema. O centro desse disco se transformou em nosso Sol. Essa foi a hipótese nebular, proposta pelo filósofo Immanuel Kant e desenvolvida pelo matemático Pierre-Simon Laplace.

Nos dias atuais, podemos observar sistemas em evolução de acordo com a hipótese nebular (o nome recorre à nebula = nuvem). Sistemas conhecidos como estrelas T-Tauri apresentam uma estrela em seu centro, ainda em formação, rodeada por um disco de poeira.

Nossa existência está intimamente ligada às estrelas. Não somente ao Sol, pois ele mantém a vida, mas, assim como nós, o Sol é fruto de algo maior. Todo o Universo encontra-se em expansão. As galáxias estão se afastando de nós, salvo Andrômeda que irá colidir com nossa Via-Láctea daqui alguns bilhões de anos. Esse afastamento é acelerado, e a velocidade de recessão supera a velocidade da luz. As galáxias não estão se expandindo, mas o espaço entre elas está aumentando. Esse aumento tende a continuar, ao menos que a quantidade de matéria no universo possua um valor crítico, de modo que retarde a expansão ou então contraia tudo para um ponto comum. Se essa ultima visão estiver correta, nosso Universo pode ter entrado em expansão e contração inúmeras vezes, o que anula a necessidade da existência de um ser com superpoderes. Mas se a expansão continuar incessantemente então nosso Universo estará fadado à uma morte lenta e fria.

De qualquer maneira, ainda buscamos compreender como chegamos até aqui (nossas origens são mais excitantes do que nossas mortes). Encontramos meios de descrever milésimos de segundos após o Big-Bang, o evento que originou a expansão. Infelizmente, não temos, ainda, um modelo que descreva como ocorreu o Big-Bang. Mas sabemos que as primeiras estrelas que surgiram possuíam uma massa muitas vezes maior que nosso Sol. Essas estrelas, formadas principalmente por hidrogênio e hélio, convertiam em seus núcleos elementos mais pesados. Devido à grande quantidade de massa dessas estrelas, as mesmas não suportavam o próprio peso e explodiam liberando uma grande quantidade de matéria e energia pelo Universo. As remanescentes dessas estrelas, as poeiras cósmicas, iriam dar origem às galáxias, estrelas, planetas e, claro, nós. Tudo o que vemos, tudo o que nos rodeia, foi forjado no núcleo de estrelas. As respostas para as questões a cerca de nossas origens estão dentro de nós (e ao redor).

Quando olhamos para uma galáxia distante vemos inúmeros pontos brilhantes. Cada um desses pontos é uma estrela. Existem bilhões de estrelas em uma galáxia (nossa Via Láctea possui uma quantidade de cerca de 200-400 bilhões), e cada uma dessas estrelas carrega consigo a probabilidade de possuir planetas. Cada planeta carrega uma probabilidade, ainda que muito pequena, de possuir vida, por mais que seja microscópica. Observando a vastidão do Universo é quase que impossível acreditar que não há vida lá fora.

Por que acreditar que somos os únicos seres com vida no Universo? Por que acreditar que estamos numa posição privilegiada? Somos privilegiados por poder fazer essas questões, mas o que garante que não estejamos errados. Pensar sobre o Universo nos leva a abandonar nosso egocentrismo e a pensar seriamente sobre a vida.

Todos tivemos a mesma origem e todos teremos, de uma maneira relativa, o mesmo fim. Por que continuamos a nos preocupar com coisas fúteis? Pensar sobre o Universo talvez seja perda de tempo, afinal, falar sobre o ultimo capítulo da novela, sobre a ultima roupa da moda, sobre o gol perdido, falar a respeito da vida alheia dos outros ou ficar perdendo tempo vendo várias pessoas dentro de uma casa fechada seja bem mais interessante do que questionar de onde viemos.

Deixamos nos levar por coisas fúteis. Vivemos como se fossemos ter outra chance de, numa vida futura, consertar as coisas (talvez até possamos ter, mas seria melhor não arriscar). Somos todos parentes, descendemos da mesma família, e simplesmente nos esquecemos disso, ou simplesmente ignoramos o assunto. Utilizamos nossa inteligência para fazer armamentos militares, para condenar, para criar diferenças, para tentar impor uma vontade em cima de outros. Nesses momentos, penso que talvez uma vida inteligente que viva em outro planeta não iria gostar de nos conhecer, ou talvez até já tenham vindo mas se sentiram desconfortáveis.

Vamos parar por um momento e simplesmente refletir. Vamos voltar a ser crianças e começar a questionar. Vamos questionar, carregando dentro de nós a mesma ingenuidade que tínhamos. Questione sobre o Universo, sobre deus, sobre o mundo... Questione sobre si mesmo. As questões abrem as portas da imaginação. Não são as respostas que nos farão sábios, mas sim as questões....

Jonathan Quartuccio
Enviado por Jonathan Quartuccio em 04/06/2013
Reeditado em 07/06/2013
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