PERÍCIA POLICIAL E A TRAGÉDIA DE VILA BRASILANDIA
 
Muito embora fui ao longo de dez anos delegado de polícia e sem falsa modéstia,a gente acaba tendo alguma experiência nessa atividade,diga-se de passagem,que a parte mais nobre e importante da instituição é a chamada perícia, em local de crime.Convém lembrar que hoje,não sei qual a razão, as Faculdades de Direito,não tem mais no “curriculum”, a cadeira de MEDICINA LEGAL, que  como aluno da Faculdade da São Francisco(USP),em Sampa,4º.ano,tive o privilégio de ter   essa disciplina a cargo do eminente  professor dr.Costa Junior, autor de notável obra sobre a matéria.Hoje,ainda,plena em atualidade e vigor de conteúdo.
Hoje os cursos de Direito,pelos exames da OAB,tem demonstrado a ineficácia de alguns cursos de Faculdades,que são “facilidades”,onde o aluno chega ao sair trocar “habeas corpus”,com “corpus Christi” e assim,nunca será um bom profissional,no vasto campo do DIREITO,que é amplo,profundo e requer estudo e dedicação permanente.  
Certa feita também como professor universitário da UNICAMP –representando a nobel instituição da qual  fiz parte,ao longo de 14 anos lecionando,estive em RECIFE,no 7º. Congresso Nacional de Criminalística,onde apresentei trabalho inédito com o título “PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DE SALAS DE NECROPSIAS ÀS CIDADES MÉDIAS E PEQUENAS”.  Vinte anos mais tarde,quando estava fora da Polícia e da UNICAMP recebi um telefonema honroso do diretor do IML de São Paulo, que dizia,que meu trabalho chegou às suas mãos,mas fragmentado e aos pedaços e pedia que mandasse todo ele na integra...Procurei no meu “baú” e encontrei o que o diretor queria e mandei pelo correio...mais tarde,recebi como resposta uma carta-ofício,que guardo até hoje,pois dizia entre outras coisas,que o tema o“honrava a MEDICINA LEGAL d País”.Aquela manifestação me emociona até hoje,vindo de quem veio!
A perícia é fundamental para o trabalho da instrução policial,o chamado “inquérito policial”. Tanto é importante,que houve,certa vez, um homicídio na porta de um bar em que foi vitima um jovem negro que tinha o cabelo da moda: “black power”.Ouvindo testemunha,após três meses do fato,todas afirmavam que a vitima havia recebido pelas costas três balaços e, o laudo médico –elaborado por facultativo de Piracicaba,onde havia a chefia da área- informava que haviam 2(duas) perfurações,no corpo da vitima.Esta chegou a ser atendida,no dia, na Santa Casa local e veio a falecer...Fomos até a Santa Casa e descobrimos que a vitima, em estado desesperador, chegou a ser radiografado na cabeça e constava um fragmento de bala dentro do crânio.Com muito esforço consegui aquela chapa e aí se descobriu,que o terceiro tiro havia sido na cabeça!! E,justamente este fragmento é que seria a “causa mortis” e não os dois outros,pelas costas,conforme informava o laudo médico.
Recorda-se aqui que os médicos legistas –pelo menos alguns- não tinham nenhuma disposição de sair de Piracicaba para trabalhar em outra cidade e esse foi um dos casos. Mal olhou o defunto,constatou duas perfurações nas costas,e,deu como encerrado seu trabalho...Por ser “black power”-não se deu a devida atenção à vitima,na perícia...O cabeça sequer foi observada...
Cioso de minha responsabilidade em apurar o certo e agir corretamente,oficiei a Piracicaba, com a radiografia da vitima na mão,dizendo que o médico havia trabalhado mal e que em tal dia seria feita a exumação,quando esse mesmo perito-médico deveria comparecer para complementar o trabalho,mal feito.
No dia esse médico voltou ao cemitério,onde estávamos mais o escrivão, com uma cara de bravo, “babando” de raiva,por ter que retornar para realizar nova necropsia,e,os coveiros –burocràticamente -já se preparavam para o mister,nada agradável.Isso não se faz todo dia!! O corpo com três ou quatro meses exala um cheiro que você nunca esquece...fica para sempre!!É mais duradouro que qualquer perfume francês,de extrema qualidade,usado entre as poderosas e homens exigentes,no meio social elevado.Requinte e poder...
Depois de mostrar a chapa, o médico mudou as feições e o auxiliar de necropsia começou a tentar localizar o projétil com pinça,pelas têmporas,cujo crânio,no interior, já se encontrava liquefeito...NÃO CONSEGUIU ACHAR NADA COM A PINÇA! Daí,sem nenhuma cerimônia,retirou a cabeça do corpo e do caixão e levou no corredor do cemitério.  Com um martelo quebrou a cabeça do defunto...Sem usar luvas apropriadas,com a mão,diretamente,vasculhou o cérebro...e,após alguns minutos levantou a mão achando o que procurávamos.Aliás,esse projétil era a verdadeira “causa mortis”.    Salvação da lavoura.
Cumprida a missão nos despedimos e o corpo ficou sob a responsabilidade dos pobres coveiros,gente que a gente nunca tem como amigo nem vizinho,mas tratam bem de todos quando se vão desta para outra dimensão.
O que queria tratar mesmo seria  essa tragédia de Sampa,da família de policiais militares mortos tragicamente, os Pesseghini,pai,mãe,avó e tia avó,mais o menor de l3 anos,Marcelo Eduardo Bovo Pessehgini, na Vila Brasilândia,Zona Norte,sem conhecer diretamente o inquérito.Julgo temerário dizer que o assassinato coletivo foi do menor e que este,necessariamente, se suicidou...porque o exame resíduo-grafotécnico das mãos do menor não apresenta sinais compatíveis para o quadro. Num suicídio,com arma de fogo,sempre,por qualquer ângulo –mão direita ou esquerda- sempre se encontram sinais de comprovam no laboratório.A pele fica impregnada de resíduos detonados...Esse caso é delicado,muito delicado,até porque não há testemunha. Quem vai dar a ultima palavra é mesmo a “perícia”- ou seja a polícia científica.ESTA NUNCA DEVE FALHAR...