Complexo - Transformação

INTRODUÇÃO

Nosso interesse pelos sonhos e sua interpretação nos levou à necessidade de entrar em contato com os fundamentos da psicologia junguiana.

Depois de organizarmos os artigos que exploravam esses fundamentos, entendemos que deveríamos explorar um pouco mais sobre complexos. Isso devido ao fato de, nesse nosso esforço, constatamos ser o entendimento da linguagem simbólica dos sonhos, um bom caminho para se trabalhar o reconhecimento dos complexos na vida inconsciente.

Reforça esse entendimento, o que Jung dizia sobre sonhos e complexos: “Não me interesso por saber os complexos de meus pacientes. Quero saber o que os sonhos têm a dizer sobre os complexos, e não quais são eles. Quero saber o que o Inconsciente de um homem está fazendo com os seus complexos. Eis o que decifro num Sonho”.

A preocupação do artigo anterior foi abordar origem, significado, características e as manifestações dos complexos. Nesse nos limitaremos a organizar as informações pesquisadas sobre a relação entre o Ego e os complexos, ou seja, a possibilidade de transformação.

CONCEITOS RELEVANTES

Complexo Ideo-afetivo

É grupamento de representações mentais, mantidas juntas por emoção. Os complexos se organizam a partir de experiências emocionais significativas do indivíduo.

Constelação

É fenômeno indicador de complexos e consiste em fortes reações emocionais a pessoas ou situações, devidas aos estímulos, inclusive as palavras fortes escolhidas nos testes de associação, tocarem conteúdos emocionalmente perturbadores. Esse fenômeno, então, refere-se ao chamado Complexo Constelado.

Complexo não constelado é Complexo inconsciente que não pode passar pelo processo de mudança. Portanto, justamente o fato de o Complexo estar constelado representa possibilidade de conscientização, de transformação.

Sob Constelação, o indivíduo é tomado pela força do Complexo, o que equivale ao fato de que a energia psíquica, nesse momento, migrou para o Inconsciente e, portanto, deixou a consciência privada de ação de suas funções como: a vontade; a memória; a atenção; a percepção; o pensamento.

Individuação

É o objetivo da vida psíquica que se realiza como processo, para encontrar seu próprio centro, a unicidade, o retorno do Ego às suas origens.

Desejo de Individuação

Espécie de instinto profundo de o Inconsciente voltado à totalidade, à personalidade única em nós. Instinto fundamental da vida, que atua sobre o homem e o impele a procurar a totalidade e a perfeição. Desejo de tornar-se pessoa indivisa, única.

Processo de Individuação

É o eixo da psicologia Junguiana. É através dele que a pessoa vai se conhecendo, retirando suas máscaras, abandonando as projeções lançadas anteriormente no mundo externo e integrando-as a si mesmo. É um processo árduo e direcionado a novo centro psíquico, o Self, ou Si-Mesmo.

“Self”, ou Si-mesmo

É o centro ordenador e regulador da psique, da personalidade. É o Núcleo Arquetípico do complexo egóico, Ego. É o arquétipo da totalidade e vivenciado como um poder transpessoal.

Para Jung: “Self representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo o que pertence a uma vida individual, figure ali, exatamente, com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece, quer não.”

ESTADOS DO EGO

Didaticamente, classifica-se em quatro os estados do Ego em relação aos complexos

I) Estado de inconsciência;

II) Estado de sujeição por identidade;

III) Estado de projeção inconsciente; e

IV) Estado de vigilância e transformação

Estado de Inconsciência

Esse estado ocorre devido ao fato de o Complexo não ter energia suficiente para manifestar-se, ou seja, ainda não atingiu um estado constelado.

Não somos capazes de perceber o impulso que nos leva a reagir de maneira mecânica e estereotipada aos estímulos internos ou externos. Inconscientes de nós mesmos, podemos perceber o sofrimento apenas como uma forma vaga de desconforto, talvez não tão perturbador que nos faça sentir necessidade de ajuda.

Mudança para que? O Complexo não está psiquicamente carregado e as atitudes decorrentes revelam-se nos atos falhos, nas gafes de memória, nos hábitos e pequenos sintomas.

Estado de Sujeição por Identidade

Estado considerado perigoso, porque a força dos conteúdos inconscientes dos complexos pode tomar tal proporção a ponto de confundir, sabotar e fragmentar o Ego.

É estado de identificação do Ego com o Complexo, ainda inconsciente. É o momento de grande sofrimento. O sujeito vê-se, agora, envolvido pelas manifestações autônomas do Complexo. O Ego está idêntico ao Complexo e invadido e tomado por ele.

O Complexo já é capaz de mobilizar considerável carga de energia psíquica. As reações emocionais são exageradas, manifestadas por mecanismos como compulsão e possessão. Não há liberdade de escolha, simplesmente experimenta-se a afirmação de Jung: “não possuímos um complexo, é ele que nos possuí”.

Estado de Projeção Inconsciente

Estado, apesar de, ainda, inconsciente, com manifestações regidas por mais um mecanismo, a projeção.

Todo material da psique do qual ainda não temos consciência, conteúdo subjetivo se manifesta projetado em algo externo, num deslocamento que ocorre de maneira não intencional, sem ser percebido, inconsciente.

Embora, as atitudes ainda sejam inconscientes, algo das profundezas já foi lançado para o exterior, em alguém ou em um objeto e se tornou, portanto, visível.

A projeção da carga de energia psíquica pode, em alguma medida, manter afastado o desconforto de certos conteúdos perturbadores, mas não deixa de causar sofrimento tanto na pessoa que projeta, como na pessoa que recebe a projeção.

Estado de Vigilância e Transformação

Esse estado do Ego, normalmente, tem início ao tornar-se consciente de alguns resultados desagradáveis na vida: sintomas perturbadores insuportáveis, repetição de conflitos nos relacionamentos... Ou seja, são as consequências desses três estados anteriores de Identidade do Ego com os complexos, que nos levam a duvidar daquela postura de “vítima”, o “único com passo e compasso certo”.

Não é possível transformar o Complexo enquanto não temos consciência dele, todavia, é a atitude do Ego em relação ao Complexo, que vai possibilitar ou não a sua dissolução.

Dito isto, fica mais do que clara a importância de estado de vigilância dos pensamentos, emoções e das ações impulsivas, compulsivas, possessivas... Sem essa preocupação, essa postura de observar-se, tal como colocássemos um vigilante em posição capaz de desempenhar esse papel para nós.

A transformação de um Complexo tem seu começo através da atenção que é dada às suas manifestações. Gradativamente, começamos a reconhecer aquilo que nos perturba, quando um Complexo é constelado.

Desenvolver a capacidade de discernir e delimitar os aspectos conscientes dos inconscientes é sempre difícil, porque revela os conflitos que desejamos ocultar.

Maior capacidade de simbolizar, de encontrar significados nas nossas experiências é perceber e fazer a conexão entre a realidade invisível por trás dessa dimensão visível.

Para que a transformação ocorra é necessário atingir o Núcleo Arquetípico do Complexo, que não está na camada do inconsciente pessoal. Reconhece–se bem quando não atingimos esse estágio, pois os efeitos não cessam.

O Complexo ainda se manifesta, embora já o conheçamos bem. Estamos mais aliviados do seu movimentar autônomo. Menos brigas e confusões devido a eles. Mas, ainda não vivemos de fato esta mudança de forma encarnada.

O Ego precisa corporificar a consciência do Si-mesmo, perceber a realidade psíquica da alma.

O Núcleo do Complexo foi atingido pela consciência dos limites do Ego. Adquirimos consciência de que o Ego não é o centro da totalidade, mas um produto dela, desse algo novo que não foi criado, mas encontrado, o Si-mesmo.

CONCLUSÃO

Acreditamos que com este artigo e o anterior, conseguimos entender a importância de transformarmos os complexos, de os dissolvermos.

Com essa série de artigos, sobre os fundamentos da psicologia junguiana e sobre os complexos, entendemos que a transformação dos complexos é quase a totalidade do Processo de Individuação, processo árduo pelo qual conhecemo-nos, retiramos as máscaras, abandonamos as projeções e caminhamos para um novo centro psíquico, o Self, ou o Si-mesmo.

FONTES:

Livros:

Jung e a Interpretação dos Sonhos - James A. Hall; e

Sonhos e a Cura da Alma - John A. Sandford

Trabalho

Especialização em Psicologia Analítica pela Universidade Católica do Paraná - ELAIDE LABONDE

Artigos

A teoria dos complexos de C. G. Jung aplicados ao estudo da cultura –

Walter Boechat

ENDEREÇOS RELACIONADOS

FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA JUNGUIANA (Psicologia; Psique; e Estruturas Gerais)

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O QUE SÃO OS SONHOS

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COMPLEXO – SIGNIFICADO, CARACTERÍSTICAS E MANIFESTAÇÕES

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J Coelho
Enviado por J Coelho em 30/01/2023
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