SOBRE O FILME HER
                                       
                                    Quem é ELA?
 
                          “Você aceita este computador como sua marida? 
                         -simmmm! 
           -então conectem seus fios e corpos e sejam felizes para                          sempre”. (Lênin, meu neto).

     Pensando sobre o filme HER de Spike Jonze, 2013), em que um homem se apaixona pelo programa de um computador feminilizado, voz de Scarlett Johansson, , observo que vivemos uma nova era do amor cortês, a era em que a mulher, a donzela, todas as Beatriz (es), como sempre a mulher, a mulher usada como catalisador de gozo, é tomada como objeto para libidinizar a máquina, erotizar este corpo morto ao qual o homem, o Cellman, deve se debruçar ideologizado para amar. A máquina é esta nova mulher a ser catexizada para dar acesso a uma promessa de plenitude que nos fará, com toda a certeza, tropeçar. De fato, o que quer o discurso capitalista, é nos colocar a sós, nos i(so)lar para nos li(qui)dificar, para impor uma biopolítica em que, enfim, reduzidos ao nosso próprio corpo, nos comportemos e produzamos sempre de acordo com o ritmo, a meta, a humanização, o lucro, o excesso...Determinado num Todo, este homem não será parte de um coletivo, mas uma peça em uma revoada, em um grupo de pertencimento calculado por uma estratégia organizada, administrada, enfim, racionalizada para funcionar automaticamente numa ligação com o outro na qual o saber sobre o outro, estar com o outro, não exista mais que uma referência da distância apropriada para a manutenção do espaço que se deve tomar para funcionar e se manter só. O outro aqui não é mais que a mera referência que se deve exercitar para explicitar a produção e o controle. Fora disto o outro não existe. Lacan chama a este homem isolado e desamparado de proletário. Em curso já em nossas instituições hierarquizadas, esta redistribuição dos corpos pelos espaços nos confronta com a nossa mais intima perspectiva: existir, amar. Que frente fazer sob as asas deste imperativo que se abre organicamente sobre nós?
28/06/2015