José, um (ainda!) desconhecido (publicado originalmente em 20/5/2023)

Exatos 5 anos atrás estreava um documentário que só vi há uns dias: ‘Bonifácio: O Fundador do Brasil’ (Ivin Films). Além de contar a trajetória de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), com prisões, exílios e falta de reconhecimento póstumo, a produção se preocupou em explorar o contexto histórico que o levou a ser quem foi – Patriarca da Independência.

Seu estupendo desempenho em variados ramos (política, literatura, arqueologia, ciência) fez dele ícone de seu tempo, que amantes da república, seus inimigos fidagais, tiveram o ‘prazer’ de escantear devido ao papel mais do que relevante em cuidar a que o Brasil tivesse definitivamente, e vivesse, o regime democrático monárquico dos 2 Pedros (do 2º foi tutor, aliás), na 1ª metade do século 19, e da transição (para pior) do sistema educacional brasileiro. A conclusão de que o brasileiro apaga o período imediatamente anterior e ‘reescreve a história’ é acertadíssimo. Deve-se a este fato, por exemplo, raras pessoas saberem quem foi não somente Bonifácio, mas os presidentes entre 1889-1930 (época igualmente deletada a partir da ‘Era Vargas’).

‘Bonifácio: O Fundador do Brasil’ teve direção do então estreante Mauro Ventura e contou com depoimentos de Bertrand de Orléans e Bragança, descendente da família imperial, Olavo de Carvalho, filósofo e escritor, Rafael Nogueira, professor e especialista na obra do focalizado, Sérgio Pachá, filólogo e lexicógrafo, Pedro Callapez, professor da Universidade de Coimbra (Portugal) e Marina Andrada, tetraneta de Bonifácio. O filme ficou conhecido por ser o de maior financiamento coletivo da história do cinema nacional – cerca de R$ 4OO mil (a marca anterior estava com ‘Jardim das Aflições’, 2016, de Josias Teófilo – R$ 35O mil).

Algumas frases das entrevistas do documentário: ‘Bonifácio foi uma espécie de síntese dos pais fundadores dos Estados Unidos – tinha a combatividade de George Washington, espírito multifacetado de Thomas Jefferson, empreendedorismo e amor pela ciência de Benjamin Franklin e erudição e temperamento difícil de John Adams’ (Nogueira); ‘Era um patriota. Isso define o destino de um homem’ (Pachá); ‘O Brasil não tem sequer uma estátua de seu fundador! É muito desprezo por si mesmo e sintoma de depressão’ (Olavo). Duração: 83 minutos. Cotação: ótimo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 22/06/2023
Código do texto: T7819526
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