ELETRO-CONVULSO-TERAPIA

ELETROCHOQUE-TERAPIA

A partir do segundo ano colegial eu já decidira fazer Medicina e me especializar em Psiquiatria, pois acreditava, como até hoje acredito, que temos que viver para sermos felizes, fazendo felizes nossos irmãos.

Ao terminar o Colegial fiz vestibular de Medicina e tive a felicidade de ter um colega cuja irmã era da Direção de um Hospital Psiquiátrico em Belo Horizonte e a convencemos, a partir do segundo ano da faculdade, a ajuda-la a cuidar da sua enfermaria e convivermos com os seus clientes, dando-lhes apoio e convivendo com mais conhecimento sobre seus diagnósticos, à medida que acompanhávamos seu atendimento pela Psiquiatra.

Ao completar o curso Médico, consegui um emprego num Hospital Psiquiátrico, como atendente capaz, embora não diplomado como especialista. Como eu era o mais recente contratado, coube a mim aprender e fazer Eletrochoque em alguns clientes, o que me trouxe muita tristeza, pois alguns que tinham vida permanente no Hospital, eram portadores de um nível mental bastante rebaixado, graças às diversas aplicações do Eletrochoque.

Isto me feria muito e com ajuda de um dos diretores do Hospital, que era técnico em eletrônica, fizemos alguns aparelhos de aplicação da Eletroconvulsoterapiarapia e mesmo usando voltagens e amperagens menores, eu não acreditava neste tratamento, como benéfico e resolvi expor isto em uma documentação científica, que inscrevi para apresentar num Congresso de Psiquiatria, onde eu me inscrevera também para fazer prova que me desse o Título de Psiquiatra.

Como meu nome (Márcio) era colocado no salão, por falta de salas menores para os da Letra M, fui lendo o trabalho e percebi que era muito frequente que alguém saísse e trouxesse mais pessoas para me ouvir.

Ao término da leitura vi que a sala aumentara bastante o número de assistentes e consequentemente as perguntas sobre minha vivência com a ECTerapia era profunda, a tal ponto que eu desaconselhava o seu uso. Levei um tempo maior que o estipulado para responder a todos, só terminando quase na hora de fazer a minha prova na Associação Brasileira de Psiquiatria para título de psiquiatra. Corri, comi um sanduiche e entrei na fila.

Ao responder qual era o meu nome, o indagador me disse que eu estava dispensado de fazer a prova, o que de início me trouxe um mal estar, pois acreditei que estava sendo impedido. Quando ele me disse que meu trabalho sobre a ECTerapia e a minha crença de que deveria ser abandonada me dera o título, fiquei atônito e depois muita alegre.

Iniciei a partir daí a fazer uso de alguns medicamentos que vinha surgindo e descobri pessoalmente que os neurolépticos poderiam substituir aquela prática, nunca mais a usando.

Vejo contudo que muitos psiquiatras ainda creem neste tratamento, que sinto como danoso e vi propagando na Revista Veja recente de que um Hospital Psiquiátrico, próximo a Araras - Sp, onde tenho consultório e evito internações, mostrava a sua equipe aplicando choques em pacientes, ignorando minha tese, onde os Hospitais mundiais me cumprimentaram à época do meu trabalho, abandonando também esta prática não terapêutica, muito danosa.

Minha glória é sentir que nunca mais usei tal “tratamento” e as abordagens com neurolépticos e carinho, me tiraram de hospitais Psiquiátricos e tenho resultados melhores, embora casos existam em que tenho que reforçar e conjugar medicamentos, para obter melhores tratamentos.

Não me julgo um MESTRE e creio que ainda falta muito para obtermos curas. Por esta razão não me julgo um sábio, mas jamais faria maldades a quem quer que seja. Só sei que ainda me falta muito, para conseguir me sentir um médico psiquiatra melhor, mas dependo de outras descobertas que ajudem os cérebros a pensar melhor e sem tanto sofrimento.

Estou escrevendo isto, por não concordar com hospitais que ainda usem esta técnica. Leio bastante e nada sei que prove-me ser a ECTerapia um resultado adequado, mesmo que trazendo consequências graves, para calar e sossegar agitados e delirantes.

Desculpem-me os que discordam, mas me sito correto e sensível a este pensar.

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Márcio Funghi de Salles Barbosa

CREMESP 14.335

drmarcioconsigo@uol.com.br