Drama anunciado (publicado originalmente em 11/2/23)

Dos 10 filmes dirigidos por Bob Rafelson, que completaria 90 anos neste mês (morreu em julho passado), Jack Nicholson esteve em 6. ‘O Destino Bate à sua Porta’ (1981) foi o 4º. A trama, baseada no livro de James Cain lançado em 1934, filmada outras vezes, em diversos país, com nomes variados, virou até ópera.

Apenas a versão cinematográfica de 1946 teve o mesmo título, comandada por Tay Garnett. Na demão de Rafelson, Nicholson é Frank, biscateiro que para no posto de gasolina do grego Nick (John Colicos), onde, após dar mais um de seus pequenos golpes, consegue trabalho e começa a paquerar a fogosa esposa do patrão, Cora (Jessica Lange – lindíssima).

O envolvimento de ambos não tarda e se desenrola a sucessão de degradações morais dos personagens, passados num ambiente ‘noir’ (a história está na década de 1930): casamento falido, falta de escrúpulo, chantagens, traições, sonhos desfeitos, arrependimentos atrasados, reviravolta e tragédia anunciada. Iludida, a jovem anseia futuro ao lado de Frank, que enxerga nela, por um tempo, somente ‘mais um caso’.

Ao também se deixar levar pela emoção-ternura, até mesmo certa piedade, o embusteiro tropeça nas próprias pernas e topa eliminar Nick com ajuda de Cora e, assim, ‘herdar’ posto e a mulher. Mas as coisas não saem como previsto e o desfecho é dilacerante.

Como em ‘Cada um Vive como Quer’ (1970), igualmente parceria Nicholson-Rafelson, dilemas dos personagens perpassam por atender ou não expectativas alheias. Esta fita é politizada, a de 81, ‘selvagem’, digamos assim. Em ‘O Destino...’ cenas tórridas de sexo entre Nicholson e Lange fizeram muita gente pensar que eram amantes na vida real, tamanha a intimidade, entrosamento.

Na época o ator estava casado com Anjelica Huston, com quem viveria até 1990 (não que ele não pulasse a cerca, mas...). Anjelica, aliás, faz ponta no filme como dona de um circo – Frank vive tem um affair com ela. No fim das contas, o caldo extraído de ‘O Destino Bate à sua Porta’ é: o crime perfeito inexiste. E o choque provocado com a última sequência nos faz pensar sobre o tempo que perdemos com banalidades. Duração: 122 minutos. Cotação: bom.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 06/02/2023
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