Yuval Harari sugere jogos virtuais para combater o tédio

Jogos e entretenimentos virtuais são a esperança do combate ao tédio do ser humano no futuro

por Márcio de Ávila Rodrigues

[16/08/2023]

Dia desses, eu estava observando o comportamento de uma cuidadora de idosos, pessoa bem simples, quando estava se distraindo enormemente com o conteúdo de seu celular/smartphone.

Ria desbragadamente de vídeos, certamente de conteúdos humorísticos. E assim contornava o tédio do seu trabalho.

Mas, pelo menos, ela tem um emprego. Tem melhor sorte do que milhões de brasileiros/as que, como ela, são pouco letrados e não possuem qualificação técnica ou profissional que lhes garantam postos de trabalho permanentes ou, no mínimo, frequentes.

Contudo, uma coisa é certa, e não é necessário ser um futurólogo/a para perceber: o avanço da tecnologia vai aumentar, exponencialmente, o número de pessoas que não conseguem um posto de trabalho ou uma atividade profissional.

Detectei, nas décadas de 1970 e 80, um sentimento de pessimismo difuso na humanidade, causado por vários motivos, como o medo das guerras, o crescimento descontrolado da população e a poluição industrial. Havia um clima até de alarmismo e as previsões sobre a falta de alimentos e de moradias eram tenebrosas, catastróficas.

Esse sentimento pessimista certamente se reduziu na atualidade. Obviamente estou emitindo uma opinião subjetiva, pois estudos sobre algo tão etéreo tendem a ser pouco confiáveis.

Ainda no meu conceito, o primeiro fator que reduziu o antigo pessimismo generalizado foi a disposição, nos anos 1980, das autoridades soviéticas em atenuar a “guerra fria". O líder Mikhail Gorbachov perdeu o poder, mas ficou bem posicionado na História.

Outro fator antipessimismo foi o acentuado avanço na capacidade de produzir e transportar alimentos. A obesidade tornou-se um problema igual ou maior do que a fome na saúde mundial.

O velho medo da falta de moradias também arrefeceu, pois o poder público mostrou capacidade de criar moradias populares em larga escala. Mas a má distribuição da população nas grandes metrópoles permanece, pois os mais pobres não querem se afastar das áreas centrais. Eles querem ficar perto das fontes de dinheiro.

A cuidadora de idosos citada na abertura mora no grande aglomerado popular do bairro da Serra, em Belo Horizonte. Mas não tem saudades da vida dura e sofrida em sua infância carente, numa cidadezinha longínqua da divisa entre Minas Gerais e Bahia.

Outra cuidadora que trabalha junto com ela mora na cidade de Betim, a quase 50 quilômetros do local de trabalho. Perde horas no transporte e certamente se cansa muito. Mas a sociedade não oferece boas alternativas para ela e para quem mais está na mesma limitação da pouca qualificação.

Recentemente li um interessante artigo (escrito em 2018) do badalado escritor e historiador Yuval Noah Harari, que analisa exatamente a questão da ocupação das pessoas (quanto ao uso do tempo disponível, o tempo que sobra) em um futuro com poucos empregos formais.

No texto, ele não se detém muito na questão da subsistência humana, pois acredita que os governos resolverão com uma distribuição de renda básica. Ele se debruça mais na questão da ocupação do tempo livre, e aponta o entretenimento como a solução. Ele se refere ao entretenimento via internet, computadores ou celulares, e destaca os jogos virtuais.

Para mim está claro que os avanços tecnológicos não serão capazes de produzir suficientes postos de trabalho e a solução apontada é uma possibilidade real, principalmente pela capacidade intelectual do autor. Então é fundamental que a tecnologia crie alternativas para que as pessoas se distraiam e combatam o ócio.

Como se dizia antigamente, e certamente com toda a razão, a mente vazia é a oficina do diabo.

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.