Interpretação de Sonhos - Significado

INTRODUÇÃO

Devido sua extensão dividir-se-á o conteúdo em alguns artigos. Este tratará exclusivamente, de: o significado de interpretação dos sonhos.

Sobre o itinerário civilizatório, tem-se como entendimento: apesar de todas as diretrizes trazidas por seres, considerados iluminados, ou encarnações divinas; apesar de todos grandes pensadores e filósofos discorrerem sobre sistemas políticos, econômicos, educacionais bem como ética e moral; apesar de gênios das artes legarem obras capazes de tocar fundo mentes e corações... Pois bem, apesar de todo esse legado, voltado para o bem, à bondade, à beleza, a paz; à preservação da natureza, ao amor, à justiça; apesar de todo o desenvolvimento científico e tecnológico; não conseguimos alterar ciclos de construção e quedas de impérios, todos caracterizados pela opressão, concentração, centralização, materializado em constante estado de guerras, sociedades violentas, presença constante de predação à natureza, fome, miséria, doenças, epidemias...

Completa esse entendimento: esse desvio, entre as diretrizes, os pensamentos, as ideologias e a prática, resultou na construção de ciclos com permanente estado selvagem de consciência da humanidade. Somente a evolução a um estado de homem desenvolvido, um pouco mais próximo de a Idealização do Mistério Criador, romperia a mesmice desses ciclos.

A psicologia, por estudar a alma humana, pretende, assim como a religião (religar o humano ao divino) e a ciência iniciática das idades (escolas iniciáticas) entre outros: conscientizar o indivíduo desse estado de consciência selvagem. Ter essa consciência, possibilita o projetar de trilh,a para essa construtiva mudança.

Por ser, por enquanto, a psicologia analítica de Jung a que mais se aproxima do religar-se ao divino da religião e na transformação de vida energia em vida consciência das escolas iniciáticas; e por ser, dentro dessa psicologia junguiana, a interpretação dos sonhos ferramenta para esse caminhar evolutivo, nos propusemos a estudar, organizar e compartilhar essa série de artigos sobre sonhos.

Antes de entrarmos no desenvolvimento sobre o significado de “interpretação de sonhos”, apesar de não ser suficiente, vamos rever alguns conceitos julgados necessários e relevantes abordados nos artigos anteriores.

CONCEITOS RELEVANTES

PSICOLOGIA E PSIQUE

Psicologia é o estudo da Psique, que se refere a tudo o que é formado pelos fenômenos inerentes à mente humana. Sentimentos, pensamentos e percepções se desenvolvem na Psique, que permitem que o ser humano se relacione e se adapte, por meio de processos.

DIVISÃO BÁSICA E ESTRUTURAÇÃO DA PSIQUE

Basicamente, divide-se a Psique em: Consciente e Inconsciente.

Consciência Pessoal (Consciência) – corresponde à percepção consciente ordinária;

Inconsciente Pessoal – exclusivo de psique individual, mas não consciente;

Inconsciente Coletivo, ou Psique Objetiva – possui estrutura aparentemente universal na humanidade.

Dentro dessa divisão básica existem: Estruturas Gerais e Estruturas Especializadas.

As Estruturas Gerais são de dois tipos: Imagens Arquetípicas e Complexos

As Estruturas Especializadas são quatro: Duas de Identidade - Ego; Sombra; e duas de Relacionamento – Persona e Sizígia, grupamento pareado de Animus/Anima.

Imagens Arquetípicas

É o conteúdo básico de o Inconsciente Coletivo, ou Psique Objetiva. São imagens profundas e fundamentais que se formam pela ação dos Arquétipos, sobre a experiência que vai se acumulando na Psique Individual.

Tais imagens arquetípicas são “imagens primordiais”. São peculiares à espécie e se, alguma vez, foram “criadas”, sua criação coincide, no mínimo, com o início da espécie.

Complexo

Grupamentos de imagens afins, do conteúdo do Inconsciente Individual, que se conservam juntas por um tom emocional comum. O agrupamento se dá em torno de certo tema gerador desse tom emocional. Por exemplo, se o tema for mãe, complexo materno.

Dispõe de grau relativamente alto de autonomia. Isto é, está muito pouco sujeito às disposições da consciência e, por isso, comporta-se na esfera do Consciente como um “corpus alienum” cheio de vida.

Ego

é o centro do campo do Consciente, a parte da Psique onde nossa consciência reside, o nosso sentido de identidade e existência. O Ego seleciona e organiza nossos pensamentos, sentimentos, sentidos, e intuição, e regula o acesso à memória.

Inconsciente

O Inconsciente existe “a priori”. É preexistente ao Consciente e traz muitos conteúdos herdados dos ancestrais.

Não sabemos o que é realmente o Inconsciente, mas conhecemos suas manifestações: sonhos; visões; padrões de comportamento; afetos; mitos; contos de fadas; e as consideradas doenças psíquicas.

Inconsciente Pessoal, ou individual

Vizinho ao Consciente, constituído pelos elementos da história de nossa vida pessoal: conteúdos reprimidos; percepções subliminares; conteúdos de memória desnecessários; e complexos.

Inconsciente Coletivo, ou Psique Objetiva

É a camada do Inconsciente onde todos os humanos são iguais. Diferente do Inconsciente Individual, que depende das experiências de cada indivíduo, o Coletivo é a camada mais profunda da Psique e constitui-se dos materiais que foram herdados da humanidade: padrões de vida, símbolos, imagens que fazem parte de nossa natureza psíquica – os Arquétipos.

Si-mesmo, ou Self

É o centro de toda a personalidade. Dele emana todo o potencial energético de que a Psique dispõe. É o ordenador dos processos psíquicos.

É o principal Arquétipo do Inconsciente Coletivo, o arquétipo da ordem, da organização e da unificação; atrai a si e harmoniza os demais arquétipos. Confere à personalidade um sentido de unidade.

Individuação

É a busca da unicidade. É a Psique indo ao encontro de seu centro. É a volta do Ego as suas origens.

No Inconsciente existe espécie de instinto profundo de totalidade, de personalidade única em nós; instinto que atua sobre o homem e o impele a procurar a totalidade e a perfeição – Desejo de Individuação.

O Processo de Individuação

Processo de vida real em que tentamos consciente e deliberadamente compreender e desenvolver as potencialidades individuais inatas de nossa Psique. É através dele que a pessoa vai se conhecendo, retirando suas máscaras, abandonando as projeções lançadas anteriormente no mundo externo e integrando-as a si mesmo. É um processo árduo e direcionado a novo centro psíquico, o Self, ou Si-Mesmo.

ARQUÉTIPOS E SÍMBOLOS

São importantes conceitos junguianos e estão intimamente ligados. Os símbolos são as manifestações exteriores dos arquétipos. Os arquétipos só podem-se expressar através dos símbolos, em razão de se encontrarem velados profundamente no Inconsciente Coletivo

SONHOS

Os Sonhos originam-se em outra dimensão de nossa personalidade, chamada Inconsciente e expressam-se por meio de linguagem simbólica;

Os Sonhos retratam nossas vidas como se cada um de nós constituísse experimento único e como se, de nosso próprio interior, estivéssemos nos observando constantemente, para vermos se o experimento, que se está realizando, obtém sucesso ou malogro.

Os Sonhos contêm um propósito, estão a serviço do Processo de Individuação. Atrás dessa experiência pessoal, existe ação intencional inteligente. É como se fossem elaborados por centro em nosso interior e objetivassem compreender o que está fora de nossa consciência.

Cada Sonho se constitui de experiência pessoal, na qual nos é revelada parcela de conhecimento, que nos torna mais conscientes e desenvolvidos.

Sem riscos de erros e exageros, afirma-se que os Sonhos, se incorporadas suas mensagens simbólicas, podem funcionar como espécie de psicoterapeuta que, em atividade natural e espontânea, tenta conduzir a pessoa para o Processo de Individuação.

EGO VÍGIL E EGO ONÍRICO

Devido ao Ego, quando estamos em vigília, ter características distintas do Ego, quando estamos sonhando, usam-se as expressões Ego Vígil e Ego Onírico, para caracterizar essa diferença.

O Ego Vígil é o responsável por tudo que é feito em nome da Psique e, inclusive, está sujeito a prestar contas à sociedade.

Todas as tarefas nos Sonhos não são escolhidas, são dadas e, tal como na realidade cotidiana possui realidade, que se localiza fora do Ego.

O Ego Onírico pode ser considerado parte do Ego Vígil, tal como se o Ego Vígil fosse o Presidente de uma instituição, o Ego Onírico seria sua Assessoria. Assim, as ações ou omissões dessa assessoria, o Ego Onírico, podem afetar o mundo do Ego Vígil.

As ações, que resultam em mudanças estruturais no mundo onírico, podem afetar o mundo do Ego Vígil. Essa herança de ações oníricas de mudanças estruturais pode ser vivenciada em alterações nos estados emocionais do Ego Vígil: alívio da depressão, declínio ou aumento da ansiedade, sentimento de decisão certa...

A atividade do Ego Onírico, no mundo dos sonhos, é extensão do mesmo Processo de Individuação, que constitui a mais profunda tarefa do mundo vígil. Assim, a relação do Ego Onírico com o Ego Vígil é vista, portanto, como uma interação profundamente útil para a evolução e realização individual.

Esse diálogo entre o Ego Vígil e o Sonho mediado pelo Ego Onírico, é parte do mais amplo diálogo entre o Ego e o Si-mesmo.

TIPOS DE SIGNIFICADOS PARA SONHOS

Segundo a experiência de Jung, identificou quatro tipos de significados para os sonhos:

- O Sonho representa a reação inconsciente frente a uma situação consciente.

Determinada situação consciente ocorrida, que deixou certa impressão, é seguida por uma reação do inconsciente na forma de um Sonho, trazendo conteúdos compensatórios ou complementares da impressão obtida.

- O Sonho representa situação fruto de conflito entre consciência e Inconsciente.

Nesse caso, não existe uma situação consciente que pode, em maior ou menor grau, ser responsabilizada pelo mesmo, e sim, lidamos aqui com certa espontaneidade do Inconsciente. O Inconsciente, de forma espontânea, acrescenta a uma determinada situação consciente uma outra situação, a qual difere de tal modo da situação consciente, que se forma um conflito entre ambas.

- O Sonho representa a tendência do Inconsciente para modificar uma atitude consciente.

Nesse caso, a posição modificadora assumida pelo Inconsciente é mais forte do que a posição consciente: o sonho representa um declive que se origina no Inconsciente e vai em direção à consciência.

- O Sonho representa processos inconscientes que não evidenciam uma relação com a situação consciente.

Jung assim os caracterizou: Sonhos dessa espécie são muito peculiares e, devido ao seu caráter estranho, não podem ser interpretados facilmente. O sonhador se admira tanto por sonhar algo assim, pois nem mesmo uma relação condicional pode ser estabelecida.

Trata-se de um produto espontâneo do Inconsciente. São sonhos imponentes. Sonhos que os primitivos designam de “sonhos grandes”. São de natureza oracular, “somnia a deo missa” (sonhos enviados por Deus). São experimentados como uma iluminação.

O QUE É INTERPRETAÇÃO DE SONHOS

É espécie de atividade tradutora da linguagem simbólica em que os Sonhos se expressam. Quando sonhamos, aquele pensamento, ou sentimento que expressaríamos com palavras e que nosso Ego Vígil está bem familiarizado, passa a ser expressos por meio de símbolos.

Quando sonhamos, aquele pensamento sobre a qual a mente consciente exercia controle, agora está sendo controlado pela mente interior subconsciente, que não mais usa apenas palavras, mas também imagens, experiências e emoções expressas por meio de linguagem simbólica, por metáforas. Para entender o significado do sonho, precisamos nos agarrar tanto quanto possível às suas imagens, por representarem comunicações contínuas que traduzem a realidade dos nossos processos inconscientes

Interpretar Sonhos é traduzir essa linguagem simbólica, é entender as metáforas enviadas pelo Inconsciente. Pela afirmativa de Jung: são os Complexos responsáveis, os promovedores dos Sonhos, então em última análise interpretar Sonhos é tomar conhecimento dos Complexos.

Interpretar os Sonhos é utilizá-los como ferramenta de autoconhecimento e, para tal, compreender sua linguagem simbólica, suas metáforas. É aproveitá-los como sessões de psicoterapia naturais e espontâneas, que tentam nos conduzir e nos encaminhar para o Processo de Individuação.

OBSERVAÇÕES FINAIS

As imagens dos Sonhos: personificações; cenas; e objetos inanimados refletem a estrutura de complexos psicológicos no Inconsciente Pessoal. Esses complexos se assentam todos no Inconsciente Coletivo – Psique Objetiva, em núcleos arquetípicos e estão submetidos à força centralizadora e individuante do Si-mesmo ou arquétipo central.

Esses complexos objetivados e representados simbolicamente em Sonhos refletem a atividade autônoma do Si-mesmo, em relação ao Ego Vígil e ao Ego Onírico.

Assim, é possível distinguir, mesmo que tenuamente, o que o Si-mesmo está fazendo com o Ego e outros conteúdos da Psique. Todas essas informações podem ser usadas dum modo “Não Interpretativo”.

FONTES

LIVROS:

Por que sonhei com isso? – Lauri Quinn Loewenberg;

Os sonhos e a cura da alma - John A. Sandford; e

Jung e a interpretação dos sonhos - James A. Hall.

SITES:

psicologiamsn.com; e

sobresp.com.br

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FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA JUNGUIANA (Psicologia; Psique; e Estruturas Gerais)

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FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA JUNGUIANA – ESTRUTURAS ESPECIALIZADAS

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FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA JUNGUIANA – INCONSCIENTE, SI MESMO E INDIVIDUAÇÃO

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O QUE SÃO OS SONHOS

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COMPLEXO – SIGNIFICADO, CARACTERÍSTICAS E MANIFESTAÇÕES

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J Coelho
Enviado por J Coelho em 28/03/2023
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