Técnicos em eletrônica estão desaparecendo do mercado

A indústria eletrônica avança e as vagas para a área de manutenção encolhem. Uma ambiguidade.

por Márcio de Ávila Rodrigues

[11/10/2023]

Umas duas décadas atrás, ou pouco menos, eu tinha um sobrinho que estava muito indeciso sobre qual seria a sua opção profissional para a vida adulta. Uma dúvida compreensível, comum à maioria absoluta dos adolescentes.

Como ele estava em uma fase de pouco interesse nos estudos e tinha habilidade para consertos de equipamentos, sugeri que fizesse um curso técnico na área de eletrônica.

Pareceu-me algo totalmente compatível com a realidade daquele momento - virada dos séculos 20/21. A indústria lançava novos e cada vez mais avançados produtos eletrônicos de uso doméstico, principalmente nas áreas de áudio e vídeo. Supus que haveria um aumento proporcional da demanda na área de manutenção.

Felizmente meu sobrinho melhorou o seu foco nos estudos e optou pela engenharia civil, onde já conseguiu fixar sua vida profissional.

E eu fui um mau conselheiro. A eletrônica, de fato, aumentou exponencialmente a sua participação na economia e nos equipamentos de uso doméstico, mas a manutenção regrediu, teve uma trajetória inversa.

Posso levantar facilmente várias hipóteses para o fenômeno. Um deles é o menor desgaste de peças isoladas, diferentemente das antigas válvulas e transistores que se desgastavam continuamente. A voltagem utilizada e o calor gerado eram os fatores negativos, de stress físico.

Outra hipótese é a aglomeração de peças isoladas em placas conjuntas. O ponto exato de defeito em uma placa tornou-se desimportante, pois a troca é do conjunto. O custo é maior, mas não há como evitá-lo.

Ademais a indústria, de um modo geral, incentivou a filosofia do descarte. Produtos mais fracos e de menor durabilidade que os antigos baixam o custo e incentivam um aumento quantitativo na produção. Um formato praticamente criado pela indústria japonesa no pós-guerra e sucedido pela indústria chinesa.

A indústria holandesa Philips, em algum momento e algumas estatísticas, chegou a ser considerada a maior do mundo no segmento eletroeletrônico, cerca de meio século atrás. Mas sentiu as mudanças da tecnologia e só não desapareceu pela força de seu nome e pela adaptação a um mercado mais reduzido.

Esta velha propaganda ilustra minhas lembranças e considerações. Mas a dica educacional da Philips também não foi boa: o mercado dos engenheiros eletrônicos se reduziu e perdeu a maior parte da função da manutenção em nível doméstico.

Sobre o autor:

Márcio de Ávila Rodrigues nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil, em 1954. Sua primeira formação universitária foi a medicina-veterinária, tendo se especializado no tratamento e treinamento de cavalos de corrida. Também atuou na área administrativa do turfe, principalmente como diretor de corridas do Jockey Club de Minas Gerais, e posteriormente seu presidente (a partir de 2018).

Começou a atuar no jornalismo aos 17 anos, assinando uma coluna sobre turfe no extinto Jornal de Minas (Belo Horizonte), onde também foi editor de esportes (exceto futebol). Também trabalhou na sucursal mineira do jornal O Globo.

Possui uma segunda formação universitária, em comunicação social, habilitação para jornalismo, também pela Universidade Federal de Minas Gerais, e atuou no setor de assessoria de imprensa.